Entre tristezas e alegrias, o triatleta José Heitor Silva, 46 anos, começa 2010 com repaginação nos treinos para encarar desafios maiores depois de levantar, na última temporada, seu nono troféu brasiliense, desta vez na categoria 46 a 49 anos. ;Minhas metas são conquistar o décimo título em Brasília e me focar em provas de longa distância, sobretudo o Ironman (será sua sexta participação) e o Ultraman;, planeja.
Disputado apenas no Havaí (25 vagas) e no Canadá (30 vagas), o Ultraman é um sonho para muitos triatletas. Para participar, o concorrente precisa se inscrever e ter seu currículo aprovado pela organização da prova. ;Tenho certeza que serei aceito. No Havaí, enfrento o calor e no Canadá, o frio. Minha única dúvida é em qual participar. Completar o Ultraman é um sonho que quero realizar. Não tem premiação, mas quero deixar como legado para meus filhos a minha determinação. Que fique guardado que um dia o pai deles participou da prova mais difícil do mundo;, afirma Heitor, pai de Carlos Eduardo, 13 anos, e Tiago, 4 anos.
Além dos filhos biológicos, o triatleta ;adotou; 10 crianças carentes, de 8 a 14 anos, de São Sebastião. ;Eles acabam sendo meus filhos porque acompanho as notas na escola, ajudo na parte da alimentação, transporte e abri as portas da minha academia para que eles praticassem natação e capoeira. Eles me veem como ídolo e espero que levem a vida da forma mais saudável possível. Quero que eles vejam e aprendam que o esporte pode render bons frutos pessoais e profissionais;, revela.
Atleta desde pequeno, Heitor estreou nas competições como iatista na prancha a vela, aos 22 anos. Na época, começou a correr para se manter mais leve no esporte e, depois de se formar em educação física, passou a dar aulas de natação. ;Sempre nadei, corri e andava de bicicleta ocasionalmente. Até que em 1998 abri minha academia, Sport Point, e no ano seguinte comecei a competir no triatlo. Sempre fui competitivo e entrei de cabeça no esporte para vencer, queria ser um triatleta vencedor;, lembra.
Reviravolta
Desde então, a vida do triatleta passou por uma reviravolta. Com ;rotina de sacrifício;, Heitor faz das tripas coração para administrar o tempo como pai de família, empresário, professor e esportista. ;Abdico de sair à noite porque acordo cedo para treinar. É difícil ter tempo para tudo, principalmente quando você leva o esporte a sério e quer ser um vencedor. O triatlo toma muito tempo porque, além de treinar as três modalidades, ainda é necessário reforçar a preparação com musculação, para fortalecer os músculos e prevenir lesões, e massagens, para relaxar o corpo;, comenta.
Máximo da resistência
Considerada a prova de triatlo mais difícil do mundo, o Ultraman tem duração de três dias, com 10 km de natação, 421 km de ciclismo e 84 km de corrida. A prova acontece duas vezes ao ano, em locais totalmente diferentes: no Havaí (arquipélago norte-americano famoso pelo sol e ondas no Oceano Pacífico) e no gélido Canadá. A competição tem participação restrita e permitida somente após análise de currículo.
As mudanças nos treinos
Natação
Treino atual
Todos os dias, de 3.000m a 3.500m
Treino para 2010
Duas vezes ao dia, 2.000m pela manhã e de 3.000m a 5.000m à tarde. ;O principal desafio é ter um ritmo razoável e combinar resistência com velocidade;, explica
Ciclismo
Treino atual
Quatro vezes por semana, de 50km a 60 km
Treino para 2010
Pretende seguir plano elaborado pelo triatleta Leandro Macedo e calcula que pedalará, em alguns dias da semana, algo em torno de 150 km
Corrida
Treino atual
Cinco vezes por semana, de 12 a 15 km
Treino para 2010
Também seguindo as orientações de Leandro, Heitor espera reduzir o treino para quatro vezes por semana,
correndo em um deles 30 km
Quem é ele
Nome: José Heitor Silva
Data de nascimento: 5 de agosto de 1963
Altura: 1,75m
Peso: 72 kg
Categoria: 45 a 49 anos
Começo: Aos 36 anos, por incentivo do amigo triatleta Márcio Leão. ;Ele me chamou para participar da primeira etapa do Brasiliense, em 1999. Eu topei e fiquei em segundo. Nas duas etapas seguintes eu venci e conquistei meu primeiro título de campeão;, conta.
Principais títulos: Eneacampeão brasiliense de triatlo (de 1999 a 2006 e em 2009); campeão brasileiro de duatlo (1999); campeão brasileiro de triatlo olímpico (2007); campeão brasileiro de longa distância (2005); prata no Pan-Americano de aquatlo (2005); campeão sul-americano de triatlo olímpico (2004) e campeão da Copa do Brasil de triatlo (2009)
Homenagem ao amigo
O início do ano foi difícil para Heitor e para o triatlo candango. Em abril, seu grande amigo e triatleta Edmundo Alves da Costa, 60 anos, faleceu perto de completar a primeira etapa do Campeonato Brasileiro, em Belo Horizonte (MG). ;Pensei em parar de competir. Só não parei porque já tinha feito a primeira etapa do Brasiliense e pensei que ele ficaria triste se me visse desistindo. Continuar e vencer é uma forma de homenageá-lo;, avalia.
Cabeça é tudo
Para Heitor, o bom desempenho do atleta numa prova depende do treino e de como está sua cabeça. ;Tem gente que tem a luva da sorte e acredita em superstições. Eu não. Para mim o principal em uma prova, especialmente nas de longa duração, é a parte psicológica. Tanto para resistir aos treinos quanto para fazer acontecer durante a prova o que você planejou.;
Ele, que geralmente termina o Ironman em 10 horas e 30 minutos, começa o trabalho de concentração no período dos treinos. ;Gosto de treinar em silêncio. Tem gente que gosta de ouvir música e mudar o ritmo de acordo com a frequência do exercício. Para mim, a música é como um doping, um fator motivacional;, completa.
Como já passou da idade de disputar uma Olimpíada, Heitor faz planos para trabalhar nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro, como voluntário. ;Quero esbanjar saúde para trabalhar na equipe de apoio dos atletas, de preferência os do triatlo;, determina.
Treinador ilustre
Heitor se despediu do período de férias na última semana. Mantendo apenas a natação, o triatleta ficou 20 dias afastado dos treinos para descansar o corpo. ;Enquanto todos estão entrando de férias, eu retomo meu treinamento. Quero começar o ano 100% para cumprir minhas metas;, afirma. Depois de dois anos com treinos por conta própria, ele buscará orientação em 2010 com o experiente triatleta Leandro Macedo, que encerrou sua carreira de triatleta em 2007, como o brasileiro mais bem colocado no ranking mundial.
50km para os 50 anos de Brasília
; Como forma de homenagear Brasília pelos seus 50 anos, Heitor irá correr 50 km no dia 21 de abril. Ele irá largar mais cedo e depois encontrar o pelotão da Maratona de Revezamento, só que correrá solo. ;É uma forma de demonstrar meu amor à cidade;, afirma.
As principais distâncias da modalidade
; Super Sprint ; 375m de natação, 10km de ciclismo e 2,5km de corrida
; Sprint ; 750m de natação, 20km de ciclismo e 5km de corrida
; Olímpico ;1,5km de natação, 40km de ciclismo e 10km de corrida
; Ironman ; 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida
; Ultraman ; 10km de natação, 421km de ciclismo e 84km de corrida
Saiba mais sobre o Ultraman
No Havaí
A natação é feita em mar aberto. O ciclismo tem percurso com subidas e descidas de vulcões e montanhas. A corrida, uma ultramaratona, tem trechos de rocha vulcânica. Além das distâncias, os triatletas ainda são testados num calor que pode chegar a 42;C, ventos de até 40km/h, chuva e umidade em torno de 80%, condições que aumentam o grau de dificuldade da prova.
; Brasileiro na prova: Alexandre Ribeiro é tetracampeão
(2003, 2005, 2008 e 2009) e foi vice-campeão em 2007.
A sua melhor marca foi de 21h49m38s, em 2008. Em 2009, completou a prova em 22h10m12s.
No Canadá
Geralmente não chove durante os dias de prova, mas o frio é cruel. A prova de natação é feita num lago com pouca ondulação e temperatura média de 20;C. Os percursos de ciclismo e corrida são variados, passando por dentro da cidade e por desfiladeiros em colinas.
; Brasileiro na prova: em 2009, Milton Augusto Maciel foi o único brasileiro selecionado para a competição e sagrou-se vice-campeão com o tempo de 24h48m51s.