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Brasil não combate o doping

Anunciado como país sede dos Jogos Olímpicos de 2016, Brasil registrou 30 casos só este ano. Falta uma política nacional para evitar que o problema continue

postado em 16/11/2009 09:04

Um teste surpresa feito pela Federação Internacional de Ginástica acusou que Daiane dos Santos estava dopada. O resultado, anunciado no último 30 de outubro, foi o mais chocante, mas não o único caso de doping a chamar atenção do Brasil. Em agosto, dez dias antes do Mundial de atletismo, cinco brasileiros foram pegos nos testes também ; e voltaram para casa. À parte às controvérsias se o número está ou não dentro da normalidade, ele reflete uma realidade grave do país que vai receber os Jogos Olímpicos de 2016: o Brasil não tem uma política de combate ao doping.

O Ministério do Esporte tem uma Comissão de Combate ao Doping, mas a única função do órgão, criado em 2004, é aprovar a lista de substâncias da Agência Mundial Antidoping (WADA). ;A comissão foi criada para manter a legislação brasileira de acordo com a internacional;, justifica o médico Eduardo de Rose, membro do Comitê Olímpico Brasileiro e presidente da Comissão. ;Eventualmente, ela poderia até fazer algo, mas não tem recursos para isso;, justifica.

Eduardo de Rose diz que maioria dos esportes não realiza exames com frequência

Alexandre Pagnani, membro da comissão, presidente da Associação Brasileira de Estudo e Combate ao Doping (ABECD) e presidente da Confederação Brasileira de Culturismo e Musculação, reclama que o problema vai além. Como a comissão é subordinada ao Conselho Nacional do Esporte (CNE), nem as orientações que dá são necessariamente acatadas e chegam a virar ação. ;Montar a comissão, do jeito que ela está, simplesmente para se reunir uma vez por ano para aprovar a lista de substâncias, que por lei tem que passar por aprovação, e depois passa na CNE, está sendo inútil.;

Mas há quem defenda o funcionamento da comissão. Para o representante do Conselho Federal de Educação Física, Alexandre Nunes, o grupo cumpre o seu papel dentro do possível. ;O andamento dentro do processo democrático é lento. Mas discutimos as demandas que os representantes das 13 instituições levam.; E ele destaca que o papel de combate ao doping será feito pela Agência Brasileira Antidoping (ADA). ;Qualquer fiscalização em um país do tamanho do Brasil é difícil. As confederações têm dificuldades e nem a comissão nem o ministério têm poder de gerir isso.;

A comissão se reunirá hoje, e a pauta, mais uma vez, é apenas a lista de substâncias da WADA. O e-mail de convocação para os membros diz que ;outros assuntos serão pautados oportunamente;.

Poucos encontros

A Comissão foi criada em 2004. Ela tem 13 membros: representantes de órgãos do governo, do esporte e da sociedade, ligados ao tema doping. De acordo com os membros, já houve anos em que foram realizadas quatro reuniões. Em 2009 só uma aconteceu, por enquanto.

Muitas promessas, nenhuma ação

Como a Comissão de Combate ao Doping não tem poder de decisão nenhum, não há quem responda pelo tema no Ministério do Esporte. Alexandre Pagnani denuncia que o governo prometeu ajudar as confederações nacionais, cedendo cotas de análise de doping, no Ladetec, mas não pagou.

;Desde 2006 o governo prometeu cotas de controle de exame antidoping, tanto aos esportes olímpicos quanto aos não olímpicos, e não cumpriu com seu papel na doação dessas cotas de análise de controle. A alegação do governo, e visitei várias áreas do ministério, é que não existe dotação e nem rubrica orçamentária específicas para a ação do sistema de controle antidoping.; A confusão começa por não saber a quem reportar sobre o tema, dentro do ministério, denuncia Pagnani. ;O alto rendimento declarou, pelo antigo secretário, que não é competência dele, a ciências e tecnologia, não é competência dela, a educacional, não é competência dela, de quem é então? Estamos no limbo.;

Procurado pela reportagem do Correio, o Ministério do Esporte simplesmente respondeu que neste mês de novembro, o ministério receberá a visita de uma missão da Wada que vai ajudar a definir um plano nacional antidoping que contemple a criação de uma agência e a demanda de investimentos em laboratório de controle de dopagem. Informações sobre quanto tem sido reservado do orçamento ou quem é o responsável no órgão pelo tema combate ao doping não foram prestadas.

Casos deixados ao acaso

Das 29 modalidades olímpicas, poucas fazem controles permanentes. De acordo com o médico Eduardo de Rose, maior autoridade em doping no país, futebol, atletismo, natação, ciclismo e vôlei mantêm uma boa regularidade de controle. ;A maioria faz antes dos mundiais;, explica o médico.

;As demais modalidades não o fazem e só são realizados quando entra a ação do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), na participação dos Jogos Sul-Americano, que é o Odesur, Pan-Americano e Olimpíada. Fora isso, não existe controle;, garante Alexandre Pagnani.

O COB não quis entrar na discussão e, por meio de sua assessoria, disse apenas ter a informação dos exames feitos pelas confederações, mas que elas são confidenciais. Muitas das confederações, entretanto, confirmam: exame antidoping só nas principais competições e olhe lá. No pentatlo moderno, por exemplo, os atletas só são avaliados quando o COB pede. A razão, explica Celso Sasaqui, diretor técnico e vice-presidente da confederação, é o alto custo e o baixo número de atletas. ;A gente não faz o controle com exames. É mais na confiança. Os técnicos nos avisam quando algum atleta tem que tomar um remédio que esteja na lista proibida da WADA.; Hoje, um exame completo simples, custa cerca de US$ 500 por atleta.

O custo também é o argumento da Confederação Brasileira de Esgrima, que só faz o controle no campeonato brasileiro. ;É um exame um pouco caro;, justifica Edinilson Cesano, do departamento técnico da confederação. Mas ele logo lembra que o ciclo olímpico ainda está no início e garante que ano que vem o controle deve ser regular.

Pagnani questiona o argumento do custo. ;Nós temos que abrir o leque de ser declarado, eu como dirigente até mesmo de um esporte polêmico (culturismo), quanto mais controle fizer, mais vai pegar. Será que é vantagem em que o mundo saiba o que acontece no Brasil? Por que não fazer esses controles? Há alegações de que não há recursos por parte das confederações ; as olímpicas eu desconsidero, já que elas têm o repasse da Lei Piva, elas poderiam separar 1% desse valor que eles recebem para destinar a campanhas educativas de controle. Algumas confederações iniciam o controle e param de repente.;

Leia mais na edição desta segunda-feira do Correio Braziliense.

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