postado em 01/02/2010 17:19
O Mundial de atletismo de Berlim, disputado em agosto do ano passado, ficou marcado pelo fracasso de Yelena Isinbayeva. Favorita absoluta ao ouro na prova do salto com vara, a russa errou suas três tentativas na final e acabou eliminada da disputa, assim como a brasileira Fabiana Murer, que almejava um lugar no pódio. Entretanto, análises realizadas pelos técnicos das duas atletas apontam que uma falha dos organizadores pode ter sido a causa dos maus resultados.
"A gente acha que teve um problema no colchão da prova", revelou Elson Miranda, treinador de Fabiana Murer. "Ele tem um ângulo de encaixe para dar a possibilidade de a vara envergar, mas lá eles levantaram o colchão em 20cm para colocar uma câmera. Isso acabou mudando o ângulo e as varas batiam no colchão, não permitindo a algumas atletas saltarem direito", emendou.
De acordo com ele, a brasileira e a russa foram especialmente prejudicadas devido ao fato de ambas possuírem uma técnica na qual a vara enverga mais que a de outras competidores no momento do salto. Por isto, não conseguiram ultrapassar marcas que estão acostumadas a superar. "Eu olhava para o Vitaly (Petrov, técnico de Insibayeva) e a gente falava 'O que está acontecendo?'. A regra, no final das contas, não foi respeitada", lamentou Elson.
Fabiana conta que, nas eliminatórias do Mundial, o problema passou despercebido porque as alturas superadas pelas atletas nesta fase são fáceis. Mas, logo na decisão, um incidente a fez perceber que algo estava errado. "Eu estava sempre voando para o lado e em um dos saltos quase cai fora do colchão", destacou.
A certeza do ângulo errado, porém, só veio cerca de uma semana depois, com a análise biomecânica dos saltos e a verificação das condições da disputa. "Na final, nenhuma imagem mostrava a vara enconstando. Aí você vai falar o quê? E, mesmo que você reclame, isto deve ser visto antes e falado para o organizador", comentou Miranda.
Se confirmada, esta não seria a primeira vez que Murer é prejudicada em uma prova devido a falhas da organização. Nas Olimpíadas de Pequim, uma de suas dez varas simplesmente sumiu, desconcentrando a saltadora, que discutiu com os árbitros e até chorou durante a disputa. Abalada, ela ficou longe de sua melhor marca e perdeu a chance de conquistar uma medalha na China.
Ocorrências que deixam Fabiana e o técnico Elson Miranda cada vez mais atentos. "Agora, assim como com as varas, sempre abrimos o colchão antes das provas e verificamos", comentou o treinador, que logo em seguida citou os resultados do cuidado. "Em Zurique (etapa da Golden League, disputada 11 dias depois do Mundial), o colchão era o mesmo e a Yelena bateu o recorde mundial, com a Fabiana em terceiro fazendo uma boa marca", observou.
Nesta quarta-feira, Murer embarca para a Europa, a fim de disputar uma série de torneios preparatórios antes do Mundial Indoor, programado para março, no Catar.