postado em 22/10/2009 17:13
Apenas duas semanas e um dia após a escolha do Rio de Janeiro para organizar as Olimpíadas de 2016, a cidade saiu do caderno de esportes dos jornais do mundo inteiro para o policial. Com um saldo de no mínimo 32 mortes, o conflito envolvendo traficantes e policiais que estourou no último sábado repercute também entre atletas como Cesar Cielo, que cobra a correção dos problemas de segurança para que o importante evento não se torne um "vexame".Um dos 15 atletas ou ex-atletas escolhidos pelo Comitê Rio-2016 para acompanhar a eleição da sede dos Jogos, realizada em 2 de outubro em Copenhague, Cielo participou nesta quinta-feira em São Paulo de uma conferência de imprensa para a divulgação de seu novo patrocinador, a marca de bebidas energéticas TNT. Embora a natação tenha sido o tema mais recorrente da entrevista, ele falou também sobre a crise de segurança carioca em conversa reservada com a reportagem da GE.Net.
A princípio, quando perguntado se a capital fluminense pode melhorar nesse sentido, o atual bicampeão mundial ficou desconcertado, indicando que o homem mais rápido das piscinas não tem como controlar a violência. Na sequência, porém, foi enfático: "Deve melhorar", cravou, receoso de que a competição não seja o sucesso previsto pelo COI (Comitê Olímpico Brasileiro): "O mundo inteiro estará olhando, e toda gafe será uma gafe. O Brasil pode sair como uma potência ou protagonizar um vexame".
Desde o último sábado, os conflitos, que começaram nas favelas de Jacarezinho e Morro dos Macacos e incluíram até a derrubada de um helicóptero da Polícia Militar, vêm ganhando repercussão no mundo todo, especialmente pela proximidade do caso com a votação na Dinamarca. Esse cenário obrigou até o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Jacques Rogge, mostrar nesta quinta confiança de que, dentro de sete anos, o país sul-americano estará preparado para impedir que tragédias assim aconteçam. "Consertos na segurança para os Jogos sempre são muito fortes", tranquilizou ele à agência Reuters.
Por ser um cidadão brasileiro como qualquer outro e também por ter contribuído, pelo menos a partir do respaldo de quem é o único nadador nacional ganhador das Olimpíadas, com a escolha do Rio de Janeiro para realizar o evento de 2016, Cielo garante que acompanhará as ações dos organizadores, grupo do qual o principal representante é Carlos Arthur Nuzman. "Apoiei os caras, votei nos caras. Agora vou cobrar", avisou.
Canto pede transformação olímpica
Também um dos mais novos patrocinados pela empresa, Flávio Canto foi outro atleta olímpico a prestigiar a coletiva em São Paulo nesta quinta. Medalhista de bronze em Atenas-2004, o judoca tem uma ligação especial com o Rio de Janeiro, onde comanda o Instituto Reação, programa social que leva o esporte a comunidades carentes. Com propriedade, portanto, ele comentou como os Jogos podem transformar um município onde 32 pessoas acabam de morrer em um conflito envolvendo policiais e traficantes.
"No Rio existem duas cidades - 20% é a da favela, que os outras pessoas mal conhecem. Eu convivo com esse lado e torço para que as Olimpíadas diminuam a diferença entre os dois mundos. E no nosso projeto já observamos que o esporte é um excelente meio de integração", avaliou Canto.
Instituto sem fins lucrativos criado em 2003, o Reação atende cerca de mil crianças e jovens de quatro a 25 anos de idade em quatro localidades diferentes: nas favelas de Cidade de Deus, Tubiacanga e Rocinha e no semi-internato comunitário Pequena Cruzada. Procurando promover a inclusão social por meio do judô, a associação já revelou a campeã mundial junior de 2008, Rafaela Silva, que também foi quinta colocada da categoria até 57 quilos no último Mundial profissional, disputado na Holanda.