Depois de passar meses ou até anos sem praticar uma atividade física, quem nunca acordou no dia seguinte completamente dolorido depois de retomar os exercícios? E quando na academia você muda a série da musculação, ou no treino exige do seu corpo mais do que deveria? A sensação no dia seguinte costuma ser terrível. Nesses casos, uma subida de um pequeno lance de escadas e até mesmo uma gargalhada parecem tarefas dificílimas. Mas quem pensa que é impossível se livrar dessas dores, engana-se. Algumas técnicas podem, sim, ajudar na recuperação muscular pós-treino.
;Essas dores são naturais. Significa que seu organismo está avisando que você usou demais algo que não estava treinado para isso;, esclarece a doutora em fisiologia do exercício Keila Fontana. ;Normalmente, quando se ultrapassa os limites no treino, as fibras musculares sofrem microlesões. São essas microlesões que causam as dores no dia seguinte e até 72 horas depois;, explica Fontana.
Segundo Roberto Peres Patú, preparador físico do Luziânia, time da primeira divisão do campeonato candango, esse incômodo sentido no dia seguinte é chamado de ;dor tardia; e funciona como uma alerta. ;Essas dores são provocadas pela liberação de substâncias nas microlesões. Elas têm a função de proteger o organismo. Assim, a dor é gerada para que você não extrapole no treinamento;, explicou ele, que é também fisiologista do exercício. ;Quando a pessoa é sedentária, as dores costumam ser mais fortes, causadas pela falta de condicionamento. Em atletas, quando você coloca uma sobrecarga ou muda o ciclo de treinamento, isso também acontece;, ressaltou.
Para os especialistas, o segredo para não sentir essa dores tão indesejáveis é não exagerar nos treinos e aumentar a intensidade e a carga de forma gradativa, para que o organismo vá se acostumando aos poucos às mudanças. ;Mesmo porque ninguém quer sentir dor para depois ficar traumatizado e desistir de se exercitar;, constata Keila Fontana.
Embora possa parecer insuportável se exercitar no dia seguinte, o ideal é não ficar parado. Para a recuperação muscular ser mais rápida, entretanto, é recomendada a prática de atividades leves. ;A atividade aeróbica em intensidade baixa vai ativar a circulação. Ao passar pelo corpo e percorrer a musculatura, o sangue oferece oxigênio e retira a concentração de dejetos que podem estar causando a dor;, explica Fontana.
Com os jogadores do Luziânia, Roberto Patú também utiliza a recuperação ativa. Ele, contudo, não espera o dia seguinte. Logo após o treino, o preparador físico propõe que os atletas façam um trote (corrida leve) para também estimular a circulação.
O professor de educação física e treinador de atletas de alto rendimento Edilberto Barros também utiliza a movimentação lenta depois dos treinos. No caso da maratonista Lucélia Peres, campeã da São Silvestre (2006), Edilberto promove uma corrida dentro da água. ;Esse trabalho ajuda no relaxamento e no resfriamento da musculatura;, justifica ele. Quanto às massagens musculares, o treinador diz que exigem atenção. ;Elas podem ajudar ou atrapalhar. Têm que ser indicada e feitas por profissionais. Em uma musculatura extremamente cansada, se não for para relaxar, pode trazer prejuízo.;
Testado e aprovado
Depois que começou a fazer o tratamento de crioterapia, Lucélia Peres diz que, de fato, a recuperação foi mais acelerada. Isso ajuda a maratonista a treinar melhor. ;Antes, fazíamos mais um trabalho de descanso. Percebi uma diferença muito grande. No dia seguinte, sinto que estou mais descansada e consigo treinar bem melhor.;
Apesar do incômodo de ficar imersa em tanto gelo, Lucélia diz que dá para aguentar tranquilamente o tratamento. ;Os primeiros três minutos são os mais complicados. Mas depois a musculatura se adapta e fica tranquilo.; Segundo ela, a sensação causada após a imersão é recompensadora. ;A sensação é de uma leveza muito boa. Parece que a circulação está mais ativa e, como a temperatura corporal fica muito alta, você sente um esfriamento muito bom;, jura a atleta.
Nova técnica, menor tempo de recuperação
Aplicada em atletas de alto rendimento, a crioterapia é um procedimento que vem apresentando excelentes resultados na recuperação muscular pós-treino. A técnica consiste no tratamento por meio do frio. A musculatura dos atletas é submetida a temperaturas de 3; a 5; graus, e os efeitos locais da aplicação incluem vasoconstrição e diminuição da taxa metabólica, da inflamação e da dor. No caso dos jogadores de futebol e dos corredores, eles ficam imersos em um tonel de água com gelo até a linha da cintura, já que os membros inferiores são os mais exigidos nos treinos.
;As veias e artérias diminuem de calibre fazendo com que haja uma pressão contrária. Quando você tira a pessoa da imersão, acontece uma supervasodilatação. As artérias dilatam mais do que deveriam e formam algo como uma enxurrada de sangue que passa com muita força e elimina as substâncias que causam as dores;, explica Roberto Patú. ;Por meio desse processo, você consegue uma recuperação mais rápida;, garante.
Há mais de quatro anos, Edilberto Barros também utiliza a crioterapia com Lucélia Peres. Ele diz que o tempo de imersão não passa dos cinco minutos. ;Ao entrar no gelo, o corpo tenta aquecer a pele e manter a temperatura corporal. Isso provoca a dilatação dos vasos e o aumento da circulação. Mas antes que o corpo entenda isso, a pessoa tem que sair da água para que a recuperação realmente seja eficaz;, destaca. ;O objetivo com isso é ativar a circulação e remover as toxinas oriundas da contração muscular.; Edilberto está contente com os resultados que alcançou com o tratamento. ;Os atletas recuperam-se bem mais rápido. Na prática, funciona muito bem.;