postado em 20/03/2010 08:50
Aparentemente emocionado, o técnico Gérson Vieira conversou, por telefone, com o Correio, e explicou os motivos da sua saída do Gama, mesmo fazendo um bom trabalho. Apesar de não citar o nome, o comandante do Alviverde deixou a entender nas entrelinhas que havia alguns problemas a serem aparados com o goleiro Alencar. Jogador mais experiente do clube e com mais identidade com o clube, o rodado camisa 1 estaria fazendo a cabeça de alguns jogadores - todos mais novos - a não seguirem e até mesmo a demonstrarem insatisfação com a maneira de Gérson dirigir a equipe.
Mas há uma versão confirmada por muitos que parece explicar o fato de Gérson ter pedido o boné. Para boa parte do grupo começou a ficar contrariado com a postura do ex-comandante, após a vitória por 3 x 1 sobre o Brasiliense. "Ele mudou a postura. Passou a se achar o melhor", disse uma pessoa ligada ao Alviverde. Ainda nesta semana, com a presença do gerente de futebol, Flávio Raupp, os jogadores se reuniram com Paulo Goyaz, presidente, para comentar sobre os desentendimentos entre atletas e comissão técnica. "Porém, depois disso, o Flávio começou a se reunir com grupinhos de jogadores para querer me desestabilizar. Mas sempre fui um líder, e sempre que há um problema, o grupo me procura, e o represento perante a comissão ou a diretoria. Faz parte do meu perfil e isso também acontece porque estou no Gama há muito tempo", disparou Alencar.
O camisa 1 deixou bem claro não ter nada contra Gérson Vieira, mas disse que não trabalharia mais com Flávio Raupp. "Nenhum grupo vai bem com um cara que quer rachar o elenco. Era o homem de confiança do Paulo e fez isso por trás dele. Por isso, a situação ficou insustentável. Contra o Gérson, não tenho nada. Ele me colocou como capitão e tudo mais."
Gérson Vieira deu sua versão sobre os fatos. "Fiquei sabendo que o Flávio Raupp tinha sido demitido ou havia pedido demissão, e procurei o Paulo Goyaz. Como a decisão foi irreversível, pedi demissão. Não sei exatamente o motivo do problema entre eles. Mas sem o Flávio, eu não continuaria aqui. Acabaria todo o ambiente no dia a dia", disparou o treinador.
Gérson Vieira mediu as palavras, mas mostrou seu desapontamento com Goyaz. "Ele me ajudou bastante. Me segurou quando poucos acreditavam em mim, mas agora ele errou feio. Estávamos fazendo um trabalho excelente. O Gama estava andando mesmo sem patrocínios", justificou.
Indagado se o motivo era problema de relacionamento com o elenco, Gérson falou: "Eu contratei todos os jogadores. Se eu não gostasse deles, não pediria para fazerem parte do meu grupo. Tenho 99% do grupo em minhas mãos." Ao ser questionado se as exceções seriam Iron e Alencar, o comandante retrucou: "O Iron com certeza não me dava problemas. É um cara sensacional. Foi quase que um auxiliar técnico para mim no Ceilandense. Não seria agora que as coisas iriam mudar. Teve uma boataria, mas já conversamos." O treinador não quis citar o nome de Alencar, mas soltou: "Tem jogador, justamente o mais experiente, que quer ser malandrão demais e interferir no meu trabalho".
Raupp culpa falta de planos
O gerente de futebol Flávio Raupp, mesmo sendo acusado de criar teorias da conspiração, não falou sobre problemas de relacionamento. "Quando fui convidado para retornar, havia um projeto de valorizar quem gosta do Gama. Hoje, apenas dois jogadores (Rael e Pirajú) não têm seus direitos econômicos presos ao clube. Mas houve um probleminha e já mudaram. Preferiram deixar de lado a ideia inicial do projeto. Por isso, resolvi sair."
Memória
Não é a primeira vez que o goleiro Alencar organiza um motim para pedir a saída de alguém. No mesmo Gama, quando Carlos Macedo, hoje vice, era o presidente, ele queria de qualquer jeito derrubar o então gerente de futebol, Jair Rabelo. O cartola era acusado de mal tratar os jogadores e mandar escalar atletas que ele fosse o empresário. No fim das contas, Rabelo seguiu no Alviverde, mas parou de acompanhar os jogadores em viagens, a pedido de Alencar.
A voz do presidente
"O Flávio Raupp tem um defeito grave, que se chama criar teoria da conspiração. E comigo não existe isso de apontar culpados. Fiz uma reunião com todo o elenco e os 33 jogadores estavam insatisfeitos com o Gérson. Não foi uma coisa de grupinho nem nada. Trabalho há muito tempo com gente e sei quando é coisa de grupo ou não", avisou Paulo Goyaz. Ele, que é advogado, explicou a demissão:
"Soube que o Flávio havia organizado uma reunião com apenas parte do elenco. Sou contra, reclamei, ele não gostou, então dei as contas dele. O Gérson saiu em solidariedade. Não tenho nada contra o Gérson, tanto que o convidei para ser técnico dos aspirantes, e ele ficou de pensar".