Uma confusão na partida entre a Universidade Católica de Brasília (UCB) e a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), válida pelo Campeonato Brasiliense de Futsal e disputada em 29 de outubro, no Ginásio da Católica, acabou em acusação de racismo contra a anotadora e cronometrista Maria do Socorro Fernandes. A polêmica começou quando o atleta Wendell Gonçalves de Castro, da UCB, foi expulso pelo árbitro do jogo e se revoltou. Ele se dirigiu à mesa, tomou a súmula das mãos da responsável e a rasgou, impossibilitando o reaproveitamento das informações.
Com a partida empatada por 4 x 4 e faltando pouco menos de três minutos para o tempo se esgotar, a equipe da Católica pressionou, pedindo a continuidade do jogo e que uma nova súmula fosse preenchida. No entanto, Maria do Socorro afirmou que não faria ;serviço de preto;, alegando que não havia tempo hábil para colher as informações perdidas. De acordo com o relatório do representante da Federação Brasiliense de Futebol de Salão (Febrasa), José Alberto de Oliveira, o árbitro, vendo o ;clima tenso; em quadra, decidiu encerrar a disputa.
Mais de um mês depois do ocorrido, Maria do Socorro acabou denunciada por racismo, enquadrada no artigo 20 da Lei 7.716(1). O advogado Murilo Leitão, membro da comissão disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), entrou com uma notícia-crime no Ministério Público do Distrito Federal, alegando que a afirmação da anotadora ;foi no contexto de que tal serviço seria um serviço malfeito; e seria uma ;atitude que, num primeiro lance, sugere um olhar inferior à raça negra;. Agora, caberá ao MP analisar os fatos e verificar se o caso se enquadra na lei referida acima e se julgará Maria do Socorro.
Acusada se defende
Alvo da acusação, Maria do Socorro Fernandes negou que tenha cometido racismo. ;Não acho justo, é uma expressão que muita gente usa. Não xinguei nem ofendi ninguém. Não me arrependo do que disse;, afirmou. Segundo ela, ;tudo o que aconteceu é normal;, e garantiu que em nenhum momento se dirigiu ao atleta da UCB. ;Fiquei até muito chateada com o que ele fez, pois o conheço há muito tempo, desde quando ele era das categorias de base.;
Representante oficial da federação na partida, José Alberto de Oliveira também saiu em defesa da anotadora, que trabalha como mesária para a entidade há 28 anos. ;Tenho certeza de que ela não quis ofender ninguém, foi uma frase infeliz, mas sem nenhuma intenção de ofender;, defendeu Oliveira. Para ele, o grande causador de toda a celeuma foi o menos prejudicado em toda a história. ;A punição (1)que deram a ele foi muito leve. Ele agrediu todo mundo e ainda rasgou a súmula, tomando-a da mão dela. Era para ser banido do futebol;, reclamou.
Diante da polêmica, José Alberto prometeu tomar medidas para evitar confusões do tipo no futuro. ;Vou levar uma filmadora para todos os eventos. Não estou defendendo A ou B, mas tenho certeza de que não houve racismo. Se houvesse, eu também seria a favor da denúncia;, jurou.
Tribunal minimiza
O presidente do TJD, Joacy Bastos, revelou que não condena a acusação feita pelo advogado Murilo Leitão, mas disse acreditar que as palavras de Maria do Socorro Fernandes não foram maldosas. ;Ela utilizou linguajar popular, é diferente de quando alguém menospreza outra pessoa por causa de sua raça;, apontou. No entanto, ele ressaltou que a situação poderia ser evitada. ;É uma questão de educação, e o objetivo do esporte é ensinar o respeito. Tudo isso é válido como lição, pois o esporte é coisa séria;, opinou.
Para Bastos, cabe agora ao Ministério Público julgar se foi constituído crime, se houve dolo, para julgar a anotadora. No entanto, se o MP destacar que foi apenas uma expressão utilizada por Maria do Socorro, o caso pode ser arquivado.