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O trio de ouro rubro-negro

Preparamos um perfil especial dos três principais responsáveis pela campanha que ajudou o time carioca a bordar mais uma estrela Nacional no escudo do Flamengo

Joana Tiso
postado em 07/12/2009 09:03
Rio de Janeiro ; Os astros do campeão Flamengo foram apostas, para muitos, polêmicas. Até mesmo Adriano, pelo contexto, sofreu desconfiança no início. Nada que se compare ao sérvio Petkovic. Contratado por conta de um dívida que o clube tinha com ele, o meia de 37 anos quase provocou demissões no departamento de futebol rubro-negro. Andrade, o eterno interino, teve o apoio da torcida quando foi efetivado. Ainda assim, enfrentou olhares tortos na Gávea. Sem eles, o Flamengo dificilmente chegaria ao título brasileiro.

Petkovic, o maestro


O meia Petkovic quase entrou na Gávea pela porta dos fundos. A volta ao rubro-negro foi negociada diretamente pelo presidente em exercício na época, o vice Delair Dumbrosck, e por pouco não provocou pedidos de demissão da cúpula de futebol e do ex-técnico Cuca. Kleber Leite, então vice de futebol, disse que o clube ;não poderia se sujeitar a esse tipo de situação;. Mas Pet surpreendeu.

Primeiro, na apresentação, em maio, quando chegou de fininho. Cuca logo se rendeu ao sérvio. Os elogios foram muitos: pontual, bem disposto, experiente etc. Apesar de impressionado, o treinador não abriu mão de usar Petkovic apenas como trunfo para o segundo tempo. Com fama de chato e estrela em sua primeira passagem pelo Flamengo (de 2000 a 2002), o atual bom humor do apoiador surpreendeu os críticos.

Ele não reclamou da reserva e não cobrou regalias. Pet teve paciência para esperar a sua vez. Com Andrade efetivado, o atleta virou o maestro do grupo e, possivelmente, o craque do campeonato. ;Ele deu outra cara ao time;, afirmou o comandante, que mudou o esquema tático da equipe ao tirar um zagueiro para lançar o meia. ;Todos subiram de produção com Pet em campo. Ele é um exemplo para os mais jovens. Sempre foi um cara família e que cuidou do físico. Provou que é possível render bem com mais de 35 anos;, disse Dumbrosck, em entrevista ao Correio.

No melhor estilo ;eu já sabia;, o dirigente vibrou com a bola dentro. ;Pelo que o Flamengo estava fazendo na época, achei que Pet jogaria mais do que qualquer um ali;, contou. Porém, reconheceu que não esperava tanto do craque. ;A princípio, a contratação foi para resolver pendências financeiras. Mas ele me contou que gostaria de encerrar a carreira no Flamengo. Disse que estava magro e voaria em campo. Pensei que seria bom, até pelo respeito que tenho por ele. Petkovic é um dos ídolos da história do Flamengo;, completou Dumbrosck.

O vice de futebol, Marcos Braz, não exercia o cargo quando o meia foi contratado, mas participou da negociação. ;Sempre achei que ele poderia ajudar em pelo menos um tempo;, disse.

Adriano, o goleador

Após ameaçar abandonar o futebol e enfrentar uma depressão, Adriano afirmou que só jogaria no clube que o revelou. O Flamengo, carente de ídolos, abriu as portas e deu carta branca ao Imperador. Muito se fala sobre um tratamento diferenciado, sobretudo na era Kleber Leite. Com regalias ou não, o fato é que o atacante reencontrou o grande futebol na Gávea e voltou à Seleção Brasileira graças aos gols que o colocaram no topo da tabela de artilheiros do Brasileirão.

Adriano abriu mão de aproximadamente R$ 15 milhões que receberia neste ano na Inter de Milão, da Itália, e retornou para os braços da família. Ele ganha o maior salário do grupo rubro-negro, mas nada que se compare ao luxo da Europa. Segundo o psicólogo do Flamengo, Paulo Ribeiro, o atacante precisava da relação com as pessoas queridas para voltar a sentir prazer, inclusive nos campos.

O início foi complicado, com notícias de noitadas e indisciplina. Em junho, ele foi criticado publicamente pelo ex-técnico Cuca por estar acima do peso. Surpreendente, como sempre, o Imperador perdeu 5kg, arrebentou no ataque rubro-negro e recebeu propostas do futebol europeu. ;A parceria deu certo. Adriano recuperou a alegria e o Flamengo tem um dos maiores jogadores do mundo;, afirmou o empresário do atleta, Gilmar Rinaldi.

Agora, a diretoria sofre com o receio de perder sua estrela depois do Brasileiro. Valorizado, o Imperador ainda não definiu o seu futuro. O contrato com o clube rubro-negro termina em maio e permite que o atacante saia em qualquer janela de transferência.

Andrade, o comandante

Efetivado em agosto, Andrade fez o que se esperava de um técnico que jogou no melhor time rubro-negro de todos os tempos. Como treinador, o volante da década de 80 deixou o Flamengo mais ofensivo e conquistou a confiança dos jogadores, principalmente daqueles que tiveram problemas de relacionamento com Cuca. Além disso, Andrade recuperou atletas que pareciam perdidos, como Zé Roberto. Com a mudança de esquema, do 3-5-2 para o 4-4-2, ele deu fôlego novo à equipe, que arrancou do meio da tabela para o título.

Desde 2004 na comissão técnica do Flamengo, Andrade imaginou que apenas tamparia mais um buraco com a saída de Cuca e logo voltaria a ser auxiliar. Mas a diretoria, renovada durante o ano, decidiu apostar em profissionais que tinham vínculo antigo com o clube.

;Meu sentimento é de dever cumprido. Prestigiamos Andrade e toda a comissão técnica, que já estava no Flamengo há muito tempo;, disse Dumbrosck. ;Andrade tem cinco títulos como jogador (segundo a CBF, tem quatro), é um cara qualificado e que conhece o clube muito bem. O auxiliar (Marcelo Salles) também é cria da Gávea. Como outros da comissão. Montamos um grupo com pedigree de campeão;, festejou Braz, que lembrou ter feito ;uma aposta solitária em Andrade;.

Qualquer semelhança é mera coincidência;

Rio de Janeiro ; Todo ano o Flamengo trocava de treinador, mas o esquema 3-5-2 não saía de moda na Gávea. Nas últimas temporadas, o rubro-negro teve uma equipe com muitos volantes e, em alguns casos, um apoiador improvisado no ataque. No início de 2009, a função de armar as jogadas coube a Ibson (hoje no Spartak de Moscou), que atuou adiantado. O volante Kleberson também desempenhou a tarefa de municiar os atacantes. Para os técnicos que passaram pelo clube, o esquema com dois alas se justificava pela força ofensiva de Léo Moura e Juan. Ex-volante, Andrade trocou o 3-5-2 pelo 4-4-2, com um meia no lugar de um zagueiro, deixando, assim, o time mais ofensivo.

O grande mérito do comandante foi dar a Petkovic a chance de ter uma sequência de jogos. Andrade disse que encontrou no sérvio o ;camisa 10; ideal. Técnico e preciso nos passes, Pet formou uma bela dupla com Adriano. Outro acerto do treinador foi recuperar o meia Zé Roberto, que atuou como segundo atacante com a saída de Emerson, negociado com o futebol árabe.

Antes de ajustar o ataque, Andrade deu atenção especial à defesa. Álvaro chegou ao clube para acertar uma zaga que batia cabeça desde a aposentadoria de Fábio Luciano, após o Estadual. Com dois zagueiros jovens (Welinton e Fabrício) e o veterano Ronaldo Angelim em má fase, o Flamengo passou a ter a pior defesa do Brasileiro após as derrotas para Sport (4 x 2) e Coritiba (5 x 0), em junho. Álvaro deu segurança ao setor e Angelim voltou a atuar bem.

Resolvido o problema, o técnico pediu à diretoria um jogador que fizesse bem a ligação entre a defesa e o ataque. O escolhido foi o volante Maldonado. Firme na marcação, o chileno tem facilidade para desarmar e ótima saída de bola.

O time base, com Andrade, tem um goleiro decisivo, dois laterais ofensivos, dois zagueiros experientes, três volantes (um deles mais adiantado), um meia bom nas jogadas de bola parada, um apoiador atuando como segundo atacante e um centroavante clássico. Para montar o Flamengo atual, o treinador se inspirou na equipe supercampeã da década de 80. ;Levei muita coisa daquele time e da forma como Coutinho (técnico Cláudio Coutinho) armava o grupo;, contou Andrade, referindo-se ao título brasileiro de 1980.

Saiba Mais

Entenda o acordo entre Petkovic e Flamengo
Petkovic acertou sua volta ao Flamengo até maio de 2010 e abriu mão de parte da dívida que o clube tinha com ele. No acordo com Dumbrosck, o meia aceitou receber R$ 10 milhões de forma parcelada. Na ocasião, o então presidente em exercício argumentou que o ajuste com Pet era necessário por causa das sucessivas penhoras conseguidas pelo sérvio, que estavam
prejudicando financeiramente o clube.

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