Roberto Naves
postado em 19/02/2010 08:44
A crise do governo do Distrito Federal (GDF) ameaça atingir os planos da ambiciosa reforma do Mané Garrincha para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O secretário de Esportes, Aguinaldo de Jesus, e o gerente do projeto candango, Sérgio Graça, admitem o risco de atraso na ampliação de 42 mil para 71 mil torcedores, estimada em até R$ 600 milhões durante três anos. O resultado da concorrência tem previsão para ser divulgado na próxima quinta-feira (data da abertura dos envelopes da licitação), apenas quatro dias antes do limite oficial para o começo das obras das arenas esportivas das 12 cidades-sede do Mundial.;Não acredito que seria o caso de uma cidade deixar de receber os jogos (se não cumprir o prazo de 1; de março). A partir de março, vamos passar a acompanhar como estão as obras. O que pode acontecer é ver que o estádio não será viável e levarmos o caso à Fifa (Federação Internacional de Futebol) para discutir, mas a gente não acredita que vá ter nenhum problema;, revela o diretor de Comunicação do Comitê Organizador Local (COL) e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rodrigo Paiva.
A situação política do GDF, no entanto, cria riscos para a entrega do palco candango. ;A previsão é começar no fim de março ou começo de abril, mas tudo vai depender do desenrolar desse problema que está ocorrendo;, confessa o secretário de Esportes, Aguinaldo de Jesus. ;Estamos trabalhando com as informações anteriores, mas se você me perguntar: ;E agora?;, Não sei te responder, mas todas as coisas que são transparentes têm que continuar sendo feitas;, revela o gerente do projeto local para o Mundial de 2014, Sérgio Graça.
Planos em perigo
No fim do ano passado, a promessa era a de que as obras teriam começado já em fevereiro. Para piorar, pessoas ligadas ao secretário de Esportes, Aguinaldo de Jesus, já contam uma história diferente sobre a data de início da reforma. Segundo amigos que dizem ter conversado com ele, o secretário está bastante preocupado e já especula que as obras comecem, sendo otimista, em junho.
;Diante desses fatos que estamos vendo aí: renuncia ou não renuncia, vai ter intervenção federal ou não, a situação só se transforma ainda mais em uma incógnita. Torço que isso não aconteça, mas se houver uma intervenção, aí pode mudar tudo e atrapalhar bastante o cronograma. Afinal, o interventor que decidirá tudo. Se manterá o projeto e etc.;, admite Aguinaldo de Jesus.
O secretário de Esportes ainda faz um apelo a quem estiver na liderança do Distrito Federal. ;Não sei o que vai acontecer. Quem estiver no comando tem a missão de fazer com que Brasília não deixe de ser sede. Afinal, a Copa do Mundo é uma festa do povo e os brasilienses não podem ser prejudicados por conta disso tudo. Mas atrasar, infelizmente, é bastante possível;, declarou o secretário. (PO)
Análise da notícia
Brasília paga o preço político
O cobiçado plano do então governador José Roberto Arruda, até então cada vez mais íntimo do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, era fazer a abertura da Copa de 2014 em Brasília. O grande trunfo da cidade é ser a capital federal, sede dos Três Poderes e de todas as embaixadas, com maior independência de financiamento de obras. Era o motivo alegado para se construir na cidade de rarefeita tradição de futebol um estádio milionário, com capacidade de mais de 60 mil lugares, limite exigido para jogos iniciais e finais de um Mundial.
A queda de Arruda, no entanto, mexe no xadrez político da escolha do local da abertura. Com a provável escolha sentimental da decisão para o Maracanã, maior e mais famoso estádio do Brasil, além de palco da derrota de 1950 para o Uruguai, Brasília perde fôlego na briga com São Paulo e Belo Horizonte pelo jogo inicial. Por mais que o projeto candango tenha vantagens estruturais, pela maior capacidade de financiamento e espaço, a definição é feita nos bastidores.
O resultado das cidades que vão sediar o primeiro e o último jogo da Copa, porém, só sai em dezembro, em decisão da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Pelo menos é o que promete Ricardo Teixeira, que adora curtir o poder de ser o homem da Copa de 2014, mas evita pagar o custo político de desagradar aos eventuais perdedores de um jogo de bilhões de reais. (RN)
Cronologia
2009
31 de maio
A Federação Internacional de Futebol (Fifa) anuncia Brasília como uma das 12 cidades-sede da Copa de 2014.
27 de novembro
Estoura a crise política que levaria à prisão e ao afastamento do cargo o govenador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. O escândalo também derrubou, entre outros auxiliares, Fábio Simão da chefia do comitê organizador de Brasília.
2010
25 de fevereiro
Data prevista para o fim da licitação para a reforma do Mané Garrincha.
1; de março
Prazo para o começo da construção dos 12 estádios.
2012
Dezembro
Fim do prazo estipulado para a construção dos 12 estádios da Copa de 2014.
Empreiteiras brigam pela concorrência
; Com previsão do resultado ser divulgado na próxima quinta-feira, a licitação pela reforma milionária do Mané Garrincha conta com três concorrentes nacionais em um negócio estimado em até R$ 600 milhões: a OAS, a Odebrecht e um consórcio formado por Via Engenharia e Andrade Gutierrez.
As 12 cidades-sede
; Belo Horizonte
; Brasília
; Cuiabá
; Curitiba
; Fortaleza
; Manaus
; Natal
; Porto Alegre
; Recife
; Rio de Janeiro
; Salvador
; São Paulo
Três anos de obras
A ampliação do Mané Garrincha de 42 mil para 71 mil lugares é uma ousada reforma, estimada em até R$ 600 milhões para até três anos de obra. O prazo, aparentemente gigantesco, é pequeno porque os 12 estádios precisam estar prontos até dezembro de 2012, por exigência da Federação Internacional de Futebol (Fifa), da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local ( COL ).
Com medo de eventuais atrasos, a CBF e o COL fixaram 1; de março como limite para o começo das obras dos 12 estádios. ;Essa data foi estipulada porque seria um prazo razoável para os estádios estarem prontos para a Copa das Confederações, que será disputada em julho de 2013;, lembra o diretor de Comunicação da CBF e do COL, Rodrigo Paiva. (RN)
Tropa de choque
O Comitê Organizador Local (COL) tem um nome pomposo, mas se confunde com a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), como tropa de confiança do todo-poderoso presidente Ricardo Teixeira, único responsável pelas indicações. O comitê é formado, entre outros, pelo próprio cartola, sua filha Joana Havelange e até o mesmo diretor de Comunicação, Rodrigo Paiva