A performance esportiva está intimamente conectada à tecnologia investida na preparação dos atletas. São sapatilhas, shorts, maiôs e materiais de toda espécie para impulsionar o corpo humano ao limite e diminuir centésimos de segundos. No Laboratório de Sensores Microeletrônicos da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Universidade de Campinas (UniCamp), mais uma engenhoca foi criada para auxiliar os esportistas brasileiros: o Sistema de Monitoramento de Atividades Esportivas (SMAE).
Trata-se de uma forma de telemetria dos movimentos durante a atividade física. Um sensor ; que tem 37x49x20mm e que pesa apenas 40 gramas ;, posicionado em qualquer parte do corpo, consegue gravar as exatas coordenadas do movimento realizado. ;Todas as informações são enviadas por ondas de rádio para um computador, que pode estar a até 70 metros de distância;, explica o colombiano Yull Heildort, idealizador do projeto, utilizado como tema de dissertação de mestrado.
Os dados sobre posicionamento, aceleração e rapidez dos movimentos são transmitidos em coordenadas tridimensionais. O orientador da pesquisa, o professor Fabiano Fruett, explica: ;A partir dos números, é possível recriar o movimento em programas específicos;. Os sensores não são invasivos e podem ser usados como um relógio polar de medição dos batimentos cardíacos. ;É possível identificar assimetrias entre um lado e outro do corpo e erros na realização de movimentos;, aponta.
Dificuldade na natação
Não há limites para o número de sensores utilizados. Há, porém, algumas dificuldades técnicas. O SMAE ainda não consegue nas piscinas a precisão dos eventos em terra. ;O problema é com a transmissão das ondas, que é prejudicada pela força da água;, comenta Heilordt.
O aparelho permite uma radiografia precisa da técnica de cada atleta. E já está sendo estudada pelo departamento de Educação Física da UniCamp. O professor Sérgio Cunha, do Laboratório de Instrumentação para Biomecânica, ressalta a importância da nova ferramenta: ;Podemos medir cada passo em tempo real. Será de grande valia para corrigir eventuais falhas;.
Preço acessível
Outro ponto destacado pelo cientista Yull Heilordt é o baixo custo de montagem, que pode facilitar a disseminação do projeto. Ele conta que, para adquirir os componentes necessários para montar um protótipo, são gastos R$ 1.700. ;É um preço que fica ao alcance dos próprios atletas, que poderiam adquirir o sistema;, aposta. Porém, ainda não há previsão para a comercialização. Heilordt diz que já busca parcerias que estudam possibilidades e a viabilidade de vender o produto, mas ainda está atrás de melhorias para o sistema.
;Apesar de existirem várias ferramentas tecnológicas para o auxílio do treinamento esportivo, a maioria delas são soluções de alto custo e geralmente específicas para um esporte em particular, o que dificulta a difusão de tais tecnologias no país;, ressalta Heilordt, a respeito da versatilidade e do aspecto econômico do equipamento que criou.
Para colocar os sensores em prática, entrou em cena uma parceria com a Faculdade de Educação Física da UniCamp. O projeto vem sendo testado no ciclismo. Segundo Heilordt, foi a primeira oportunidade de experimentar o protótipo, mas a ferramenta é versátil e poderá, no futuro, ser utilizada em outros esportes. Pelo menos é essa a vontade dele. ;Por enquanto, estamos testando só com o ciclismo, mas o sistema não foi criado com exclusividade para esporte algum. A ideia é que o aproveitamento seja o mais vasto possível;, afirma.
De acordo com o cientista, a grande vantagem do Sistema de Monitoramento de Atividades Esportivas é permitir aos atletas a prática usual das atividades, sem a necessidade de fazer os testes em um local especializado. ;Os jogadores de futebol, por exemplo, não precisam sair do gramado. Eles continuam em campo e os sensores podem passar todas as informações para o computador;, destaca o colombiano.
Longe das pistas
Muito utilizada em pesquisas, a bicicleta estacionária leva algumas desvantagens em termos de medir o desempenho de atletas de alto rendimento. O atleta não sente, por exemplo, o atrito dos pneus com o solo e nem a trepidação da bicicleta, fatos que afetam o desempenho e não são considerados em testes nesse tipo de aparelho. Por isso, o SMAE leva vantagem na hora de avaliar a técnica dos ciclistas, já que isso pode ser feito em velódromos, nas mesmas condições que serão enfrentadas nas competições.
Eficiência aprovada
Cobaia na pesquisa, como ele mesmo diz, Gabriel Augusto Pattaro, de 22 anos, é ciclista e estudante de educação física. O atleta é o responsável por colocar em prática os testes, seja no velódromo ou na bicicleta estacionária. Segundo ele, é grande o potencial do sistema para ajudar a melhorar o desempenho. ;No ciclismo, milésimos podem fazer a diferença. As análises de técnica e potência que o SMAE faz podem significar a conquista de um título ou não;, explica ele.
Por experiência própria, Pattaro diz que os testes que ele vem fazendo ajudaram a melhorar a própria performance técnica. ;O sistema me mostrou que eu estava errando muito nas curvas. São esses detalhes, que nós não teríamos a oportunidade de detectar, que fazem a diferença;, constata.
O número
R$ 1.700
Custo dos componentes
para montar um
protótipo do SMAE
Testes no ciclismo
Leve e pequeno, equipamento pode ser usado em diversas partes do corpo