postado em 21/01/2010 08:49
Você já imaginou correr uma distância equivalente à do Lago Norte a Goiânia sem parar para comer, descansar nem dormir? Para a maioria das pessoas, essa atitude pode parecer inconcebível. Mas, para os 60 ultramaratonistas que participarão do Brazil 135 Ultramarathon, na Serra da Mantiqueira (MG), esse será o tamanho do desafio. A largada da prova que é uma das etapas da Copa do Mundo de Corridas de 135 milhas (217km)e é considerada a mais difícil do Brasil será às 8h do sábado, em São João da Boa Vista (SP). A partir daí, os competidores terão, no máximo, 60 horas para completar o percurso, todo em trilha, até Paraisópolis (MG).Os atletas que aceitarem participar da corrida receberão no pacote bolhas, assaduras, frio, dor, sono, cãimbra e exautão extrema ao fim da competição. Louco assumido, Juvam Palmeira diz que nada disso importa: desafiar o corpo, mas conseguir superar os limites e cruzar a linha de chegada traz uma sensação recompensadora.
Praticante da ultramaratona há apenas um ano e meio, o brasiliense já foi duas vezes vice-campeão na categoria individual da Volta do Lago (100km). No ano passado, ele correu pela primeira vez a BR 135 e conseguiu completar a prova em 47h19min e levar uma simbólica medalha de ouro ; todos os participantes que chegam até 48 horas depois da largada ganham essa recompensa. Juvam não lembra a sua posição real na prova de 2009.
Com o know-how da primeira experiência, o mecânico de 36 anos quer terminar a corrida desta vez em 30 horas. Com esse tempo, ele sonha em subir ao pódio. ;A estratégia é ir devagar e sempre. Em 2009, eu liderei até o quilômetro 80, mas depois não consegui dar continuidade no ritmo;, revelou. Juvam calcula fazer, em média, cada quilômetro em sete minutos. ;É claro que tem hora que isso vai subir para 12, 13 minutos. Vai depender muito da dificuldade do terreno, da inclinação;, ponderou.
Segundo o ultramaratonista, que acorda todos os dias às 5h e vai e volta correndo de Sobradinho, onde mora, até o seu trabalho, na Asa Norte (o que dá, aproximadamente, 40km por dia), participar de uma prova como essa requer muito equilíbrio emocional. ;Exige mais mente que corpo. Chega um momento que parece que não é mais a gente que está ali. Se você não tiver condicionado psicologicamente, você desiste. E isso acontece muito;, ensinou.
Planejamento
Ainda de acordo com Juvam, o planejamento também é fundamental. Para isso, ele conta com o apoio de quatro amigos que o acompanharão de carro para fornecer alimentação, água, roupas e medicamentos quando necessário. Como o desgaste no percurso é grande, o atleta diz que chega a perder até 4kg ao final da prova.
Alimentar-se o tempo todo, segundo Juvam, é essencial. Mesmo porque, se na chegada ele estiver 6kg mais magro, será desclassificado automaticamente. ;Eu como durante a prova toda. Ingiro bastante carboidratos, suplementos, isotônicos, cápsulas de sódio, frutas e coca-cola, que tem glicose e cafeína;, contou o atleta vegetariano.
Apesar de ser uma das principais competições de ultramaratona do país, a BR 135 não distribui prêmios em dinheiro. Quem participa da prova desembolsa, aproximadamente, segundo Juvam, R$ 4 mil, gastos entre inscrição (R$ 750), hospedagem, alimentação, medicamentos e transporte. ;A gente faz porque é louco;, resumiu o atleta.
"Para não perder tempo os atletas vão fazendo xixi na roupa. Principalmente as mulheres para não terem que agachar e correrem o risco de travar a musculatura"
Juvam Palmeira, ultramaratonista
Juvam Palmeira, ultramaratonista
Dicas do que levar para a prova
- Lanterna tipo de uso em capacete para a iluminação noturna
- Mochila com kit básico de sobrevivência (em alguns trechos, os atletas correrão sem o veículo de apoio)
- Repelente
- Vários pares de tênis
- Capas de chuva (especialmente para proteção da mochila)
- Proteção contra o frio (de noite pode chover e esfriar muito)
- Material para proteção e tratamento dos pés