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Alerta para os corredores

Uso de tênis inadequado e pisadas irregulares são as principais causas de um problema bastante comum a quem costuma correr: a canelite

Gustavo Ribeiro
postado em 19/10/2009 08:39
Para quem deseja abandonar o sedentarismo, a corrida muitas vezes se mostra como a porta de entrada para a prática de exercícios físicos. Afinal, parece muito simples. Basta comprar um tênis e sair correndo. Mas, como toda atividade, exige cuidados e acompanhamento de um educador físico. A sobrecarga de treinamento, a escolha do calçado errado e uma superfície muito dura podem causar danos à saúde do praticante. Entre os problemas, a Síndrome Tibial Medial, popularmente conhecida como canelite, é recorrente entre os atletas.

Trata-se de uma inflamação muscular ou óssea da tíbia, o osso da canela. Segundo o fisioterapeuta Wesley Craveiro, a canelite acomete aproximadamente 70% dos adeptos da corrida de rua. ;O número é tão alto pois é muito comum que uma pessoa que não tem assistência profissional inicie a atividade em uma carga maior do que a ideal para sua estrutura muscular ou utilize um par de tênis inadequado para a sua pisada.; Se o contato com o solo não for regular, espalhando o impacto igualmente por todo o pé, há uma sobrecarga na musculatura da canela. Se a pisada é pronada, isto é, voltada para dentro, a parte de dentro do músculo tibial é afetada.

A pronação é uma das principais causas da canelite, pois a parte posterior é muito exigida. A repetição prolongada do exercício de forma equivocada causa a inflamação. Em casos mais graves, pode resultar em uma fratura por estresse, que são microfissuras no tecido ósseo, dificilmente detectadas em um raio-X. Na maioria das vezes, é necessário um exame de cintilografia (contraste) para detectar o ponto da lesão. ;Pelo fato de a detecção desse tipo de fratura ser difícil, o atleta deve procurar o médico quando sentir dor;, alerta Craveiro. Ele comenta que a canelite provoca fortes dores durante os treinamentos, especialmente na parte final, quando o ritmo é menor.

O ortopedista e especialista em medicina do esporte, Paulo Emiliano, explica a importância da escolha do calçado. ;Hoje em dia, os tênis têm a tecnologia para compensar a disfunção na pisada. Se alguém força a parte de dentro do pé, o calçado já vem com um reforço de amortecimento para neutralizar o contato com o piso. É fundamental saber qual é a biomecânica da passada antes de começar a correr;, ensina. O ortopedista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Gustavo Veloso, ainda completa: ;Nem todo mundo pode correr. É preciso encontrar a atividade adequada para cada biotipo;.

Fortalecendo a musculatura

Viviane e a radiografia que detectou o problema nas pernasO tratamento é simples, e sua duração varia de acordo com a severidade da contusão. Consiste basicamente no reforço muscular das pernas, para que aguentem o impacto durante a corrida. Alguns atletas, entretanto, precisam parar com os treinos para a recuperação do corpo. Foi o caso da bancária Viviane Michalski, que teve canelite em ambas as pernas. As causas foram duas, basicamente: pouco preparo muscular e sobrecarga. Esportista há anos, ela começou a correr para disputar maratonas, mas exagerou na dose. Participou de duas competições em abril, em um espaço de apenas duas semanas.

A partir de então, começou a sentir fortes dores nas canelas durante os treinamentos e as provas de que participava. Ignorou o sinal que o organismo mandou, remediando apenas com compressas de gelo. ;A cada treino, a dor piorava. Era mais incisiva nos primeiros 30 minutos do treino e na parte final. Chegou ao ponto de ficar insuportável;, lembra.

O quadro de Viviane era tão avançado que as fraturas por estresse nas tíbias foram detectadas por meio do raio-X. ;Fui proibida pelo meu treinador de correr. Agora, estou fazendo musculação para preparar melhor minhas pernas para a São Silvestre;, almeja. Aos poucos, ela volta a dar suas passadas. Mas, por enquanto, só na esteira. E o ritmo bastante comedido se reflete nos tempos. Antes da lesão, completava 1km em 5 minutos, dois a menos que a marca atual.

Prevenir é melhor opção

O consultor Daniel Andrade começou a correr há três anos. Com o foco em participar de uma maratona, já iniciou treinando forte. Com pés pronadores, começou a sentir incômodos logo nos primeiros 15 dias. Assim como Viviane, continuou sem se preocupar muito. ;Foi quando a preparação ficou mais intensa que as dores aumentaram. Nos primeiros minutos era muito difícil correr;, recorda.

Mas ele não esperou a situação piorar. Tratou-se à base de fisioterapia, massagens, alongamentos e acupuntura. Além disso, procurou tênis específicos para seu tipo de pisada. ;Foi difícil me acostumar com os calçados especiais. Comecei a ter muitas bolhas. Como sou um pronador leve, intercalo os tênis com amortecimento diferenciado com os neutros;, comenta.

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