Marcelo Gervasio Silva nunca gostou de estudar. Filho de Agostinha Gervasio e Hélio Silva, Marcelo nasceu no Rio de Janeiro e encontrou no próprio lar a liberdade de que precisava para desenhar um futuro que hoje se orgulha de ter conquistado. Apaixonado por esportes e aventura, aos 47 anos ele diz que já praticou de tudo um pouco: ;paraquedismo, ciclismo, triatlo, atletismo, surfe, alpinismo, skate;, contabiliza.
Em 1990, porém, Marcelo decidiu ser mais que um atleta. O shaper (aquele que faz pranchas) projetou uma bicicleta e virou, então, aventureiro. ;Resolvi ir de bike do Rio de Janeiro ao Maranhão, para pagar uma promessa. No caminho, aconteceu tudo de ruim que você pode imaginar. Até que uma família no Piauí me acolheu e me patrocinou. A partir dali, descobri que dava para fazer uma coisa séria, nos moldes do Amir Klink, com a máxima técnica possível, incorporando o esforço físico;, conta.
No ano passado, Marcelo Pedal Verde, como é conhecido, inovou e criou um skate que vem chamando a atenção por onde passa. Montado basicamente com uma prancha de surfe, um travessão de fibras de carbono, peças de bicicleta, elástico e um tubo de PVC que funciona como bagageiro, o modelo é bem diferente dos tipos convencionais. ;Tive que fazer algo que fosse resistente, tivesse estabilidade e desse para andar dos dois lados. O skate é mais silencioso que a bicicleta, permitindo melhor observação das coisas que estão ao meu redor;, explica.
Com a invenção pronta, Marcelo viajou durante três dias do Rio de Janeiro para Angra dos Reis ; cerca de 250km. O carioca gostou tanto da experiência que decidiu se aventurar com o skate em uma viagem de dois mil quilômetros ; de Bezerra (GO) ao Rio de Janeiro ; carregando na bagagem apenas alguns alimentos, roupa e instrumentos de acampamento, além de cinco câmeras fotográficas, uma delas pregada em uma vara de pescar, com as quais registra todo o trajeto.
Confira videorreportagem sobre as aventuras de Marcelo:
Sangue de artista
Hélio Silva foi um importante diretor de fotografia do cinema nacional. Falecido em 2004, trabalhou em mais de 70 longas-metragens.
Memória I
Ao fim da viagem, Marcelo pretende publicar um livro com as experiências do percurso. Todos os dias, nas paradas de descanso, o atleta registra o que vivenciou em um caderno que chama de ;diário de bordo;. As anotações servirão também, segundo ele, como um modelo para os próximos aventureiros.
Memória II
Em 28 de agosto de 1993, o Correio publicou matéria, com direito a chamada de capa, sobre uma outra aventura de Marcelo Gervasio. Na época, ele cruzava a América Latina de bicicleta.
Viagem de 5.000km em 2010
Dentro de 25 dias, Marcelo pretende chegar ao destino final. Para o ano que vem, o aventureiro já tem mais planos. ;O skate vem se desenvolvendo bem. Acho que dá para eu fazer cinco mil quilômetros. Em 2010, tenho de estar na estrada de novo. Só fico no Rio de Janeiro o tempo necessário para eu trabalhar nos equipamentos;, revela.
Há cerca de dez dias nas estradas, Marcelo chegou a Brasília no domingo. ;A maior dificuldade que enfrentei até agora foi no caminho de Planaltina para cá. Foram uns 20km exaustivos de subida. Para distrair, gritava com os caminhoneiros, jogava água no corpo e falava ;silêncio no estúdio; na hora de filmar. Tudo para não me abater ;, diverte-se. Apaixonado pela Capital Federal, o atleta aproveitou para conhecer melhor a cidade e atraiu olhares curiosos ao andar pelo Eixo Monumental.