postado em 16/12/2009 08:37
Mesmo bombardeado de críticas pela atleta paraolímpica Suely Guimarães após o anúncio do doping na última segunda-feira, o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) não quis responder a qualquer das acusações feitas. Em entrevista exclusiva publicada ontem no Correio, Suely declarou se sentir injustiçada. "Acho que, pela minha história no Comitê Paraolímpico Brasileiro, eu merecia, pelo menos, que o médico do CPB, Roberto Vital, fizesse algum alerta sobre os remédios que estava fazendo uso. Ele foi covarde". A atleta foi punida com suspensão de um ano e não participará de competições até setembro de 2010.
[SAIBAMAIS]A assessoria de imprensa do CPB se limitou a divulgar uma nota com a posição do presidente da entidade, Andrew Parsons, em relação às críticas. Segundo o comunicado, ele diz que a atleta veterana sempre foi conhecida pelo gênio forte e que está passando por um momento muito difícil na carreira. Por isso, Parsons considera as acusações irrelevantes e reafirma a confiança no trabalho do médico Roberto Vital, que também não quis dar nenhuma declaração à reportagem. A possibilidade de redução da pena não foi considerada.
O silêncio do Comitê Paraolímpico Brasileiro reforça a política de tolerância zero adotada pelo presidente da entidade, que está intensificando o combate e a prevenção ao doping, que já teve três casos (1) neste ano. No entanto, Suely Guimarães, que se desculpou pelo ocorrido e admitiu parte da culpa pelo fato de não ter consultado a lista dos remédios proibidos, acha que o CPB poderia reforçar o alerta em relação às substâncias dopantes, principalmente aos atletas mais experientes. "Às vezes, tenho a impressão que os atletas mais veteranos estão sendo deixados de lado", desabafou.
1 - Mais dois flagrantes
Além do caso de Suely, em 2009, o esporte paraolímpico nacional teve outras duas ocorrências de flagrante de doping. Em maio, em São Paulo, exame com o halterofilista Emerson Barbosa acusou a presença do anabolizante oxandrolona. No mês seguinte, em Natal, o também halterofilista Denílson de Souza teve teste positivo para a substância diurética hidroclorotiazida.
Personagem da notícia
Suely Guimarães, pernambucana de São José do Belmonte, perdeu as duas pernas após ser atropelada na calçada por um motorista bêbado, aos sete anos de idade. Hoje, é uma das atletas paraolímpicas de maior destaque do país. Entre as principais conquistas, estão: ouro no lançamento de disco - Jogos Paraolímpicos de Atenas (2004); ouro no lançamento de disco e arremesso de peso - Campeonato Mundial, na França (2002); ouro no lançamento de disco e dardo e no arremesso de peso - Campeonato Mundial, na Inglaterra (1998); bronze no lançamento de disco - Jogos Paraolímpicos de Atlanta (1996); ouro no lançamento de disco e dardo e no arremesso de peso - Campeonato Mundial, na Alemanha (1994), e ouro no lançamento de disco - Jogos Paraolímpicos de Barcelona (1992).
Entenda o caso
A bicampeã paraolímpica Suely Guimarães diz que fazia uso da substância proibida hidroclorotiazida - encontrada na amostra de urina coletada para o exame antidoping -, com o objetivo de controlar a pressão arterial, desde o Parapan do Rio de Janeiro, em 2007, e não sabia da proibição. Suely afirma que o CPB tinha conhecimento de que ela usava o remédio Clorana, mas, mesmo assim, a entidade não a teria alertado, como costuma fazer, pelo fato de ela não estar representando o Brasil em uma competição internacional.
A verificação foi realizada durante a etapa de Fortaleza do Circuito Nacional Loterias Caixa, em setembro. A substância encontrada é um diurético tiazídico que inibe a retenção de água do rim, reduzindo o volume sanguíneo e elevando consideravelmente a eliminação de líquido, o que pode mascarar a presença de outras substâncias dopantes no organismo.
Segundo o presidente do CPB, este é o motivo da proibição da hidroclorotiazida, pois, caso Suely tivesse usado algum tipo de estimulante ou anabolizante, o exame não revelaria. A atleta, no entanto, garante que nunca utilizou coisas do tipo. "Passei momentos muito difíceis por causa do atletismo, jamais colocaria tudo a perder".