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Saiba mais sobre a seleção do Uruguai

Em tempos de vacas magras, a Celeste dá um boi para não entrar em uma briga por título, mas doa uma boiada para não sair dela na caça ao tão sonhado tricampeonato, em 2010, na África do Sul

Marcos Paulo Lima
Marcos Paulo Lima
postado em 27/11/2009 09:16
Dois animais representam o Uruguai no brasão de armas do país vizinho ao nosso. Um deles é o cavalo galopante, símbolo de liberdade. O outro é o boi, sinônimo de prosperidade. De fato, a Celeste viveu tempos de abundância no futebol. Foi a seleção mais vitoriosa do século 20, com dois títulos mundiais, duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos, 14 conquistas na Copa América e um Mundialito, torneio disputado em 1980 ; com o selo Fifa de qualidade ;, em comemoração aos 50 anos da Copa do Mundo.

No século 21, o futebol uruguaio vive tempos de vacas magras, esqueléticas. Está quase no osso. A seleção literalmente participou da Copa de 2002 (caiu na primeira fase) e não disputou a de 2006 (perdeu a repescagem para a Austrália). A última volta olímpica em uma Copa América ocorreu em 1995, em Montevidéu. A decadência dos clubes é mais um retrato da derrocada. O Nacional foi o último time uruguaio na final da Taça Libertadores. Há 21 anos! Em 1988, derrotou o Newell;s Old Boys, da Argentina. No mesmo ano, conquistou o Mundial, ao vencer o PSV Eindhoven, da Holanda.

Forlán foi o artilheiro do Uruguai, com sete golsA decadência do futebol uruguaio ganhou mais um capítulo dramático nas Eliminatórias para a Copa de 2010. Quinto colocado na América do Sul, disputou pela terceira vez consecutiva a repescagem. Primeiro campeão do mundo, em 1930, o Uruguai foi o último a carimbar o passaporte para a África do Sul. Venceu em San José, por 1 x 0, e segurou empate heroico, por 1 x 1, em Montevidéu. Quando o jogo acabou, jogadores e torcedores pareciam ter conquistado o tão aguardado tricampeonato mundial.

A julgar pelo retrospecto recente do Uruguai, a terceira estrela dificilmente será bordada em 2010 na camisa celeste. A última vez em que os Charrúas foram além da fase de grupos completará duas décadas no próximo ano. No Mundial de 1990, na Itália, a seleção perdeu para os anfitriães, por 2 x 0, nas oitavas de final. Mas há uma boa notícia. O santo do último milagre é o atual técnico, Oscar Wahington Tabárez.

Em 1990, o treinador de 62 anos comandava uma geração superior a atual. A defesa contava com o xerife Hugo de Leon. O meio de campo tinha a pegada de Bengoechea, a maestria de Enzo Francescoli e o talento de Ruben Paz. E o ataque, hoje quase inofensivo ; Forlán é quem mais incomoda ;, contava com nomes experientes como Alzamendi e Ruben Sosa, e promissores, como Aguilera e Fonseca.

;Os tempos realmente são outros, mas não podemos lamentar o passado. Acabamos de concretizar um projeto de três anos e meio. Não temos a qualidade de outras Copas, mas vamos à África com o que temos de mais precioso: a raça de um país bicampeão mundial e olímpico;, prega Oscar Tabárez.

E se cair na chave do Brasil?

Isso não ocorrerá na primeira fase. À exceção dos europeus, países
do mesmo continente não ficarão no mesmo grupo na primeira fase. Em Mundiais, os dois países se enfrentaram pela primeira vez na final da Copa de 1950, no Brasil. A Celeste venceu por 2 x 1.
Vinte anos depois, a Seleção tirou o Uruguai do Mundial ao vencer
por 3 x 1. Estava aberto o caminho para o tricampeonato.


Entrevista/Aldyr Garcia Schlee
Pai da Amarelinha vira casaca

O gaúcho Aldyr é brasileiro, mas é torcedor da seleção uruguaiaQuer comprar uma briga com Aldyr Garcia Schlee? Faça ao gaúcho de 75 anos, nascido em Jaguarão, a seguinte pergunta: ;O futebol uruguaio é decadente?;. O homem vira uma fera! Vencedor, em 1953, do concurso promovido pela CBD (antiga CBF) para instituir a camisa verde-amarela da Seleção Brasileira, o escritor, jornalista, tradutor e professor aposentado de ciências humanas é fanático pela Celeste, como você lerá a seguir, na entrevista por telefone, ao Correio.

Por que a seleção do coração é o Uruguai e não o Brasil?
Algumas decisões na vida são inconscientes, pessoais, familiares. Eu morava a 200 metros da ponte que separa a minha cidade (Jaguarão) de Rio Branco (cidade uruguaia). Era mais fácil ouvir e ler notícias sobre a seleção e os clubes do Uruguai do que do Brasil. O jornal demorava três dias para chegar à minha cidade. Os diários uruguaios, inclusive os esportivos, chegavam no mesmo dia.

O que foi mais difícil? Desenhar a camisa da Seleção Brasileira ou torcer para o Uruguai ir à Copa?
Torcer pelo Uruguai sempre me deixa mais apreensivo. Pena que eu estava doente na semana do jogo no Estádio Centenário e não pude ir a Montevidéu, mas eu tinha fé que o Uruguai não fracassaria.

A Seleção Uruguaia é decadente?
Sou hincha (torcedor) uruguaio. Só enxergo êxitos e não fracassos. A imprensa é que criou essa história de decadência. Cobra-se de um país pequeno como o Uruguai o mesmo desempenho de uma nação enorme como o Brasil. A produção de jogadores no Uruguai é infinitamente menor. O sentimento uruguaio a cada conquista é de que os jogadores são heróis. O Uruguai era decadente em 1995 e venceu o Brasil na final da Copa América.

Então a classificação na repescagem, contra a Costa Rica, não foi um vexame?
Foi. A própria imprensa uruguaia admitiu isso após o empate por 1 x 1 com a Costa Rica. Esperava-se uma goleada, mas a seleção atual mantém o velho espírito uruguaio, a velha raça. Isso agrada muito mais ao torcedor uruguaio do que o jogo bonito.

Qual é a sua expectativa para o sorteio, em 4 de dezembro, na Cidade do Cabo?
Que a Dinamarca não caia no grupo do Uruguai (risos). Em 1986, eles nos golearam por 6 x 1. Em 2002, venceram por 2 x 1. Não entendo por que eles sempre cruzam nosso caminho. Mas dessa vez até prefiro que caiam de novo para nos vingarmos. Nosso grupo vai ter África do Sul, Dinamarca e Honduras.
Como avalia o trabalho do técnico Oscar Tabárez?
É um vencedor, mas estão cavando a saída dele. Há um movimento, uma convicção de que com o técnico do River Plate uruguaio, Juan Ramon Carrasco, o Uruguai pode jogar melhor. Mas isso esfriou depois que a LDU eliminou o River Plate da Copa Sul-Americana, por 7 x 1.

O meia Lodeiro, 20 anos, foi titular contra a Costa Rica. É a maior aposta uruguaia?
Pensam até em mudar o esquema tático por causa dele. O Uruguai passaria a jogar no 4-4-2, com dois meias: o Cristian Rodríguez pela esquerda e o Lodeiro pela direita. Lodeiro joga no Nacional. Arma com precisão, passa bem a bola e supre a falta de cobradores de falta e escanteio. Mas anota aí outros três nomes da sub-20 que podem ir à Copa: Sebastian Coates é um zagueiro extraordinário. O atacante Santiago Garcia e o meia Urretaviscaya também são excelentes.

Quem tem mais camisa para vencer a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul?
Mesmo sem técnico, porque para mim, Dunga e Maradona são dois animadores, Brasil e Argentina darão os seus recados. Mas sinto que o título ficará entre Inglaterra, Alemanha e Itália.

Não acredita no Uruguai?
É sempre o meu maior favorito, mas para ser campeão precisa baixar no time o Brasil de 1958. Aparecer de repente um Pelé, um Garrincha. Quem sabe (risos);

Leia mais na edição desta sexta-feira do Correio Braziliense.

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