Superesportes

Campeão da vida

Márcio Oliveira teve que pedir dinheiro na Feira dos Importados para conseguir viajar. Mas venceu Campeonato Sul-americano e virou ídolo para alunos

postado em 03/01/2010 11:10
Para conquistar o Campeonato Sul-Americano de Jiu-Jitsu, no fim de novembro, em Florianópolis, o lutador Márcio Oliveira se tornou um exemplo de superação. Aos 30 anos, vivendo apenas do esporte e sem nenhum incentivo financeiro, ele ficou 31 horas dentro de um ônibus para chegar à capital catarinense, voltou com duas medalhas e uma grande história para contar.

Depois de conquistar a vaga para o torneio, Márcio, às vésperas da competição, não tinha dinheiro suficiente para viajar até o sul do país. Mas ele não desanimou. Com a ajuda de um amigo que tem uma loja na Feira dos Importados, ele saiu de banca em banca pedindo doações. ;Eu ia mostrando minha medalha do Brasileiro e as pessoas me ajudaram. Por incrível que pareça, os donos das menores lojas foram os que mais contribuíram;, lembra o lutador, que conseguiu juntar R$ 700 em doações, sendo R$ 100 de um único doador.

Com o dinheiro na mão, ele tentou comprar passagens aéreas, mas o preço era muito alto. ;A solução foi ir de ônibus mesmo. Gastei R$ 250 para ir e R$ 240 para voltar;, conta. Em cima da hora, Márcio chegou com o torneio em andamento. ;Fui direto para o ginásio. Consegui descansar só um pouco antes de lutar.; Dentro do tatame, o cansaço não atrapalhou. Ele conquistou a medalha de ouro na categoria leve (até 73,5kg). ;Depois da premiação, fui para trás do ginásio e chorei muito, lembrando de todas as dificuldades que passei para chegar ali. Para mim, foram duas vitórias: primeiro porque consegui chegar lá, e depois pelo título em si;, revela, emocionado.

Márcio Oliveira teve que pedir dinheiro na Feira dos Importados para conseguir viajar. Mas venceu Campeonato Sul-americano e virou ídolo para alunosLuta para pequenos guerreiros

Além das competições, Márcio Oliveira também é exemplo para diversas crianças que começam no esporte. Criador do projeto social Jiu-Jitsu Formando Campeões na Vida e no Tatame, que atende cerca de 40 crianças em Santa Maria há dois anos, ele dá aulas de segunda a sábado e é exigente com seus pupilos. Ele não cobra nada das crianças e ainda paga uma taxa simbólica para utilizar o ginásio de um colégio particular. ;Alguns pais me ajudam, assim como os alunos adultos que eu tenho. Mas a maioria das coisas que temos são doadas, como o tatame e os quimonos;, aponta.

Mas, para participar do projeto, Márcio exige uma coisa das crianças: bom desempenho na escola. ;Ele cobra bastante, briga com quem chega atrasado no treino e faz a gente trazer nosso boletim todo bimestre;, explica Laís Skalethy, 12 anos.

Já Felipe Cardoso, também com 12 anos, é tido por Márcio como uma das promessas. Segundo o professor, o jovem mais graduado da turma, hoje com a faixa verde, vai disputar as maiores competições daqui a alguns anos. ;Sonho em disputar grandes campeonatos e ganhar, que nem ele;, discursa Felipe, que só este ano participou e foi campeão de seis torneios no DF.

Superação e mais uma medalha

Mesmo cansado da viagem e das lutas, Márcio ainda teve forças para competir na categoria absoluto ; sem limite de peso. ;Cheguei a pensar em não lutar, pois estava muito cansado, sem força na pegada. Mas meus amigos me deram força, disseram que eu tinha vindo de muito longe para desistir naquela hora.;

Com o ânimo renovado, ele entrou na chave, que tinha 24 lutadores, todos de categorias mais pesadas, e só parou na semifinal. ;Venci um adversário de 90kg e outro de 100kg. Só fui derrotado na semifinal, por um cara que pesava 120kg. Ele vinha finalizando todo mundo, mas só me ganhou por pontos;, diz, orgulhoso, mostrando as duas medalhas.

Triste pela falta de apoio aos praticantes do jiu-jitsu, Márcio Oliveira espera conseguir competir no Campeonato Europeu, entre 28 e 31 de janeiro, em Lisboa. Segundo ele, só os melhores lutadores vão participar da competição. ;Mas para lá não dá para ir de ônibus;, brinca. Para o lutador, só no Brasil o esporte não é valorizado. ;No exterior, até pedem autógrafos aos brasileiros.;

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