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Às vésperas do Mundial, jogadores viram inquilinos no Brasil e na Europa como tática final para ir à África do Sul

postado em 22/01/2010 08:30
São Paulo ; A pouco mais de cinco meses da abertura da Copa 2010, em 11 de junho, na África do Sul, jogadores de futebol no Brasil e no exterior aceitam qualquer negócio para figurar na lista definitiva de seus países na festa do Mundial. Vale tudo para não ficar escondido ou na reserva em algum clube estrangeiro. Alguns topam até mesmo o retorno ao Brasil por empréstimo somente até a Copa, ganhando um salário menor.

Vágner Love é o caso mais evidente entre os inquilinos. O atacante das trancinhas era presença constante nas primeiras convocações de Dunga. Ao lado do queridinho Robinho, o jogador cujo dono é o CSKA, de Moscou, foi titular na conquista da Copa América de 2007, mas depois caiu no esquecimento.

Embora seja ídolo na Rússia, topou uma redução salarial de R$ 580 mil para R$ 400 mil e voltou ao Palmeiras por empréstimo até a véspera da Copa a fim de aparecer mais na mídia e cativar o coração do treinador gaúcho. Em campo, não rendeu o esperado. Marcou cinco gols em 12 jogos e deixou o clube. Mas ele nem sequer cogitou voltar para as temperaturas abaixo de zero de Moscou. Fez campanha para jogar no Flamengo e conseguiu. Ficará no clube do coração, no qual até chorou na apresentação, até o meio do ano. Ele tem o apoio do clube russo, que vê em uma possível convocação para o Mundial a valorização do atacante por quem pagou R$ 17 milhões e com quem tem contrato até 2012.

A lista de inquilinos pré-Copa é repleta de nomes consagrados, mas que não tiveram muitas oportunidades nas convocações recentes. O atacante Fred voltou ao Brasil com o objetivo deliberado de ir novamente ao Mundial. Reserva no Lyon, conseguiu moradia no Fluminense por cinco anos. Autor de um gol na Copa de 2006, contra a Austrália, Fred teve um começo mediano e um fim de ano arrasador, mas ainda não sensibilizou Dunga.

Adriano largou a Internazionale alegando ter perdido ;a alegria de jogar futebol;. Duas semanas após ser liberado pela equipe italiana, no fim de abril, o Imperador assinou com o Flamengo, onde foi artilheiro, campeão brasileiro e conseguiu voltar ao grupo de Dunga. Embora seja louco para voltar à Itália, onde ainda mantém um luxuoso apartamento, foi convencido pelo empresário, Gilmar Rinaldi, a esperar mais seis meses. Se voltasse para a Europa, correria o risco de demorar para engrenar e perderia o bonde para a África do Sul.


Correndo pelas laterais

Reserva de Roberto Carlos na Copa do Mundo de 2006, o lateral-esquerdo Gilberto começou a era Dunga como o dono da camisa 6. No entanto, com as péssimas atuações com a camisa do inglês Totthenham, foi perdendo espaço até ser esquecido nas convocações.

No ano passado, o jogador de 33 anos decidiu voltar ao Brasil. Escolheu o Cruzeiro. Em sua apresentação, não escondeu a vontade de voltar a vestir a camisa 6 verde e amarela: ;A chance pode aparecer no último momento, na última convocação;, espera.

No início do ano, a lista de inquilinos aumentou. Roberto Carlos deixou o pouco visível futebol turco para voltar ao Brasil e, quem sabe, à Seleção. ;Vou esperar passar estes três ou quatro meses de Campeonato Paulista. Se eu estiver bem, a oportunidade pode acontecer. Depende do Dunga;, comentou.

Suplente de Cafu na Copa de 2006, Cicinho chegou a ser titular na primeira fase, contra o Japão. Em 16 de agosto de 2006, foi o dono da camisa 2 na estreia de Dunga à frente da Seleção. Duas partidas depois, começou a perder a vaga para Maicon. Encostado na Roma, Cicinho enxerga no São Paulo a chance de recuperar o tempo perdido. As negociações se arrastam. ;No São Paulo, vou ganhar 10 vezes menos do que ganho aqui, mas vou jogar e ser feliz 10 vezes mais. Se volto e jogo bem, posso ter uma chance. O ;homem; ainda não fechou o grupo.;


Saiba mais

Outras duas estrelas foram assediadas para tentar voltar ao Brasil em troca de visibilidade na corrida por uma vaga no Mundial. O Botafogo chegou a sondar Ronaldinho Gaúcho, do Milan. Reserva no Manchester City, Robinho teria ligado para um conselheiro do Santos manifestando o desejo de voltar ao clube e ficar mais próximo dos olhos de Dunga. Depois, o oferecido negou tudo.


Últimas cartadas

; Vágner Love
Vinculado ao CSKA, está emprestado ao Flamengo. Espera ir à Copa brilhando no rubro-negro

; Fred
Tem propostas da Europa, mas prefere usar a camisa do Fluminense como atalho para o Mundial

; Adriano
Indisciplinado na Inter, da Itália, aproveita as regalias no Flamengo para brilhar e voltar à Seleção

; Gilberto
Escondido no Tottenham, abandonou a Inglaterra e tenta ir à Copa pelo Cruzeiro

; Roberto Carlos
Trocou o Fenerbahçe, da Turquia, pelo Corinthians, de olho na camisa 6 da Seleção, ainda sem dono

; Cicinho
Está louco para ser emprestado pela Roma ao São Paulo. Seria sua última cartada pelo Mundial

; Beckham
O jogador do Los Angeles Galaxy, dos EUA, foi obrigado pelo técnico da Inglaterra, Fabio Capello, a cavar uma vaga em um time europeu de ponta. É inquilino do Milan.

; Luca Toni
Reserva no Bayern de Munique, alugou a camisa da Roma para tentar ir à Copa com a Itália de Marcello Lippi


Europeus também têm seus inquilinos

Não são só os jogadores brasileiros que mudam de clube para ficar mais próximos da Copa do Mundo. Escondido no futebol americano com a camisa do Los Angeles Galaxy, o meia inglês David Beckham foi emprestado ao Milan no primeiro semestre de 2009 e conseguiu voltar à Seleção Inglesa comandada pelo exigente técnico italiano Fábio Capello. Depois de retonar aos Estados Unidos e ouvir do treinador do English Team que só iria à África caso jogasse por um time europeu, Beckham negociou mais uma vez seu empréstimo. Está de volta ao Milan. O jogador ficará até julho no clube, irá à Copa e depois retornará ao Galaxy.

Tetracampeão mundial com a Itália, em 2006, Luca Toni é outro que topou um empréstimo para buscar seu espaço na Seleção. O atacante italiano de 32 anos viveu seu auge em 2005, na Fiorentina, quando foi eleito o maior artilheiro da Europa.

Em alta, transferiu-se para o alemão Bayern de Munique, em 2007, mas não repetiu as boas atuações do futebol italiano. Reserva, com problemas de relacionamento com o técnico do Bayern Louis Van Gaal, e fora das últimas convocações, topou na hora o convite para defender a Roma em 2010. Fica no clube da capital italiana até o fim da temporada, de preferência com uma pausa para defender a Itália no continente africano.


Quando a tática dá certo

Deixar a Europa e retornar ao Brasil não tem se mostrado a melhor ideia para retornar à Seleção Brasileira. Os jogadores em atividade no futebol brasileiro e que estão constantemente nas convocações de Dunga são atletas com bom tempo de casa em seus clubes.

São os casos do zagueiro Miranda, há quatro anos no São Paulo, do goleiro Victor, há dois no Grêmio, e do lateral-esquerdo Kleber, no Internacional desde 2008. Outros jogadores no Brasil lembrados ocasionalmente, como André Dias, do São Paulo, e Diego Souza, do Palmeiras, também fogem do perfil ;topo tudo pela Seleção;. Na lista do Mundial de 2006, apenas Rogério Ceni e Mineiro (São Paulo), e Ricardinho (Corinthians) atuavam no futebol brasileiro.

Mas ao menos para o centroavante Luizão, em 2002, a tática de mudar de clube funcionou. Presença cativa nas listas de Luiz Felipe Scolari antes da Copa do Japão e da Coreia do Sul, o atacante se lesionou e rompeu com a diretoria do Corinthians. Ao ouvir de Felipão que precisava jogar para garantir seu passaporte para o Mundial, o jogador se transferiu para o Grêmio. Aceitou ganhar quatro vezes menos.

No tricolor gaúcho, Luizão recuperou-se e jogou apenas oito partidas, o suficiente para estar na lista definitiva da Seleção, pedir a sua rescisão com o clube de Porto Alegre transferir-se para o Hertha Berlin. ;Em 2002, acertei com o Grêmio porque precisava jogar para ir à Copa. Mas o clube também aproveitou a oportunidade de levar um jogador de seleção brasileira barato. O Grêmio me usou e eu usei o Grêmio;, assumiu, à época.

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