O hit é um gol de placa. Acertou em cheio o coração do artilheiro, está gravada no Ipod e não sai do ouvido do centroavante antes de cada exibição pelo Sevilla ou com a camisa 9 da Seleção. Inspirado na letra e música do rapper paulista Pablo, 33 anos ; professor de química e mestrando em energia nuclear pela Universidade de São Paulo (USP) ;, o Fabuloso promete ser uma bomba atômica contra Coreia do Norte, Costa do Marfim e Portugal na Copa da África do Sul. Em entrevista ao Correio, o jogador topou comentar os principais versos da biografia. Sorriu ao lembrar que seu nome de guerra um dia foi Biro, se aborreceu ao lembra que foi chamado de pipoqueiro pela torcida do São Paulo, emocionou-se a lembrar do avô Ditão e de ter visto o Mundial de 2006 pela televisão e mandou um recado a Ronaldo & Cia.: ;Vai ser difícil tirar o pão da minha boca;.
De repente todo mundo começou a fazer gol. Isso já estava previsto, mas não vou perder o meu espaço tão mole não. Lutei muito para chegar até aqui
Prazer... Luis Fabiano Clemente
Hoje sou um Luis Fabiano mais maduro do que o povo brasileiro acompanhou no início da minha carreira no São Paulo. Aquele garoto jovem, que era explosivo. Hoje sou totalmente diferente. Sou tranquilo, mais experiente, centrado, determinado naquilo que tracei para a minha carreira.
Sou preto, sou mestiço, fui criado sem pai/Qualquer coisa o sangue sobe ;vai que vai;
Eu era bem isso. Você aprende com o tempo, aprende com Deus a controlar o temperamento. Antes, eu explodia por qualquer coisa. Mas Deus me deu algumas felicidades na vida, como o nascimento da minha filha. Foi um amadurecimento legal pra mim. Com Deus você passa a ser mais experiente e aprende a lidar com as situações. E o tempo, quando você quer mudar, ajuda.
Tudo o que eu queria era ser jogador de futebol
Sou realizado em todos os aspectos. Profissional, pessoal. Eu corria muito atrás do meu sonho, que era ser jogador. Lutei bastante, tive muitas dificuldades, mas consegui. Sou uma lição de vida para quem está começando e quer ser jogador de futebol.
Em 94, toca a bola Biro...
Biro era o meu apelido na infância. Pelo que contam os meus tios, eu tinha o cabelo muito grande, meio loiro e queimado do sol. Como tinha o Biro-Biro, que jogou no Corinthians, passaram a me chamar de Biro. Quando fui para a Seleção sub-20, tinha o apelido de Biro e joguei com o Ronaldinho Gaúcho. O apelido pegou. Em 2003, quando reencontrei o Ronaldinho na Seleção, ele virou pra mim e disse ;Biro;, mas eu já era o Luis Fabiano. Quando cheguei ao São Paulo, tinha três Fabianos. Para diferenciar passaram a me chamar de Luis Fabiano.
Lindo era o velho Benedito. Meu avô, meu pai, meu grande incentivo
Minha mãe se separou muito cedo. Eu era pequeno. Meu avô foi quem sempre me incentivou, me criou. Eu e a minha mãe morávamos na casa dele. Esse é o cara que ficou marcado, a minha referência de criança. Hoje, eu gostaria muito que ele estivesse aqui para ver tudo o que eu venho conquistando na minha carreira. Mas, com certeza, em algum lugar, ele está vendo.
19 anos, Europa eu não queria. Sentia saudade, aumenta a agonia. Alguém me tira daqui
Foi um período difícil. Eu era muito jovem e nunca tinha ficado longe da família, viajado para tão longe. Fui para um país de difícil adaptação, que é a França. Estava em um lugar frio, que chovia muito. Ainda tinha o problema da língua. Naquele momento, eu não queria jogar futebol. Eu só queria ver a minha família, voltar para o Brasil. Foi uma passagem decepcionante, até porque quando um jogador não quer jogar, não há quem o faça jogar.
2002, feliz cheguei o Morumbi
Foram momentos de muitos gols e muita alegria no São Paulo. O clube me acolheu muito bem, com um carinho muito grande. É um clube, ao lado da Ponte Preta, que eu sempre vou levar no meu coração porque me fez chegar à Seleção, me tornar um grande jogador.
Eu considerado guerreiro/Alguns me chamaram até de
pipoqueiro
Se eu falar que a minha saída do São Paulo foi malresolvida eu estou mentindo. Mas não chega a ser uma mágoa. É uma cicatriz. Sempre mostrei na minha carreira que sou o contrário do que fui chamado. Sempre dei a volta por cima, até mesmo no São Paulo. Dei a cara pelo São Paulo. Muitas vezes, joguei até machucado. Com um time limitado chegamos longe na Libertadores. Tudo é o contrário do que dizem. Mas uma pequena parte da torcida começou a culpar a mim e ao Rogério Ceni. Isso me desagradou e me desagrada até hoje. Mas o carinho que eu tenho pelo clube e pela maioria dos são-paulinos me faz pensar no São Paulo com carinho e não naquele momento ridículo que uma minoria fez com a gente naquele momento. Apesar disso, a minha primeira opção no caso de voltar ao Brasil seria o São Paulo, mas não descarto nenhum outro clube.
Não teve jeito Portugal o meu destino/Pressão, pressão meu futebol estava caindo...
Cheguei ao Porto machucado, tive dificuldades para jogar, fiz poucos gols. Depois tive problemas pessoais com o sequestro da minha mãe, que durou dois meses e cinco dias. Depois de passar pela França e por Portugal eu queria voltar ao Brasil. Mas aí surgiu a chance de jogar na Espanha, um país que sempre me atraiu. Eu me dei uma última chance. Graças a Deus está indo tudo muito bem.
Minha mãe, ela foi sequestrada/Dois meses, só negociação/ Sem cabeça vi a Copa pela televisão...
Foi duro. Participei muito do grupo. Fui campeão da Copa América, em 2004. Mas eu tenho que ser realista. Aquele não era o meu momento. Realmente eu vinha de um período difícil no Porto e em uma fase recuperação no Sevilla. Em 2006, eu estava bem, mas já tinha perdido o meu espaço na Seleção. Encarei com naturalidade. Atrás vinham outros jogadores. Na Seleção é assim: se bobear, outros jogadores te atropelam. Foi o que aconteceu. Conquistaram o meu espaço.
Uma vez na vida brindei com asorte/ Minha convocação veio
após um corte
Na minha vida nunca conquistei nada fácil. Tudo veio com dificuldade, muita luta. Nunca ninguém me deu as coisas de bandeja. Sempre tive que lutar bastante. Infelizmente houve a lesão de um companheiro (Afonso Alves) e acabei sendo convocado.
O palco minha casa: Morumbi/Obrigado meu Deus pelo que fazes por mim
Eu nem sabia se iria jogar, mas acabei jogando contra o Uruguai (em novembro de 2007). E no Morumbi, um estádio onde eu conheço todos os atalhos. Acabei me dando bem. Conseguimos uma vitória sofrida (2 x 1), necessária em um momento difícil. Ali começou a minha volta por cima.
Passei como um trator por todos os adversários
Consegui ter uma sequência de jogos. Fiz muitos gols, atingi uma média excelente e me firmei na Seleção Brasileira. Tenho uma média excelente desde 2007 e espero continuar assim...
Faço gol, meto gol, gol paga o meu salário
O gol mais bonito desde a minha volta à Seleção Brasileira, pela importância, por tudo o que envolvia a partida lá em Rosário, foi contra a Argentina (3 x 1). O mais importante foi aquele contra os Estados Unidos (3 x 2), no começo do segundo tempo da final da Copa das Confederações. Perdíamos por 2 x 0 e aquele gol era necessário para o início da reação. Se o tempo passa complicaria um pouco mais, mas demos a vida outra vez e conquistamos o título.
Mas aí vai ser ruim tomar o meu espaço
De repente todo mundo começou a fazer gol. Isso já estava previsto, mas não vou perder o meu espaço tão mole não. Lutei muito para chegar até aqui.
Humildade é o lema, mas aqui ninguém é trouxa
Eu respeito todos os jogadores que querem ir para a Copa do Mundo, mas eu também vou lutar, vou tentar segurar o meu lugar. Tenho a vantagem de estar no grupo, de estar jogando.
Fui humilde várias vezes tiraram o pão da minha boca
Assim como o Ronaldo e outros concorrentes, eu tenho vontade de ir à Copa e não vou dar mole. Não sei se estão tentando tirar o pão da minha boca, mas vai ser difícil.
Em todos os meus sonhos me vejo com a 9
Isso não depende só de mim, mas realmente, hoje, quando eu penso na Copa do Mundo, imagino como será vestir a 9 em um Mundial. Coloco isso como objetivo. Basta eu continuar jogando bem aqui no Sevilla e manter a forma. Fazendo isso, depois de tudo o que produzi pela Seleção Brasileira, ninguém tira a minha camisa.
Deus escreve certo por linhas certas/A gente é que às vezes não sabe ler
A responsabilidade é grande. Os que jogaram no ataque antes de mim foram ;só; Romário e Ronaldo. Em 1994, o Baixinho só foi convocado para o último jogo das Eliminatórias (contra o Uruguai) e decidiu. Fez os dois gols que classificaram o Brasil e ganhamos o tetra. Em 2002, o Ronaldo estava machucado. Ninguém acreditava nele e ele arrebentou (8 gols). Eu fui chamado após um corte (de Afonso Alves). Quem sabe essa não é a minha vez...
O fardo nunca é maior do que se pode carregar
A pressão tem que se tornar motivação. Eu me motivo ainda mais sob pressão. Depois de dois anos eu já sei como é ser dono dessa camisa. Sempre joguei sob forte pressão no São Paulo e agora na Seleção. A pressão existe. Quem veste a camisa 9 sempre tem que marcar gols.
O artilheiro fala da Copa
; Coreia do Norte
É desconhecida. Dizem que vai ser fácil, mas todo jogo de Copa é difícil. Eu sinceramente não tenho conhecimento da Coreia.
; Costa do Marfim
Eu conheço bem. Três jogadores deles jogam comigo no Sevilla. São fortes, rápidos e de qualidade. Vão dar muito trabalho. Quando saiu o sorteio fiquei confiante. Sei que eles vão ser uma pedra no sapato, mas eles ficaram mais assustados do que eu porque eles vão jogar contra o Brasil (risos).
; Portugal
Jogamos duas vezes contra eles, nos demos bem na última partida aí em Brasília (6 x 2), mas Copa é outra história. Se a gente conseguir impor o nosso ritmo, o nosso futebol, vencemos qualquer um.
; Título
Gostaria de chegar à final, independentemente do adversário, mas, no momento, a Espanha é uma seleção que pode surpreender. Pelo que vem jogando, demonstrando, é uma das favoritas.
; Brasília
Contra Portugal, chegamos em um dia, jogamos no outro, mas a recordação é boa. Fiz três gol no Bezerrão. Na época do São Paulo também joguei contra o Gama, no Brasileirão de 2002, mas eu sai cedo. Eu me choquei com um zagueiro alto (Gerson). Bati a cabeça e tive de levar 12 pontos.
O professor Pablo e o rap
; Ideia
Fiz tudo por conta própria, ele não sabia de nada. Sou rapper, tenhos dois discos gravados e gosto muito de futebol. Torço pelo São Paulo e sou fã do Luis Fabiano. Acompanho toda a carreira dele. Minha memória é muito boa. Como sei tudo da carreira dele foi rápido, a letra saiu naturalmente.
; Letra
Minha intenção foi contar a história dele em ordem cronológica, mostrar o exemplo de um guerreiro, daí o refrão ;prazer, sou Luis Fabiano, faço gol, meto gol, continuo lutando;.
; Produção
O ritmo do rap tem muito do Adoniran Barbosa. Também usei algumas narrações de gol e alguns trechos de entrevista do Luis Fabiano.
; Encontro
Fiz a música e joguei no YouTube. Ele que descobriu. Em dezembro, ele veio a São Paulo e quis me conhecer. Nos encontramos no CT do
São Paulo. Ele agradeceu o rap e me deu uma camisa 10 do Sevilla.
; Parte 2
Prometi ao Luis Fabiano escrever a segunda parte da música depois da Copa. Tomara que seja com final feliz, contando a história do hexa