postado em 16/10/2009 09:31
As duas são brasilienses. Ambas construíram sólidas carreiras no esporte, viveram as emoções olímpicas e enfrentaram dramas envolvendo casos de doping. Agora, o destino delas no mundo das competições depende da competência do escritório Tannuri/Ribeiro Advogados.
A triatleta Mariana Ohata, 30 anos, recorreu aos mesmos profissionais que, desde o início do caso da nadadora Rebeca Gusmão, em 2007, tentam provar a inocência da atleta na mais longa batalha de tribunais já travada em assuntos de doping.
A defesa de Mariana está nas mãos de André Ribeiro e Breno Tannuri. O Correio tentou ouvir os advogados ontem, mas eles se encontravam em reunião e não estavam disponíveis até o fechamento desta edição.
O caso de doping de Mariana Ohata aconteceu em 26 de junho, em Iowa, Estados Unidos, durante a Copa do Mundo. Ela foi flagrada em um exame antidoping que acusou a presença da substância furosemida, um diurético que consta na lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (Wada) porque pode mascarar ou dificultar a detecção de outras substâncias dopantes.
O Pinheiros, clube da atleta, mobilizou seu departamento jurídico à época para defender Mariana e declarou, em nota, que ela ingeriu um chá que foi distribuído aos hóspedes do hotel nos Estados Unidos e que a bebida seria a responsável pelo resultado positivo no teste antidoping.
A União Internacional de Triathlon (ITU), entretanto, não aceitou a alegação e suspendeu a triatleta por seis anos, a contar a partir de 2 de outubro.
O episódio arranhou a imagem da brasiliense, que defendeu o país em três olimpíadas (Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008). Mariana sentiu o golpe e já amarga prejuízos por ter perdido contratos de patrocínio.
O pai da triatleta, Milton Ohata, conversou com a reportagem. Ele contou que a filha chegaria ontem ao Brasil, vinda dos Estados Unidos. Mariana, entretanto, não foi localizada. Milton confirmou que ela havia contratado o mesmo escritório de Rebeca Gusmão e adiantou que Mariana não viria imediatamente para Brasília e ficaria em São Paulo para tratar de sua defesa.
Sem clube
Pouco depois do anúncio da suspensão pela ITU, Mariana perdeu o contrato com o Pinheiros, clube que defendia desde o início de 2008 e cujo vínculo terminaria em janeiro
de 2010.
Espera sem fim
Rebeca Gusmão foi apanhada em um exame antidoping realizado em 13 de julho de 2007, dia da Abertura do Pan do Rio. Em 5 de novembro do mesmo ano, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), em nota oficial, informa o resultado positivo para testosterona e então o escândalo tem início. Hoje, passados quase dois anos, o caso segue sem um desfecho. Banida do esporte pela Federação Internacional de Natação (Fina), Rebeca recorreu à Corte Arbitral do Esporte (CAS). A decisão deveria ter saído em 30 de maio deste ano, mas foi prorrogada para 30 de junho e depois novamente adiada e até agora a nadadora e seus advogados ainda esperam um fim para o caso que entrou para a história como o mais complicado já visto no esporte. "Nunca soube de uma história tão estranha e demorada como essa. Isso é inédito", afirmou o médico José Blanco Herrera, que participou de cinco olimpíadas na área de antidoping, e depôs na CAS em defesa da nadadora brasiliense.
Os dramas de Mariana
» Agosto de 2002
Um exame realizado após o Campeonato Sul-Americano detectou a presença de dietil propiol, um derivado de anfetamina na urina da triatleta.
O caso foi julgado pelo STJD e o júri acatou o argumento de que o doping não tinha sido intencional. Ela foi suspensa por 60 dias, mas já tinha cumprido a pena ao fim do julgamento e, então, foi liberada para competir logo depois.
» Junho de 2009
Mariana se envolve em um novo caso, em Iowa, nos Estados Unidos, durante a Copa do Mundo. Um exame antidoping acusa a presença de furosemida, substância proibida porque pode mascarar a detecção de outros dopantes. O Pinheiros, clube de atleta, por nota, disse que a brasiliense tomou um chá contaminado no hotel, mas a União Internacional de Triathlon (ITU) a suspendeu por 6 anos.
Risco de tiro pela culatra
O Correio ouviu dois especialistas em doping que alertaram para o fato de que, no caso de Mariana Ohata, recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CAS) pode ser uma estratégia perigosa.
O médico Eduardo De Rose, maior autoridade em doping do país e membro do quadro de especialistas do Comitê Olímpico Internacional (COI), procurou apenas se ater aos fatos. "Não posso falar do chá porque não sei o que foi que ela ingeriu. Mas temos que lembrar que a regra do doping não leva em conta se houve ou não a intenção de se ingerir determinada substância. O que vale é se há ou não a presença de substâncias proibidas no organismo".
Para ele, Mariana tem todo o direito de recorrer à CAS. "A entidade irá analisar o caso e decidir se aceita os argumentos ou não. Isso é legítimo", defendeu. "Mas o que ela tem que levar em conta é que o Código Internacional Antidoping é muito claro: em caso de reincidência, o atleta deve ser banido do esporte", alertou. Mais do que isso, De Rose deixou claro que, se recorrer à CAS, a brasiliense pode ter sua pena agravada.
"A Mariana já cumpriu pena uma vez por doping. Então, a CAS tanto pode diminuir a sentença como pode entender que a pena foi branda e aplicar o que determina o código. Aí, em vez de ser suspensa, ela seria banida pela CAS".
Outro especialista em doping, o médico José Blanco Herrera, que participou de cinco olimpíadas na área de antidoping, vai pelo mesmo caminho. "Esse risco existe. Recorrer ao CAS tanto pode ajudar como piorar. É uma aposta que os advogados e a Mariana terão que fazer".