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Tropa de elite

Forças armadas recrutam pelotão de atletas olímpicos para defenderem o Brasil em competição internacional marcada para julho de 2011, no Rio. Exército e Marinha pagarão soldo e financiarão viagens para outros torneios

postado em 02/01/2010 09:08
Pelotões de atletas olímpicos, campeões pan-americanos e sul-americanos já perfilam nas Forças Armadas brasileiras. Eles foram recrutados a dedo. Aceitaram a missão de dar ao Brasil tropas fortes o suficiente para vencer os Jogos Mundiais Militares, programados para julho de 2011, no Rio de Janeiro. Ao todo, são 300 jogadores, lutadores e corredores integrados ao quadro temporário do Exército e da Marinha %u2014 graduados como sargentos. Os guerreiros podem ficar até sete anos na caserna. A ordem unida do esporte abarca nomes de destaque como Natália Falavigna, do taekwondô; Flávio Canto, do judô; e Vicente Lenilson, do atletismo. Esses fizeram parte da primeira turma a se formar no Exército. Enquanto forem sargentos, receberão ajuda para viagens e competições, além do soldo, que está próximo dos R$ 2,5 mil mensais. Considerada uma preciosidade na esgrima, a brasiliense Cleia Guilhon, 20 anos, é uma das mais empolgadas com a oportunidade. Para ela, a vida militar significará a estreia no mercado de trabalho, pois é o primeiro emprego que tem na vida. Mais importante, diz ela, o soldo trará alívio imediato para o bolso %u2014 hoje, a espadachim vive da pensão que recebe do pai. %u201CNão esperava isso assim, tão cedo.%u201D Única mulher da esgrima a ser chamada até aqui, ela diz se sentir honrada. E está empolgada com a oportunidade: %u201CAlém do salário, vou ter apoio para as competições, vou poder viajar mais%u201D. Para completar, ela não precisará nem se adaptar a uma nova equipe. Seu treinador, o mestre d%u2019armas Evandro Oliveira, também será o técnico da seleção brasileira militar. Além disso, a companheira de treinos, Rayssa Costa, está na lista da próxima turma. Estranho ideal Apesar da ideia bélica que vem à mente quando se fala em Forças Armadas, o Conselho Internacional do Esporte Militar (CISM) nasceu com propósito de paz. Criada em 1948, no pós-guerra, a organização tem o ideal %u201CAmizade através do esporte%u201D. E ambiciona algo até estranho: a confraternização de soldados cuja missão é matar uns aos outros nos campos de batalha. Treinamento especial Foram vinte dias de preparação antes de receber as divisas no braço e se formar oficialmente em sargento Guilhon. Cleia conta que não foi fácil. %u201CRalei muito. Era acordar seis horas da manhã, ter aulas%u2026 O tempo de descanso era muito pouco para atletas.%u201D Mesmo assim, ela voltou do Rio de Janeiro encantada. %u201CNunca pensei que iria conhecer tanta gente de outros esportes.%u201D Cleia relembra com risadas das aulas. Com poucos conhecimentos da vida militar, os atletas cometiam gafes a todo momento. %u201CTem muita história para contar, muita diversão.%u201D Sempre vencida pelo sono, ela era uma das que dava mais trabalho nas aulas teóricas. %u201CMesmo quando não me mandavam ficar de pé, eu ficava, para não dormir. Porque eu tinha que prestar atenção naquilo, eu tinha que aprender.%u201D A esgrimista conta que passou por alguns momentos difíceis. %u201CO mais complicado foi a marcha de 12km e o acampamento. Eu estava muito cansada, fui ao meu limite mesmo.%u201D Ainda assim, Cleia confessa que os militares deram uma colher de chá ao pelotão da elite esportiva. %u201CEles foram muito pacientes com a gente.%u201D Saiba mais A origem dos Jogos A comemoração de 50 anos do fim da II Guerra Mundial foi o que motivou a primeira edição dos Jogos Mundiais Militares, em 1995, em Roma. Desde então, de quatro em quatro anos, o evento volta a acontecer. Eles já passaram por Zagreb (Croácia), Catânia (Itália) e Hyderabad (Índia). Um grande teste A infraestrutura do Pan-Americano do Rio deve ser reaproveitada para os Jogos Militares. Algumas instalações, como a do tiro com arco, em Deodoro, serão reformadas. Além disso, três vilas para hospedar os atletas estrangeiros serão construídas: a Vila Branca, situada em Campo Grande; a Vila Verde, situada na Vila Militar do Exército, em Deodoro %u2014 que será cedida para os Jogos Olímpicos %u2014; e a Vila Azul, situada em Campos dos Afonsos. Ao todo, haverá 1,2 mil apartamentos à disposição das %u201Ctropas inimigas%u201D. O torneio militar abre o ciclo de competições no Rio de Janeiro. Serão os Jogos Mundiais Militares em 2011, a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Com isso, servirá também como teste para a organização de todos os eventos. Por enquanto, o cronograma está apertado. As construções, por exemplo, ainda estão no início. A previsão é que as vilas fiquem prontas só em janeiro de 2011. Números dos jogos 6.000 atletas 20 modalidades 250 atletas na delegação brasileira Marinha também se prepara A oportunidade de ter mais um auxílio para treinar agradou a nadadora candanga Tatiana Lemos. Dona do recorde sul-americano nos 100m e 200m livre, participante das últimas Olimpíadas, Tatiana admite que nunca havia pensado em se tornar militar. Ela fez o estágio de treinamento de três semanas, a prova e a formatura. É uma marinheira com especialização agora. %u201CÉ uma forma de obter melhores condições de me manter treinando%u201D, comemora. Tatiana não sentiu dificuldade para se adaptar à nova vida. %u201CConheço o Exército. Meu pai é militar. Já estava bem habituada a quartel.%u201D No tempo de treinamento, Tatiana conta que teve aulas teóricas, que incluíam noções da organização das Forças Armadas, e práticas, como marcha e comando. A maior dificuldade, segundo a nadadora, eram as aulas no sol. %u201COs três primeiros dias foram os mais puxados. Acho que era para a gente perceber que virou militar, né?%u201D, diverte-se. Mesmo assim, Tatiana garante que, uma vez formada, sua vida voltou ao normal. %u201CMinha rotina continua a mesma. A única diferença é que agora tenho também as competições militares.%u201D Ela admite que não faz ideia de quem sejam e qual o nível dos seus novos adversários. %u201CMeu treinamento todo é feito não pensando nos Jogos Militares, mas no Pan de 2011.%u201D Estatísticas e curiosidades O esporte militar reúne hoje mais de um milhão de atletas ao redor do mundo. O Conselho Internacional do Esporte Militar (CISM) conta com 131 países membros %u2014 o que o faz a terceira maior entidade esportiva do mundo, ficando atrás da Federação Internacional de Futebol (FIFA), com 208 países membros, e do Comitê Olímpico Internacional (COI), que tem 205.

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