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Entrevista - Denúncias aumentam os flagrantes de doping

postado em 16/12/2009 08:42
São Paulo - Diretor do Departamento Brasileiro de Antidoping do COB, o fisiologista Eduardo de Rose dá duas razões para a onda de casos de doping no Brasil. A primeira diz respeito à mudança de estratégia do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) no controle antidoping. Antes, os exames ocorriam por amostragem ou sorteio. Agora, são realizados diretamente em atletas suspeitos ou denunciados, aumentando a incidência de testes positivos, mesmo sem crescer significativamente o número de exames. A segunda justificativa é a velha falta de cuidado por parte dos atletas. [SAIBAMAIS]O tiro certo nos atletas dopados é também uma medida econômica. No ano passado, foram realizados cerca de cinco mil exames, ao valor de cerca de R$ 1 mil cada, chegando ao custo total aproximado de R$ 5 milhões. Questionado sobre os culpados por tantos casos, o especialista em antidoping se exime de apontar suspeitos, mas lembra que a alta premiação em determinados esportes pode ser um dos motivos principais para o uso de substâncias ilícitas. Ouça trechos de entrevista com o presidente do CPB, Andrew Parsons

Porque tantos casos de doping Também estou achando exagerado. Pelos meus cálculos, devemos estar com 41 casos neste ano. Teve um pequeno aumento no número de controles, mas foi pequeno, não é para justificar o aumento de casos. Mas há duas vertentes que podem explicar esse aumento. Uma é que os exames foram feitos com muito mais objetividade. Trocamos o exame por posição ou por sorteio para fazer um exame direcionado, baseado em informações que nos levam a suspeitar que existe uma possibilidade grande de encontrarmos algo. A outra razão é que os atletas não estão cuidando de coisas que são primárias. Essa atleta paraolímpica tomou diurético por que é hipertensa. Se ela sabia dos problemas de pressão, deveria comunicar ao Comitê e buscar orientação para uma medicação certa. É o mesmo caso da Daiane dos Santos, que não tinha conhecimento de que estava fazendo um tratamento com substâncias proibidas. Nova política antidoping Esse tipo de exame direcionado é chamado de "exame inteligente". O atleta pode achar que é perseguição, mas não é perseguição. Cada exame custa muito caro, não dá para sair fazendo em todo mundo. Tem que ser o mais dirigido possível. Este ano, em pelo menos 15 casos de violação da regra antidoping, nova nomenclatura para casos positivos, chegamos por meio de denúncias de alguma possibilidade muito grande de termos resultados positivos. Os exames na equipe de atletismo no Mundial da Alemanha e nos ciclistas na Volta de Santa Catarina e São Paulo são exemplos disso. Prejuízo ao esporte brasileiro Não tem nenhum prejuízo concreto. Se você pensar na Olimpíada, tivemos quase 27 casos de doping em Pequim, em duas semanas, e isso não diminuiu a qualidade da performance e nem desvalorizou a Olimpíada. Se nos tornarmos um país que não faz antidoping e onde não se tem nenhum teste positivo, isso não nos torna um país melhor. O problema é quando passarmos de 2% dos exames, que é o recomendado. No ano passado, tivemos 0,75% de casos positivos. Neste ano, ainda não fechamos as contas, mas devemos ficar por volta de 2%, que é a média internacional. Culpados pelo doping Não tenho que apontar nenhum culpado. Não é a minha função. Minha função é detectar os casos, informar atletas e entidades responsáveis e baixar ao máximo o número de casos. Mas posso dizer que uma das explicações ou respostas é o fato de que hoje no esporte se ganha muito dinheiro, o que não ocorria antigamente. Prêmios de US$ 100 mil, US$ 1 milhão, não são incomuns no esporte. O número R$ 5 milhões - Custo total dos exames antidoping realizados em 2008

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