Agência France-Presse
postado em 09/01/2010 14:02
As autoridades políticas e esportivas de Angola estão investigando na região de Cabinda, fronteira com o Congo, o ataque armado da véspera contra a seleção de futebol do Togo, que deixou dois mortos e que ameaça ofuscar a realização da Copa da África de Nações (CAN).
O governo angolano e a Confederação Africana de Futebol (CAF) enviaram para Cabinda uma delegação dirigida pelo ministro do Interior para averiguar os graves fatos.
Em Luanda, o primeiro-ministro Paulo Kassoma se encontrou com o presidente da CAF, Issa Hayatou, para tomar decisões que garantam a boa realização da competição, que deve começar neste domingo. Segundo o premier, o ataque da véspera foi um ato isolado, mesmo reconhecendo que tenha se tratado de um "ato terrorista".
"O governo angolano quer oferecer toda sua compaixão e dar seu apoio moral à delegação togolesa" acresentou Kassoma. A equipe de Togo, por sua parte, decidiu não participar do torneio, segundo indicou à rádio BBC seu capitão, Emmanuel Adebayor. "Um número importante de jogadores quer ir embora. Eles viram seus companheiros com uma bala no corpo, chorando e desmaiando", contou o craque do Manchester City.
O ataque com metralhadoras contra o ônibus dois mortos, o técnico adjunto e o diretor de comunicações, enquanto que o motorista do veículo, anunciado como morto num primeiro momento, se encontra vivo, segundo informou neste sábado uma fonte da CAF.
Nove membros da delegação do Togo foram feridos quando o ônibus em que viajavam foi metralhado na sexta-feira na fronteira entre Congo e Angola. O zagueiro Serge Akakpo, que joga na Romênia, e o goleiro Kodjovi Obilalé, que defende um pequeno clube da França, foram feridos gravemente e levados para um hospital, onde foram operados.
O ataque foi reivindicado pela Frente de Libertação de Cabinda (FLC). Este território angolano rico em petróleo situado entre a República Democrática do Congo (RDC) e o Congo é assolado por um conflito separatista desde a independência da Angola, em 1975.
Apesar do ataque, a CAF, organizadora do evento, decidiu manter a competição. As sete partidas previstas em Cabinda poderão, no entanto, ser disputadas em Luanda, capital angolana.
Por sua parte, o governo assegurou que fará todo o possível para garantir a segurança da CAN enquanto que a associação de defesa dos direitos humanos Humans Rights Watch (HRW) disse que é preciso evitar a tentação do governo de lançar uma onda de repressão indiscriminada.
Segundo o governo central de Angola, a zona de Cabinda já não está em conflito desde 2006, depois da assinatura de um acordo de paz com Bento Bembe, um dos dirigentes políticos da FLEC.
Mas o grupo separatista sempre negou o acordo e já reivindicou vários ataques contra militares angolanos instalados na zona ou contra funcionários de empresas estrangeiras. Bento Bembe, convertido em ministro de direitos humanos, assegurou recentemente que a CAN tem garantidas todas as condições de segurança necessárias para celebrar a competição.
A organização da CAN é o ponto culminante de uma série de eventos que deviam simbolizar a normalização de Angola, entre elas as eleições legislativas de setembro de 2008, as primeiras desde 1992, e a cúpula da OPEP de dezembro passado.
No entanto, o ato terrorista de Cabinda e as imagens dos jogadores de Togo apavorados chorando difundidas pelas tvs do mundo inteiro frustraram os desejos do governo e recordaram os momentos mais sombrios de um passado recente.