Superesportes

UnB prepara novos árbitros

Curso na UnB traz modelo pioneiro na formação de árbitros de futebol, com disciplinas como nutrição esportiva e gestão de carreiras

Gustavo Ribeiro
postado em 26/10/2009 08:41
Árbitros de futebol cumprem uma tarefa inglória. Eles são alvos para todas as torcidas, independentemente das cores. Basta um único erro durante os 90 minutos de uma partida para que os homens do apito ; e as mães deles ; sejam ofendidos com xingamentos de toda sorte. Depois de um revés, é comum que algum dirigente, jogador ou técnico desfie um rosário de reclamações sobre a atuação da arbitragem. Se o juiz segue a regra com a máxima severidade possível, há quem reclame, acusando-o de inflexível e intransigente. Mesmo sendo maleável, não escapa das críticas implacáveis, pedindo mais rigor na aplicação das normas. Em suma: os árbitros sempre desagradam a alguém.

Por que, então, se expor tanto? Sandro Ricci, membro do quadro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e aspirante à relação da Federação Internacional de Futebol (Fifa), explica que no caso dele o motivo foi a paixão pela modalidade. ;Como não virei jogador, uma maneira de manter o contato com o esporte foi na figura de arbitragem;, conta. Ele revela, porém, que muitos pensam na grana. ;Isso é um equívoco. Ninguém faz pé-de-meia com essa carreira. É você mesmo quem banca a preparação física, nutricionista e, no início, até os uniformes. Durante os jogos, é o juiz quem leva a própria água, materiais de higiene pessoal, bomba para encher as bolas;, alerta Ricci.

Larissa segue os passos do pai, que apita em campeonatos amadores

Para esclarecer os mitos e preparar os interessados em assumir as bandeiras e o apito durante uma partida de futebol, a Universidade de Brasília (UnB) desenvolveu, com o aval da Federação Brasiliense de Futebol (FBF) e do Sindicato dos Árbitros do Distrito Federal, um curso de formação diferente ; não apenas sobre regras. Coordenador e idealizador do projeto, o professor da Faculdade de Educação Física da UnB, Paulo Henrique Azevedo, explica: ;A arbitragem é uma função essencialmente interpretativa. Por isso, é preciso uma preparação multidisciplinar para minimizar as chances de erros. Quanto mais provido de conhecimento o árbitro está, com mais clareza ele vai tomar decisões em campo. Não estamos formando meramente um aplicador de regras;.

As aulas, que começaram em 4 de setembro, incluem disciplinas como nutrição, gestão de carreiras, ética, normas da Fifa e justiça desportiva. A carga de 430 horas/aula supera alguns cursos tradicionais de pós-graduação.

O presidente da Comissão de Arbitragem da FBF, José René Costa Galdino, aprova o novo modelo de curso. ;É um exemplo para o mundo inteiro. As demais federações também devem se unir a instituições de renome, como a UnB, para formar árbitros melhores.;

Filha segue os passos do pai


Curso na UnB traz modelo pioneiro na formação de árbitros de futebol, com disciplinas como nutrição esportiva e gestão de carreirasLarissa Gabrielly até tentou cursar a faculdade de direito de olho nos concursos públicos. Mas não teve jeito. Logo no primeiro semestre, viu que a praia dela é mesmo o esporte. Quer ingressar, no ano que vem, na faculdade de educação física. Enquanto não chega a hora do vestibular, aproveita o curso de árbitros para continuar envolvida na paixão dela e do pai, Valdecir Ferreira, que apita em campeonatos amadores.

A garota de 17 anos quer se tornar a terceira mulher no quadro da FBF e comenta que assiste às partidas de futebol na televisão atenta às ações da arbitragem. ;Eu e meu pai sempre comentamos sobre as atuações. É bom para ficar ligada em alguns erros;, analisa a futura árbitra. Valdecir aproveita para dar alguns conselhos à filha. ;Sempre comento que é preciso calma para não tomar nenhuma decisão precipitada. Também explico como os sinais devem ser dados e os gestos corretos para as marcações.;

Ela admite que está bastante ansiosa para assumir o apito. Mas o pai, coruja, a tranquiliza e já projeta o sucesso da filha e pupila. ;Seria incrível a sensação de vê-la apitar em uma Copa do Mundo.;

Organizando a bagunça

A relação do internacionalista e doutorando em direito Daniel Carvalho com a arbitragem começou quando ele ainda era adolescente, nos jogos de bola do colégio. O futsal do recreio rolava apenas se ele comandasse a bagunça. Passou a apitar em torneios de outras escolas. Sempre gostou dessa função, mas nunca a tinha encarado como uma opção de vida. Até descobrir o novo curso de formação. ;Eu vejo o árbitro como o gestor do espetáculo. Ele não pode ter destaque, mas é o responsável por coordenar tudo que envolve uma partida;, comenta.

Entre as qualidades necessárias para o sucesso, ele destaca a firmeza. ;Sem falta de educação;, que fique claro. ;É preciso ter pulso forte. Quem é banana, sempre acaba se atrapalhando e cedendo à pressão dos torcedores e, principalmente, dos jogadores, que não param de reclamar durante uma partida;, comenta.

De toda a experiência apitando jogos escolares e entre amigos, Daniel sabe que tem estrutura para não se deixar intimidar. ;Em 2005, já empunharam uma faca contra mim. O jogo nem era de campeonato, mas havia uma aposta grande em dinheiro entre os times. Foi muito difícil;, lembra.

Daniel sabe que as reclamações não são nem devem ser levadas para o lado pessoal. ;Eles estão revoltados com a marcação dentro de campo, não com você, especificamente. É preciso também saber o que a partida em que você está trabalhando significa para o torcedor. No caso de times infantis, uma decisão contra um time invariavelmente vai irritar os pais dos jogadores.;

Aulas práticas

Depois de passar os cinco dias úteis em sala de aula, os alunos têm a oportunidade de colocar as lições em prática nos fins de semana. Eles são escalados como bandeirinhas em jogos de categorias de base. Na aula seguinte, são avaliados pelo desempenho apresentado ; sempre levando em consideração que as aulas já foram ministradas. No ano que vem, cada aluno será escalado como 4; árbitro em um jogo profissional do Campeonato Candango.

Semivestibular

Foram 90 interessados em participar do curso de formação de árbitros promovido pela UnB. Trinta e cinco foram aprovados. O coordenador do projeto, professor Paulo Henrique Azevedo, explica quais foram as etapas de seleção: ;Primeiro, uma prova física ; uma corrida de 12 minutos. É exigido pela Fifa preparo para acompanhar o ritmo das partidas. Depois, 50 questões sobre regras, sem cobrar nada muito específico;.

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