postado em 26/11/2009 09:00
Um é pouco, dois é bom, três é demais! Sua majestade, o Rei Pelé, integra um trio de admiradores que consideram a Espanha uma réplica contemporânea da melhor seleção de todos os tempos, escolhida inclusive pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). ;Eu compararia a Espanha ao Brasil de 1970. Eles têm grande técnica. A virtude está no meio de campo. São jogadores de muita inteligência nesse setor. Mas com uma diferença: aquela Seleção Brasileira tinha dois times. Quando um se machucava, um jogador com a mesma qualidade entrava. Isso é a chave do sucesso em uma Copa do Mundo, e não sei se a Espanha pode fazer isso;, disparou Pelé, camisa 10 da esquadra tricampeã, no México, em entrevista ao jornal espanhol El Mundo.Se o Rei surtou, tem visão além do alcance ou está secando mais um, só saberemos a partir de 11 de junho de 2010, o dia de abertura da Copa do Mundo, na África do Sul. Mas dessa vez o maior craque de todos os tempos tem companhia em sua tese. ;Aquele Brasil de 1970 jogava com um volante (Clodoaldo) e meias como Gérson, Tostão, Rivellino... Pelo futebol, a atual Espanha se assemelha bastante àquela Seleção do Zagallo. Eles pareciam ser moles e fracos, mas se uniam muito bem e os outros não conseguiam oferecer-lhes perigo;, comparou o ex-técnico da Espanha Luis Aragonés, responsável pelo fim de 44 anos sem título ao brindar a Fúria, em 2008, com o troféu da Eurocopa.
O técnico do Iraque, o sérvio Bora Milutinovic, ficou maravilhado com a Espanha após a derrota por 1 x 0 pela Copa das Confederações. Leia o que ele disse após o jogo; ;A Espanha é excepcional. É comparada ao Brasil de 1970 e à França de 1984 (campeã da Eurocopa com Michel Platini em campo).;
Campeã continental, líder no ranking da Fifa e apontada como favorita ao título inédito até pelo técnico Dunga, da Seleção Brasileira, a Espanha tem o seu melhor time desde a conquista da Eurocopa, em 1964. O diferencial, como antecipou Pelé, é o meio de campo. São pelo menos sete jogadores de altíssimo nível: Iniesta e Xavi (Barcelona), Xabi Alonso (Real Madrid), Riera (Liverpool), David Silva (Valencia), Fábregas (Arsenal) e o brasileiro naturalizado Marcos Senna ; um volante comum nos tempos de Corinthians e São Caetano, mas elevado ao status de estrela por suas exibições no Villarreal.
Dos sete, um arrancou brilho nos olhos do técnico Diego Armando Maradona na derrota da Argentina para a Espanha, por 2 x 1, no último dia 14. ;Xavi me deixou encantado. Há tempos não vejo um jogador com uma visão periférica. Ele é capaz de controlar todas as ações da partida;, elogiou El Diez.
Maradona admira com moderação o estilo de jogo espanhol. ;É uma seleção excelente;, limitou-se a dizer ao diário espanhol Marca. Mas ele avisa com a frieza de quem disputou quatro Copas e ganhou uma, em 1986. ;Os favoritos nunca ganham o Mundial.;
Maldição das quartas só foi quebrada na Eurocopa
Até a Eurocopa de 2008, a Espanha tinha fama de amarelar em partidas eliminatórias da Copa do Mundo e da Eurocopa, principalmente nas quartas de final. A má fama começou no México, em 1986, na derrota para a Bélgica, nos pênaltis, por 5 x 4. No tempo normal, as duas seleções empataram, por 1 x 1.
Em 1994, a Espanha deu adeus diante da Itália. A Fúria foi prejudicada por uma arbitragem desastrosa do húngaro Sandor Puhl. O juiz da final do Mundial não viu uma cotovelada de Tassotti no nariz de Luis Henrique, dentro da área. Seria pênalti. Quatro anos depois, o apito voltou a fazer a diferença nas quartas de final. A partida contra a Coreia, anfitriã do torneio ao lado do Japão, venceu nos pênaltis após empate por 0 x 0 no tempo normal.
O complexo das quartas também atingia a Espanha na Eurocopa. Em 1996, segurou empate sem gol com a Inglaterra, mas perdeu nos pênaltis, por 4 x 2. Em 2000, o carrasco foi a França.
O trauma passou pela cabeça dos jogadores nas quartas de final do ano passado. Depois de atropelar Rússia, Suécia e Grécia na fase de grupos, com 100% de aproveitamento, a Espanha empatou com a Itália por 0 x 0 no tempo normal das quartas de final. O pesadelo foi exorcizado com a vitória por 4 x 2, nos pênaltis. ;Aquela vitória foi fundamental. Mudou o psicológico da seleção. O Casillas (goleiro) dizia que estava farto de não passar das quartas de final. Na Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, jogamos melhor (nas oitavas), mas todos, incluindo eu, éramos menos experientes. A França fez um gol de contra-ataque. Hoje, com certeza, eles não fariam;, assegura o ex-técnico Luis Aragonés.
;Com a conquista da Eurocopa, ficou mais fácil bater no peito e dizer ;sou espanhol;. Antes, ser espanhol era sinônimo de desculpas. A culpa da nossa eliminação era sempre do juiz, das contusões e da má sorte. Daquela vitória em diante, isso mudou. Somos uma nova Espanha.;
Leia mais na edição desta quinta-feira do Correio Braziliense.