Eles são conhecidos como leões indomáveis. O adjetivo tem um lado positivo e outro negativo. Camarões quase eliminou a Itália na Copa de 1982, e a Inglaterra, em 1990. Neste mesmo ano, derrotou a então campeã Argentina no jogo de abertura, por 1 x 0, no Estádio San Siro. Por outro lado, os tetracampeões africanos e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, possuem um defeito: quando querem, costumam ser literalmente incontroláveis no relacionamento com os técnicos. Quase sempre são desobedientes, a ponto de, insatisfeitos, se unirem para dar um coice no domador.
De 2002, ano da última participação de Camarões na Copa, até hoje, a seleção teve sete comandantes diferentes: os alemães Winfried Schaffer e Otto Pfister, os camaroneses Jules Nyongha e Thomas N;Kono, o português Artur Jorge, o holandês Arie Haan e o atual dono do cargo, o francês Paul Le Guen.
As razões para a fúria dos leões são variadas: egoísmo, fogueira de vaidades, discussões constantes sobre premiação, intervenções da Federação nas convocações e na escolha dos titulares, e até graves casos de indisciplina. Em 2007, por exemplo, o holandês Arie Haan pediu demissão por discordar da intromissão do presidente da entidade, Mohammed Iya, na escalação.
A chegada de Paul Le Guen, em julho, deu um sossega-leão em Camarões. Baixou a juba do elenco e garantiu a arrancada final para a classificação. A ponto de Samuel Eto;o, a estrela da seleção, admitir: ;Paul Le Guen foi capaz de nos unir no momento em que mais precisávamos vencer. Tivemos um péssimo início na fase final (uma derrota para Togo e um empate com Marrocos). Ficamos com medo de não conseguirmos a classificação. Isso começou a causar divisão no elenco, mas encontramos no novo treinador mais do que um técnico moderno, ganhamos um psicólogo;, elogiou o craque, em entrevista ao portal www.cameroon-info.net.
Acostumado a administrar estrelas nos tempos de Lyon, o técnico Paul Le Guen gerenciou a crise no tempo recorde de três meses. ;Exigi disciplina, trabalho duro, comprometimento e avisei que seria inadmissível uma seleção como a de Camarões ficar fora do Mundial no continente africano por causa questões internas. Eles assimilaram, provaram ao país que a vaga estava acima dos interesses particulares e, hoje, Camarões está no lugar que merece, a Copa do Mundo;, comemora Paul Le Guen.
Eto;o mira em Roger Milla
Samuel Eto;o disputará a Copa do Mundo pela terceira vez. Na África do Sul, igualará a marca de Roger Milla, considerado o maior craque de Camarões. O atacante aposentado disputou o torneio em 1982, 1990 e 1994. Em 576 minutos, marcou cinco gols. Eto;o tem menos milhas acumuladas. Em 294 minutos balançou as redes apenas uma vez, na vitória sobre a Arábia Saudita, em 1998, por 1 x 0.
Aos 28 anos, Eto;o lamenta, até hoje, a ausência de Camarões na Copa de 2006, na Alemanha, mas espera recuperar o tempo perdido marcando pelo menos quatro gols no Mundial. ;Respeito o Milla. Ele é o meu ídolo. Mas reconheço, a tendência é que eu o ultrapasse como maior artilheiro do nosso país em Copas. Eu preciso de mais quatro, e em 2010 estarei com 29 anos. Se Milla jogou a Copa com 42 anos (recorde), eu posso também;, brinca o craque da Internazionale.
Sincero, mas humilde, Eto;o coloca o grupo acima dos projetos pessoais. ;Somos uma mescla de jogadores jovens e outros experientes. Estou otimista. Poder ser mais uma vez a surpresa africana. Nosso continente chegou no máximo às quartas de final com Camarões e Nigéria. Chegou a hora de dar mais um passo e, quem sabe, avançar às semifinais;, sonha Eto;o.
Veterano da turma, o zagueiro Rigobert Song, 33 anos, não abre mão do pé que balança a rede. ;Eto;o é uma estrela mundial, mas, ao mesmo tempo, é um exemplo de simplicidade. Conquistou a Liga dos Campeões duas vezes, foi eleito duas vezes o melhor jogador africano, mas é o mesmo na seleção. Dá tudo de si pelo nosso país. Ele sofreu bastante com a eliminação nas Eliminatórias de 2006 e merece ser o nome africano da Copa de 2010;, prega.
O técnico Paul Le Guen exalta seu talismã. ;Eto;o é fundamental para Camarões não só pela experiência, mas principalmente por sua qualidade. Sou abençoado por ter no meu time um dos melhores centroavante do planeta;, elogia.
E se cair na chave do Brasil?
Repetirá 1994, ano em que as duas seleções se enfrentaram pela única vez em Mundiais. Deu Brasil 3 x 0, gols de Romário, Márcio Santos e Bebeto. No total, são 4 confrontos, com três vitórias tupiniquins e um triunfo camaronês, na Copa das Confederações de 2003.
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