postado em 31/12/2009 11:50
Já é tradição em todo fim de ano em São Paulo. Às 16h30 de hoje, 31 de dezembro, corredores de todas as partes do mundo tomam conta das ruas da capital paulista para percorrer os 15km da Corrida de São Silvestre. Será a 85ª edição do evento, que teve início em 1925, marca o fim do calendário mundial das maratonas e atrai tanto atletas de alto nível quanto aqueles que correm por diversão.
Como também está virando tradição, mais uma vez os africanos são os grandes favoritos para a conquista do primeiro lugar e dos R$ 14 mil oferecidos para os vencedores no masculino e no feminino. No total, a São Silvestre oferece R$ 128 mil em prêmios para os 10 melhores em cada categoria. Responsável pelo treinamento de uma equipe de estrangeiros no interior do Paraná, principalmente quenianos, Moacir Marconi, mais conhecido como Coquinho, atesta o favoritismo de seus pupilos. "Com certeza eles estão entre os melhores. São atletas que se adaptaram muito bem ao Brasil", revela. "É preciso muita concentração nesta prova, a concorrência é muito grande."
Além dos adversários - Coquinho cita o brasileiro Franck Caldeira como principal esperança nacional para a prova - o treinador revela o que pode atrapalhar o desempenho dos africanos. "Chuva e frio é a pior combinação possível. Eles sentem muito frio, prejudica o rendimento. Tive algumas experiências negativas com isso recentemente", explica.
Entre os atletas de Coquinho, Nicholas Koech é apontado como um dos favoritos à medalha de ouro. O queniano chegou na 6ª posição em 2008 e é uma das apostas do técnico para este ano. E no começo do mês ele deu mostras de que está realmente bem preparado. No último dia 6 de dezembro, em Belo Horizonte, o corredor levou a melhor nos 17,8km da Volta Internacional da Pampulha. Ele chegou em primeiro, deixando o rival Caldeira em terceiro.
Recordes antigos
Pentacampeão da São Silvestre, o queniano Paul Tergat mantém desde 1995 o melhor tempo da história da corrida: 43min12s. A marca foi estabelecida no primeiro título do atleta em São Paulo, que voltou a vencer em 1996, 1998, 1999 e 2000, tornando-se o único pentacampeão. Para se ter uma ideia do feito de Tergat, o campeão de 2008, Kwambai James, também do Quênia, terminou os 15km mais de um minuto acima da melhor marca, com o tempo de 44min42s. No feminino, o melhor tempo também é queniano. Em 1993, Hellen Kimayio completou o percurso em 50min26s, marca que permanece até hoje.
Lucélia busca o bi
De volta à São Silvestre depois de ficar de fora em 2008, a candanga Lucélia Peres é uma das apostas do Brasil entre as mulheres. Mineira radicada em Brasília, ela sofreu com as lesões no último ano e admite que não está no mesmo nível de 2006, quando venceu a prova. "Estou bem treinada, mas ainda em um ciclo de transição. A corrida exige muito psicologicamente também, tenho que ter paciência para colocar tudo que treinei em prática", ensina.
Sobre a polêmica dos estrangeiros, Lucélia, ao contrário de Caldeira, não vê a forte concorrência como negativa para os atletas locais, muito pelo contrário. "Quando competimos com os melhores, buscamos sempre melhorar mais para superá-los. Isso faz com que os atletas daqui cheguem a um nível mais alto", comenta.
Domínio africano
» Em 1992, quando Simon Chemwoyo venceu a São Silvestre e se tornou o primeiro africano a atingir tal feito, a história da corrida mudou drasticamente. De lá para cá, os africanos venceram simplesmente 12 das 16 corridas, sendo 11 quenianos e um etíope. Neste período, apenas quatro brasileiros conseguiram chegar ao lugar mais alto do pódio: Ronaldo Costa (1994), Émerson Iser Bem (1997), Marílson Gomes dos Santos (2003 e 2005) e Franck Caldeira (2006).
Estatísticas e curiosidades
» Em 84 edições, o Brasil é o país que mais venceu a Corrida de São Silvestre no masculino. Foram 28 títulos, sendo o primeiro em 1925, com Alfredo Gomes, e o último em 2006, com Franck Caldeira.
» A competição só contou com prova feminina a partir de 1975. O Brasil, no entanto, não é o maior vencedor entre as mulheres. Portugal tem sete conquistas (seis delas graças a Rosa Mota, que dominou a prova de 1981 a 1986); Quênia vem em seguida, com seis ouros; e o Brasil aparece em terceiro, com cinco.
» O maior jejum de títulos no masculino durou 33 anos. Depois de Sebastião Alves Monteiro, em 1946, o primeiro a voltar a vencer foi José João da Silva, em 1980.
Maratonista demonstra confiança
Do lado verde e amarelo, Franck Caldeira aceita o papel de melhor representante do país e está confiante de que pode disputar quilômetro a quilômetro com os visitantes. "Respeito todos, mas acredito ser o único brasileiro que tem o talento de poder brigar de igual para igual com esses caras", opina o campeão da São Silvestre em 2006, último ano em que um representante do país venceu a prova.
Diante da invasão africana, o brasileiro aproveitou para criticar o número de concorrentes de outros países, para ele excessivo. "Muitos têm o esporte como sobrevivência e, em algumas corridas no País, você conta nos dedos os brasileiros que conseguem se destacar em função do excesso de estrangeiros", reclama.
Moacir Marconi, o Coquinho, no entanto, rebate as críticas. "Que graça tem tirar todo mundo e vencer? É uma prova muito seletiva e quem se preparou vai ter resultado. Ninguém é imbatível", responde. "Se o meu próprio atleta perder para outro queniano mais forte, não me interessa. Vai ganhar quem é melhor."