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Clássico no Rio da Janeiro opõe criatura e criador

Depois de alimentar uma "cobra" na passagem pelo Flamengo, Joel Santana busca um antídoto para escapar do "veneno" do ex-auxiliar Andrade e classificar o Botafogo para a final, contra o Vasco

Patrícia Trindade
postado em 17/02/2010 08:44
Jorge Luís Andrade da Silva esteve nos bastidores do último tricampeonato estadual do Flamengo. Era auxiliar técnico de Ney Franco (2007), Joel Santana (2008) e Cuca (2009). Aprendeu com os três. Após anos e anos sentado na cadeira da academia rubro-negra, Andrade recebeu o sonhado diploma e surpreendeu ao conquistar o Campeonato Brasileiro. Eleito o melhor treinador do último Nacional, assumiu a missão de dar ao clube da Gávea o inédito tetracampeonato carioca.

No entanto, o êxito na pós-graduação depende de dois de seus ex-professores. O mestre Cuca, do Fluminense, foi derrotado pelo discípulo Andrade com requintes de crueldade na fase de grupos da Taça Guanabara: 5 x 3, de virada, com 4 x 0 só no segundo tempo. Mas ainda resta o doutor Joel Santana. PHD em Campeonato Carioca ; conquistou seis títulos à frente dos quatro clubes tradicionais do Rio ;, o técnico do Botafogo planeja alternativas para reprovar o aluno nota 10, às 21h50, no teste das semifinais.

O tira-teima entre a criatura e o criador tem uma palavra-chave: defesa. Entre os semifinalistas, Flamengo e Botafogo são os piores no quesito: sofreram 13 gols em sete partidas. Logo, quem exibir uma tese de jogo mais convincente no Maracanã disputará o título do turno com o Vasco, no domingo.

A lousa tática do professor Andrade anda desajustada desde a contusão do chileno Maldonado e a saída do versátil Aírton para o Benfica. A zaga do Flamengo está exposta. Toró é um dos responsáveis pela proteção aos zagueiros Álvaro e Ronaldo Angelim e aos avanços dos laterais Leonardo Moura e Juan. Porém, o volante não tem feito o dever de casa corretamente. Fã de Toró, Joel Santana conhece as virtudes e as limitações do xodó e pode usá-lo como atalho para o triunfo alvinegro.

O esquema de Joel Santana (3-5-2 ou 4-1-4-1) não é novidade para Andrade. Nos tempos de auxiliar, o técnico do Flamengo viu Joel Santana usar Aírton ou Toró como terceiro zagueiro, da mesma forma como ele posiciona, hoje, Fahel, no Botafogo. A questão é a bola aérea. O argentino Herrera e o uruguaio El Loco Abreu são implacáveis pelo alto, e a defesa rubro-negra é baixa, lenta e desatenta na marcação.

Do outro lado, Joel Santana estuda um jeito de parar a dupla de ataque Adriano e Vágner Love. Ambos marcaram 11 dos 21 gols do Flamengo. Misterioso, o técnico alvinegro promete um nó tático. Resta saber se a armadilha chama-se Caio ou Somália. Se a opção for pelo atacante, Herrera ou Abreu podem deixar o time. Neste caso, o ataque alvinegro ganharia velocidade e cobraria atenção dobrada de Leonardo Moura e Juan, dois importantes garçons de Adriano e Love. Caso aposte no volante Somália, Joel Santana tentará sufocar os homens de criação: Petkovic ou Vinícius Pacheco e Kléberson, o elemento surpresa rubro-negro, autor de três gols neste carioca.

"O Andrade foi meu auxiliar em todas as passagens pelo Flamengo, mas faço as minhas preleções sozinho, sem o auxiliar, para depois ele não mudar de lado e entregar o que eu penso"
Joel Santana, técnico do Botafogo


Joel Santana

Nascimento: 25/12/1948
Local: Rio de Janeiro

Trunfos


Experiência

É técnico há 29 anos. Ao assumir o Botafogo, exibiu o currículo e cobrou: ;Tem que respeitar;

Malandragem

Sabe ter o elenco nas mãos. Caio, por exemplo, foi liberado para namorar após ajudar Joel na estreia contra o América

Simplicidade

Quando seu time é inferior ao adversário, arma retranca sem a mínima cerimônia. À frente da África do Sul, por exemplo, fez o Brasil sofrer nas semifinais da Copa das Confederações: perdeu por 1 x 0.

Principais títulos

Copa Mercosul e Campeonato Brasileiro (Vasco, 2000).
Pelo Botafogo: Campeonato Carioca (1997)


Joel investe na bola aérea

Patrícia Trindade


Rio de Janeiro ; Não é exagero dizer que Joel Santana está se preparando para uma guerra no Maracanã. Adiantou a concentração em um dia, proibiu seus atletas de irem à Sapucaí no segundo dia de desfiles, impediu a entrada da imprensa nos treinos coletivos e nas cobranças de pênalti e promete uma arma secreta para tentar parar o poderio de ataque do atual campeão brasileiro.

;Tenho as minhas cartas na manga. Por isso, eu pedi treinos secretos nos últimos dias. Por que vou encarar o melhor time do Brasil e não posso chegar lá armado com uma 22. Preciso de bomba, fuzil, o escambau.;

Joel dá pistas de que a arma secreta será pelo alto, com Loco Abreu e Herrera, que medem 1,93 e 1,81m, respectivamente, um duelo teoricamente desigual contra a zaga rubro-negra formada por Álvaro (1,80m) e Ronaldo Angelim (1,78m). Nervoso e gesticulando muito, Joel Santana insistia na qualidade dos cruzamentos pelos lados, com Alessandro e Marcelo Cordeiro. ;Enfrentei o Álvaro algumas vezes no Campeonato Espanhol, mas apesar de ele ser baixo, tem uma ótima impulsão;, elogiou Abreu.

Natalino só ficou nervoso quando foi questionado se seria cauteloso contra o Flamengo. ;Você (jornalista) quer saber se eu vou entrar na retranca? Acho engraçado quando falam que eu sou retranqueiro. Cheguei a oito finais e fui campeão carioca seis vezes na minha carreira. Já montei times que atuavam quase num 4-2-4, porque eu tinha confiança na defesa e no ataque. Agora, eu tenho nas mãos um time teoricamente pior tecnicamente que o Flamengo, que sofreu mudanças e que eu ainda não conheço tão bem;, reclamou.

"O Joel tem facilidade de agregar o grupo, sempre sai com tiradas engraçadas e conquista a todos. Isso ficou de aprendizado. Eu tenho o perfil diferente. Sou de falar pouco e observar mais"
Andrade, técnico do Flamengo


Andrade

Nascimento: 21/4/1957
Local: Juiz de Fora (MG)

Trunfos

Ousadia

Quando assumiu o Flamengo, aboliu o esquema tático 3-5-2 adotado pelos antecessores Cuca, Caio Júnior e Joel Santana, apostou no 4-4-2 e conquistou o título brasileiro.

Coragem

Contra o Fluminense, foi para o intervalo perdendo por 3 x 1. Trocou Petkovic por Vinícius Pacheco e Fernando por Willians, goleou Cuca por 4 x 0 no segundo tempo e virou o jogo para 5 x 3.

Determinação

Não desiste fácil do foco. Assumiu o Flamengo várias vezes como interino, mas só assumiu de fato como técnico após seis anos de espera.

Título

Campeonato Brasileiro (Flamengo, 2009)

Depois de alimentar uma

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