Joana Tiso
postado em 20/01/2010 08:28
Rio de Janeiro ; A defesa do atacante Jóbson, em julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), ontem, tentou humanizar o caso de doping do jogador, dando ênfase à preocupação com a saúde e sua história de vida. O depoimento do atleta ; um dos principais responsáveis pela permanência do Botafogo na Série A do Brasileiro ; foi direto e surpreendente. Ele negou o uso de cocaína, mas revelou que fumou crack mais de uma vez. No fim, acabou suspenso por dois anos. O advogado do Brasiliense, Carlos Portinho, garantiu que vai recorrer da decisão. A expectativa no tribunal é de que o Pleno diminua a pena para um ano.;No Brasiliense, eu fumei em 2008 e nada aconteceu. Não sabia que poderia me prejudicar e cair no doping. Levei um susto quando falaram de cocaína. Aí descobri que a substância é a mesma;, afirmou Jóbson aos auditores. ;Mas não sei se sou viciado;, disse.
Jóbson chegou ao STJD 20 minutos antes do horário marcado para o seu julgamento, ao lado dos presidentes Maurício Assumpção, do Botafogo, e Luiz Estevão, do Brasiliense ; clube que detém os seus direitos federativos. Blindado pela diretoria candanga e seu advogado, sentou-se na última fila do auditório, cercado por dirigentes, e pouco falou. Inclusive, deixou o tribunal em silêncio.
Durante a leitura do relatório do processo, Jóbson pouco se mexeu. Nem mesmo no momento em que sua declaração assumindo o uso de cocaína, em entrevista a uma emissora de televisão, foi destacada. Não balançou a cabeça e tampouco se lamentou. Vez ou outra, abaixava o olhar. A impressão era de uma tensão contida. A pressão aumentou na hora dos votos doas auditores. O atacante não segurou o choro. Quando um deles recomendou a pena de um ano, o atleta, de 21 anos, fechou os olhos, fez que sim e enxugou as lágrimas.
Em certo momento do julgamento, Luiz Estevão foi até o atacante e fez algumas observações ao pé do ouvido. Os dois se conhecem desde que Jóbson chegou às categorias de base do Brasiliense. O dirigente pediu a vez e mostrou uma série de reportagens do Correio sobre a gravidade do uso de crack entre os jovens.
;Ele não sabia da gravidade desse vício. Não podemos perdê-lo;, argumentou Estevão. ;O crack causa dependência e mata. Vamos nos preocupar com a saúde do jogador ou jogá-lo no fundo do poço? Renato Silva e Giba buscaram tratamento e se recuperaram. Hoje são exemplos;, reforçou Portinho.
Apoio alvinegro
Maurício Assumpção ficou ao lado de Jóbson durante todo o tempo e fez um afago no atleta após seu depoimento. ;A torcida do Botafogo tem carinho pelo menino. Somos gratos a ele, que nos ajudou a permanecer na Primeira Divisão. Quem via o Jóbson treinando com alegria, com aquele jeitão moleque, hoje imagina que ele parece ter envelhecido 30 anos. Ele tem uma ingenuidade nas emoções, mas sabe o tamanho do problema que tem. Sabe também que há pessoas do lado dele;, contou o homem forte do alvinegro.
Na saída do STJD, Carlos Portinho criticou o resultado. ;Não posso me conformar com essa punição. Não houve preocupação alguma com a saúde dele. O futebol precisa se preocupar também com a recuperação. Com Maradona, a suspensão não levou à abstinência. Acho que isso pode ser revisto no recurso. Temos que pensar em uma forma de tratar as drogas sociais;, assegurou o advogado.
Entenda o caso
Jóbson foi pego no exame antidoping após a vitória do Botafogo sobre o Coritiba (2 x 1), em 8 de novembro, pelo Brasileiro. A contraprova confirmou a existência de substância ilícita no sangue do atleta. Em seguida, a CBF divulgou que foram encontrados traços de cocaína na urina do jogador nos testes feitos depois do triunfo do alvinegro sobre o Palmeiras (2 x 1), em 6 de dezembro. O atacante, que já havia acertado a sua transferência para o Cruzeiro, foi suspenso preventivamente por 30 dias e corria risco de ser banido do futebol.
Opinião do internauta
;Temos exemplos de pessoas que começaram do zero, passando fome, e hoje são procuradores da República, advogados, ou seja, cidadãos bem sucedidos. Esse indivíduo tinha tudo para ser alguém na vida. Paciência. Sempre veremos essas coisas neste país;
Gilson Medeiros
Gilson Medeiros
;Como é chique dizer que é financiador do narcotráfico
e da violência!”
Francisco Vieira
e da violência!”
Francisco Vieira
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Saiba mais
O crack é uma droga feita de uma mistura de cocaína com bicarbonato de sódio ou amônia. Sua forma sólida permite que seja fumada. Pela forma de uso, é mais potente do que qualquer outra droga e provoca dependência desde a primeira pedra. O crack é de fácil acesso, sem cheiro e de efeito imediato. Chega ao cérebro de oito a 12 segundos e provoca intensa euforia e autoconfiança.