postado em 03/02/2010 08:52
A melodia do hino do Bahia é uma súplica à coleção de troféus: ;(...) Mais um, Mais um Bahia, Mais um, mais um título de glória (...);. A galeria do clube fundado em 1931 exibe 43 estaduais, um Brasileiro (1988), uma Taça Brasil em 1959 ; com vitória sobre o Santos de Pelé ; e duas Copas do Nordeste. No entanto, desde o rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro, em 2003, a sina do fanático torcedor tricolor é contar o número de técnicos que tentaram ou tentam devolvê-lo à elite.O mais novo candidato a super-homem, mascote do Bahia, é Renato Gaúcho. Embora seja mais famoso do que os 14 atores que o antecederam no papel, o ex-atacante não é de aço. Pousou em Salvador badalado, cheio de força, mas a série de três partidas consecutivas sem vitória ; tal como a criptonita ; ameaça enfraquecê-lo ou até derrotá-lo em caso de novo tropeço, hoje, contra o Atlético de Alagoinhas, pela sexta rodada do Campeonato Baiano. Nas últimas exibições, o Bahia perdeu para o arquirrival Vitória (2 x 0), para o Bahia de Feira de Santana 5 x 3), e tropeçou no Madre de Deus (0 x 0).
;Não quero ser super-homem ou super-herói. Quero ser apenas o Renato Gaúcho, ter tempo para devolver a alegria a uma torcida carente de ídolos e de títulos. O Bahia não conquista um título estadual faz nove anos e espera há sete pela volta à Série A;, planeja Renato Gaúcho, em entrevista ao Correio.
A declaração em tom de suplica tem os seus motivos. Internamente, alguns dirigentes começam a ver o candidato a herói como um possível vilão. Após a derrota para o Bahia de Feira de Santana, no domingo, houve uma reunião de emergência para discutir a situação de Renato. ;O clube vive de vitórias e o treinador também, mas ele está com a gente;, garantiu o superintendente de futebol Elizeu Godoy.
Confiante, Renato Gaúcho não se rende. ;Você mesmo acaba de me dizer que o Bahia teve 14 técnicos desde que caiu para a Segunda Divisão. Eu sou o 15;. Tenho a confiança do presidente (Marcelo Guimarães Filho) e vou concluir o meu trabalho. Só peço paciência. É preciso dar tempo ao tempo. Se não for assim, o Bahia terminará o ano com mais cinco técnicos nessa lista;, desabafou, escorando-se em um time grande. ;O São Paulo tem um timaço e vive um momento difícil, por que eu não posso sofrer um pouco aqui no Campeonato Baiano?;, ironizou.
TJD pode punir Renato
; Como se não bastasse a série de três jogos sem vitória, Renato Gaúcho pode ser castigado pelas duras críticas ao árbitro Gleidson Santos Oliveira na derrota por 5 x 3 para o Bahia de Feira de Santana, no último domingo. O treinador teria se dirigido ao juiz de forma desrespeitosa e proferido palavras de baixo calão. Se for punido, o técnico pode ser enquadrado no artigo 258 (assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva), que prevê pena de uma a seis partidas de suspensão, ou no 258-B (invadir local destinado à equipe de arbitragem, ou o local da partida), cuja pena varia de um a três jogos de gancho. Em entrevista ao Correio, o técnico se defendeu. ;Apenas disse para ele ver em casa, na televisão, as lambanças que ele fez.;
As 14 vítimas da criptonita
Veja quem já tentou levantar o Bahia após a queda de 2003 para a Série B
Técnico - Ano
Vadão 2004
Procópio Cardoso 2005
Hélio dos Anjos 2005
Jair Picerni 2005
Charles Fabian 2006
Lula Pereira 2006
Mauro Fernandes 2006
Arthurzinho 2007/2008
Ferdinando Teixeira 2008
Roberto Cavalo 2008
Paulo Comelli 2008/2009
Sérgio Guedes 2009
Alexandre Gallo 2009
Paulo Bonamigo 2009
Renato no Bahia
17/1 ; Colo-Colo 1 x 5 Bahia
20/1 ; Bahia 3 x 0 Vitória da Conquista
24/1 ; Vitória 2 x 0 Bahia
27/1 ; Bahia 0 x 0 Madre de Deus
31/1 ; Bahia 3 x 5 Bahia de Feira
Resumo
; 2 vitórias
; 1 empate
; 2 derrotas
; 11 gols pró
; 8 gols contra
O que ele disse
;Não quero ser super-homem ou super-herói. Quero ser apenas o Renato Gaúcho e devolver a alegria à torcida. O Bahia não conquista um título estadual faz nove anos e espera há sete pela volta à Série A;
;O São Paulo tem um timaço e vive um momento difícil na temporada, por que eu não posso sofrer um pouco aqui no Campeonato Baiano?;
;Você mesmo acaba de me dizer que o Bahia
teve 14 técnicos desde que caiu para a Segunda Divisão. Eu sou o 15;. Se não tiverem paciência o Bahia terminará o ano com mais cinco técnicos nessa lista;
;Eu precisava dessa primeira experiência fora do Rio e não vou desperdiçá-la;
Técnico não pediu Edílson, mas agradece
Uma das justificativas de Renato Gaúcho para os recorrentes pedidos de paciência à torcida e à imprensa é a juventude do elenco. ;O grupo é cheio de garotos. São jogadores inexperientes. Às vezes, eles cometem erros infantis. Prometo à torcida um time bem mais forte, experiente, para lutar não só pelo título, mas pelo retorno à Série A, que é o nosso principal objetivo na temporada;, garante.
Depois de pedir ajuda ao Senhor do Bonfim na passagem de ano, Renato Gaúcho também conta com ajuda de um Capeta. Pentacampeão mundial, o atacante Edílson, 39 anos, curtia a aposentadoria numa boa quando o telefone tocou com uma oferta para ele voltar a jogar futebol. Engana-se quem pensa que o convite foi invenção de Renato Gaúcho;
;A ideia não foi minha não, partiu do presidente (Marcelo Guimarães Filho). Mas estou achando bom. Estou fazendo com o Edílson o mesmo trabalho que realizei com o Romário na época do Vasco. O Edílson é um líder. Os gols e a experiência dele vão me ajudar a passar tranquilidade para a garotada;, espera.
Memória
Dois títulos nacionais
Em 1988, o Bahia conquistou o Campeonato Brasileiro (foto) após vencer o Internacional na decisão. Em 1959, o tricolor de aço conseguiu a proeza de derrotar o Santos de Pelé na final da Taça Brasil e tornou-se o primeiro time do país a disputar a Taça Libertadores da América, em 1960.
Saiba mais
O Bahia caiu para a Série B do Brasileiro em 2003. Disputou a Segunda Divisão em 2004 e em 2005 e despencou para a C. Depois de dois anos na terceirona (2006 e 2007), voltou à Série B em 2008, de onde ainda não saiu.
Os altos e baixos de Renato Gaúcho
; 1996
Divide as funções de jogador e técnico interino do Fluminense duas vezes e termina o ano como um dos responsáveis pelo rebaixamento do tricolor carioca para a Série B do Brasileiro.
; 2000
Recuperado do trauma, demora quatro anos para estrear oficialmente como treinador. Assume o Madureira. Termina em décimo lugar na classificação geral e evita o rebaixamento por um triz.
; 2001
Volta a comandar o Madureira no Carioca. Termina em sétimo lugar.
; 2002
Assume o Fluminense no Brasileiro. Termina a primeira fase em sétimo e leva o clube ao mata-mata. Despacha o São Caetano, nas quartas de final, mas é eliminado pelo Corinthians nas semifinais.
; 2003
Elimina o Flamengo nas semifinais do Carioca, mas perde o título para o Vasco. Inicia o Brasileiro, mas é demitido em julho. Deixa o Flu próximo da zona de rebaixamento. Volta em outubro e evita a queda para a Série B.
; 2005
Passa o ano inteiro desempregado.
; 2006
Assume o Vasco. Termina o Carioca em nono. Na Copa do Brasil, perde a final para o Flamengo. Termina em sexto no Brasileiro, a melhor colocação cruzmaltina desde o título de 2000.
; 2007
À frente do Vasco, perde para Flamengo e Botafogo nas semifinais das Taças Guanabara e Rio, respectivamente. Demitido, volta ao Fluminense. Conquista a Copa do Brasil. No Brasileiro, o tricolor termina em quarto.
; 2008
Perde a final da Taça Rio para o Botafogo.
Leva o Fluminense à decisão da Libertadores, mas perde para a LDU. Lanterna do Brasileiro, é demitido. De volta ao Vasco, cai para a Segunda Divisão.
; 2009
Substitui Carlos Alberto Parreira em julho no Fluminense, mas não emplaca no Campeonato Brasileiro e perde o emprego em setembro.
; 2010
Após três meses de férias, assume pela primeira vez um clube fora do Rio. A missão é dar ao Bahia o título estadual após nove anos de jejum e levar o clube de volta à Série A, de onde caiu em 2003.