postado em 13/04/2010 08:30
Acusações mútuas, trocas de lado, empréstimos em busca de votos às vésperas das eleições. Foi nesse clima nada amistoso que os 20 maiores clubes do país se reuniram por apenas 15 minutos no escritório do Clube dos 13, em São Paulo, e definiram os rumos do futebol brasileiro para os próximos três anos. Em jogo estavam, principalmente, os direitos milionários do Campeonato Brasileiro para o próximo triênio. Assim, mesmo representando o continuísmo, Fábio Koff - presidente da entidade desde 1996 - foi aclamado para o seu sexto mandato consecutivo, vencendo, por 12 votos a 8, o opositor Kléber Leite, aliado da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da TV Globo. Sua principal promessa foi a renegociação dos direitos televisivos, hoje estipulados em R$ 660 milhões anuais, que segundo Koff podem atingir os R$ 2 bilhões por ano.
Ricardo Teixeira, presidente da CBF e defensor dos valores atuais pagos pela Globo, tentou de todas as formas conseguir colocar um aliado no comando do Clube dos 13. Com seu aval, os presidentes das federações estaduais fizeram campanha em prol de Kléber Leite, empresário de publicidade e propaganda que mantém negócios com a própria CBF. Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol, foi o principal cabo eleitoral: ligou para todos os cartolas paulistas, mas só conseguiu os votos de Santos e Corinthians, clube contrário à realização de partidas da Copa do Mundo no Morumbi.
De olho na manutenção dos valores vigentes do contrato de transmissão da Série A, que termina em dezembro de 2011, a Globo liberou um suspeito empréstimo de R$ 8 milhões ao Corinthians. Já a CBF ofereceu a mesma quantia ao Botafogo, clube que assinou o pedido de reeleição de Koff e, subitamente, mudou de lado. E mesmo com aliados tão poderosos, Kléber Leite sequer teve o voto do seu ex-clube, o Flamengo, que integrou a chapa de Koff.
De olho na autonomia da entidade e de mais dinheiro nos cofres, com a provável concorrência da TV Record pelas transmissões esportivas, a maioria ficou com a situação. Enquanto a principal bandeira de Koff era essa renegociação dos contratos televisivos, inclusive os da Série B e da Copa do Brasil, atualmente nas mãos da CBF, Leite apostava na criação de receitas alternativas, em estratégias de marketing coletivo.
Manobra política
Há 14 anos no cargo, Fábio Koff jura que é contra o continuísmo, mas soube agir com rapidez quando descobriu as intenções de candidatura de Leite. Em uma manobra política, ele conseguiu antecipar as eleições para o triênio 2011/2013, que seriam somente no fim do ano. Assim, Leite teve apenas duas semanas para angariar votos e, mesmo com aliados de peso, saiu derrotado.
ANÁLISE DA NOTÍCIA
Não vale a pena ver de novo
Roberto Naves
O resultado da eleição do Clube dos 13 significa mais uma raríssima derrota da poderosa aliança Rede Globo e Ricardo Teixeira do que a rotineira vitória do eterno presidente Fábio Koff. Em um inédito racha no grupo de elite, o sexto mandato seguido do veterano cartola gaúcho soa como grito de independência da maioria dos associados do monopólio que negocia os direitos de transmissão. Não por acaso, o atual contrato de R$ 1,4 bilhão por três anos vence em 2011.
A candidatura oposicionista de Kléber Leite, radialista oriundo da Rede Globo de Rádio e empresário de marketing com negócios com a emissora e a CBF, carregava o DNA de corpo estranho no processo. Depois de tanto jogo pesado nos bastidores, até com ofertas em dinheiro, sua derrota atesta uma surpreendente resistência. Vale esperar agora para ver como serão os desdobramentos políticos, principalmente a negociação do novo contrato de TV. Se haverá concorrência e/ou os valores serão maiores.
Nessa briga sem mocinhos, no entanto, é difícil acreditar que Fábio Koff faça o papel de salvador da pátria. No cargo desde 1996, o cartola preferiu comandar o coro dos contentes para não mudar em nada - Ricardo Teixeira e a Globo, pelo visto, queriam alguém ainda menos autônomo no comando do Clube dos 13. A disputa inédita, por sua vez, abre algum espaço para mudanças. O difícil é acreditar em avanços e rupturas com esse tipo de gente. Ainda mais no país acostumado às acomodações, em que até o grito de independência de Portugal foi proclamado por um português, e herdeiro do trono da metrópole.
Perdedores reclamam
Candidato derrotado, Kléber Leite elogiou a eleição para a presidência do Clube dos 13, dizendo não guardar mágoas de ninguém. "Acho que foi bom esse envolvimento de todos. O processo democrático foi retomado e agora tenho que desejar toda a sorte do mundo ao Fábio Koff. Foi boa essa sacudidela", disse Leite.
Mas, mesmo com o discurso amistoso, o carioca criticou o pouco tempo que teve para fazer sua campanha. "Infelizmente não houve tempo para trabalhar. Se tivéssemos mais um mês, talvez o resultado fosse outro", reclamou.
Andrés Sanchez, principal apoiador da candidatura de Leite, também acredita que não há um racha entre os clubes. "É preciso mudar muitas coisas e espero que o Fábio Koff cumpra o que falou. Espero que se melhore o Clube dos 13, não só a estrutura interna, mas o futebol brasileiro como um todo. Esta eleição não tem perdedor", disse o comandante alvinegro, que não perdeu a chance de alfinetar o cartola do rival São Paulo. "O Juvenal Juvêncio sempre foi contra o Fábio Koff. Agora eu espero que ele cobre as promessas também."
Entrevista - Fábio Koff
Eleito para o seu sexto mandato consecutivo, o ex-presidente gremista manteve seu confesso ar bonachão mesmo com a vitória apertada. Após o resultado, ele falou ao Correio os principais assuntos que envolveram as eleições do Clube dos 13.
Rivalidades
"Antecipei as eleições a pedido do opositor (Kléber Leite nega) e aceitei a possibilidade de ser mais uma vez presidente por que entendi que estava em jogo a autonomia da entidade. Seja por intermédio do presidente da CBF ou das federações, entendi que estava em jogo a identidade do Clube dos 13. Agora vou me dedicar ao máximo nos próximos anos para atingir nossos objetivos."
CBF
"Confesso que não acreditava que o doutor Ricardo (Teixeira) estivesse interferindo nas eleições. O Clube dos 13 foi criado justamente como unidade contestadora do poder da CBF. Só fui acreditar que ele esteve envolvido no momento em que os presidente das federações entraram em campo e de maneira ostensiva pediram votos usando ameaças. Há algumas que eu acredito que tenham ocorrido. Outras ficam por parte das intrigas."
Continuísmo
"Eu não sou a favor do continuísmo. Sou uma continuidade aqui por dois motivos. O primeiro é que os requisitos para o cargo o tornam muito restrito (é preciso ser ex-presidente, sem função atual no clube). O segundo é que o continuísmo em uma entidade como o Clube dos 13 não é o mesmo em um clube de futebol. Não sou a favor desse tipo de continuísmo. No Grêmio fui presidente só por duas vezes."
Promessas
"Primeiro, quero organizar uma reunião com os clubes da Série B e revisar os contratos. Não é possível que uma Série B com 3 clubes do Clube dos 13 e outros clubes que representam parcelas muito grandes da população brasileira recebam somente R$ 50 mil por jogo. Depois, pensar em uma reforma estatutária. Daí para a formação de uma Liga autônoma não é difícil. O que é difícil são os obstáculos que a CBF impõe. Mas não há mais submissão. Foi-se o tempo da vassalagem."
Televisão
"Tive a promessa dos diretores da Globo de que eles se manteriam neutros no processo eleitoral. Foi pelo problema da negociação dos direitos futuros que se antecipou essa eleição, já que é mais oportuno negociar a renovação antes do término. Essa negociação será tomada por uma comissão de clubes. No momento, não sei oficialmente de nenhuma manifestação de interesse de outra emissora. Mas, quanto mais interesse, melhor."
POR TRÁS DOS VOTOS
FÁBIO KOFF
Flamengo
Kléber Leite não apoiou a candidatura de Patrícia Amorim à presidência do Flamengo. Agora, ela dá o troco.
São Paulo
Juvenal Juvêncio é um dos principais opositores de Ricardo Teixeira. Mesmo podendo perder a abertura da Copa 2014, o dirigente tricolor ficou com Koff.
Internacional
Aliou-se ao candidato gremista para manter a sede do Clube dos 13 em Porto Alegre e continuar com o equilíbrio de poderes ao lado do rival.
Atlético-PR
Clube sem boas relações com a CBF. Preferiu ficar contra Ricardo Teixeira.
Fluminense
Apesar de ser médico pessoal de Ricardo Teixeira, o presidente Roberto Horcades, atual 1; vice-presidente do Clube dos 13, continuou com Koff.
Palmeiras
Não caiu às tentações da Traffic, aliada da CBF e da TV Globo.
Grêmio
Apesar de não fazer parte da diretoria gremista atual, Koff ainda tem muita influência no clube onde foi multicampeão.
Sport
Está rompido com a CBF desde que a entidade se manifestou favorável ao hexacampeonato do Flamengo, na polêmica do título brasileiro de 1987.
Atlético-MG
Alexandre Kalil (foto) optou por ficar do lado oposto à posição do arquirrival Cruzeiro.
Guarani
Clube integrante do conselho de ética atual do Clube dos 13, manteve-se aliado à Koff.
Bahia
Clube integrante do conselho fiscal atual do Clube dos 13, manteve-se aliado à Koff.
Portuguesa
Clube integrante do conselho fiscal atual do Clube dos 13, manteve-se aliado à Koff.
KLEBER LEITE
Santos
Indeciso até horas antes da votação, o presidente Luiz Álvaro Ribeiro (foto) manifestou seu voto alegando ser favorável à "renovação".
Botafogo
Assinou seu apoio à candidatura de Koff e depois mudou de lado. É credor da CBF, de quem também teria recebido R$ 8 milhões de adiantamento na última semana.
Vitória
O presidente Alexi Portela é aliado do ex-presidente José Rocha, deputado eleito com doações da CBF.
Cruzeiro
Zezé Perrela (foto) é amigo de Kléber Leite e contra qualquer posição do Galo.
Coritiba
Estava com Koff, mas foi seduzido pela possibilidade de ter a pena sobre o Couto Pereira, interditado por vandalismo, atenuada.
Goiás
Era um dos vices de Fábio Koff, mas mudou de lado. Pesou a alarmante crise financeira e ameaças de rebaixamento à Série B por escalar jogador de forma supostamente ilegal.
Vasco
Roberto Dinamite (foto) ficou ao lado de Kléber Leite, já que Eurico Miranda tem uma relação muito próxima com Fábio Koff.
Corinthians
De olho em um amistoso com o Real Madrid que precisa da anuência da CBF e contra a Copa 2014 no Morumbi, Andrés Sanchez ficou com Leite. Teria recebido 8 milhões de adiantamento das cotas televisivas às vésperas da eleição.