postado em 18/10/2009 17:15
Além de serem pilotos da Brawn GP, Rubens Barrichello e Jenson Button possuem outra importante semelhança: após serem dados como acabados em seus países no final da temporada 2008 da Fórmula 1, conseguiram neste ano uma impressionante ressurreição na principal categoria do automobilismo mundial. Entretanto, o inglês se deu um pouco melhor que o brasileiro e consagrou-se com a conquista do título neste domingo, com uma etapa de antecipação.
Em Interlagos, Button conseguiu a façanha de aumentar a diferença no campeonato para 17 pontos, a despeito de ter largado no 14º lugar com o companheiro na pole position em uma disputa marcada pela confusão desde os treinos classificatórios: a chuva que castigou a capital paulista adiou por diversas vezes as atividades. Desta forma, o inglês não pode mais ser alcançado na disputa de Abu Dhabi, que servirá apenas para definir o vice-campeão, já que o alemão Sebastian Vettel (74 pontos) ultrapassou Barrichello (72 pontos).
Apontado no início de sua carreira como sucessor de Nigel Mansell e Damon Hill nas conquistas inglesas na Fórmula 1, Jenson Button jamais havia conseguido confirmar as expectativas - em nove anos na categoria, o melhor resultado que obteve foi a terceira colocação no campeonato de 2004, quando competiu pela BAR. A situação dele parecia ter piorado ainda mais com o surgimento do jovem Lewis Hamilton em 2007, respectivamente segundo colocado e campeão em suas duas primeiras temporadas.
Button começou no kart aos oito anos de idade e, devido aos bons resultados em diversas categorias, se transferiu para a Fórmula Ford em 1998. No ano seguinte, foi o terceiro colocado na Fórmula 3 Inglesa e conquistou um lugar na Fórmula 1 em 2000 após a demissão do italiano Alex Zanardi da Williams.
A oitava colocação naquele campeonato rendeu a Button uma proposta da Benetton. A troca, porém, não foi nada boa para ele, que fez uma péssima temporada em 2001, somando apenas dois pontos durante o ano.
As coisas melhoraram em 2002, quando somou 14 pontos. Isso, no entanto, não foi suficiente e o britânico acabou substituído pelo então reserva Fernando Alonso na temporada seguinte. Button, porém, encontrou uma vaga na BAR e começou a mostrar suas qualidades: foi muito consistente e fechou a temporada com uma quarta colocação no GP do Japão, o que lhe garantiu o nono posto no Mundial de Pilotos.
O inglês melhorou ainda mais em 2004 e foi o terceiro colocado na classificação geral, perdendo apenas para as fortíssimas Ferrari. Seu desempenho garantiu um espetacular vice-campeonato para a BAR no Mundial de Construtores. Fora das pistas, porém, Jenson fez lambança: com contrato assinado com a Williams para 2005, mudou de idéia e se envolveu em uma batalha jurídica para ficar em Brackley.
Antes de se garantir na Honda em 2006, teve que pagar uma quantia milionária à Williams por não ter honrado seu compromisso com o time de Grove. Na escuderia japonesa, porém, só voltaria a ter um grande momento com a vitória no GP da Hungria. Em 2007 e no ano passado, a equipe construiu um carro muito ruim e a temporada de Button resumiu-se a uma disputa interna com Rubens Barrichello.
Tantos desempenhos discretos nas últimas temporadas provocaram fortes críticas ao piloto na Inglaterra, vindas, inclusive, de Nigel Mansell. "Jenson deveria ter ganhado mais corridas. Ele teve um desempenho abaixo do esperado e isso acabou com ele. Ele teve a oportunidade e não aproveitou; agora ele não terá mais", declarou o "Leão", em 2007. Além disso, o piloto britânico teve que conviver por anos com as insinuações de que havia se tornado um "playboy", interessado apenas nos prazeres que a vida de piloto poderia lhe trazer.
A resposta veio nas pistas: após passar meses com seu futuro incerto, graças à decisão da Honda em deixar a Fórmula 1 no final do ano passado, Button ressurgiu no início de 2009 levando sua Brawn à vitória no GP da Austrália, a segunda de sua carreira. "É um conto de fadas terminar a primeira corrida desta equipe com as duas primeiras posições", comentou o piloto após a etapa em Melbourne. Criada oficialmente apenas no início de março, menos de um mês antes da abertura do campeonato, a escuderia assombrou o mundo com o desempenho espetacular de seu carro, a despeito dos poucos testes realizados em pistas e também garantiu o Mundial de Construtores com uma etapa de antecedência.
Button seguiu impecável, vencendo nada menos que seis das sete primeiras corridas da atual temporada - o melhor início de campeonato da história da categoria.
O clima de "já ganhou" então tomou conta do paddock, mas o próprio Jenson fazia questão de afastá-lo. "Não sei como alguém pode dizer que eu já sou campeão após apenas seis corridas. Com isso, vocês (jornalistas) colocam um pouco de energia negativa na questão ao dizer, quando perguntam se eu posso perdê-lo [o título], que ele já é meu. Não colocaria as coisas assim. Tenho uma vantagem maior do que os demais por estar na frente, mas tudo está em jogo e estou fazendo o melhor que eu posso. Os números não me dizem nada; vencer, sim", declarou o piloto, logo após a vitória em Mônaco.
O britânico parecia estar prevendo que tempos difíceis estavam pela frente: nas oito corridas entre as etapas da Inglaterra e de Cingapura, ele somou apenas 25 pontos de 80 possíveis, enquanto Rubinho conquistou duas vitórias. Entretanto, Button soube manter a cabeça no lugar e foi consistente para sair de São Paulo com o título nas mãos, fazendo com Hamilton uma dobradinha britânica que não se via desde o final da década de 60, quando os míticos Graham Hill e Jackie Stewart conquistaram respectivamente os títulos das temporada de 1968 e 1969.