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Entrevista - Poliana Okimoto visita Brasília

Nadadora vence a prova de 5km do Circuito Brasília de Natação Ecológica e fala sobre o sucesso nas maratonas aquáticas e as perspectivas para os próximos anos

postado em 26/04/2010 08:44
Campeã Mundial, medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007 e 7; colocada nas Olimpíadas de Pequim-2008. Essa é uma parte do currículo da nadadora Poliana Okimoto, que esteve em Brasília para a disputa da prova de 5km do Circuito Brasília de Natação Ecológica, realizada ontem, no Piscinão do Lago Norte. Ela venceu a prova com o tempo de 53min20s, e terminou a disputa lado a lado com outro nome forte das maratonas aquáticas do Brasil, Ana Marcela, que finalizou o percurso em 53min21s. No masculino, Alan do Carmo confirmou o favoritismo e venceu fácil, com 51min15s.

Depois da competição, Poliana falou com o Correio sobre a carreira, desde as dificuldades no começo na modalidade até os planos para o futuro. A nadadora destacou que ainda não está no auge da carreira e que o foco é realmente a disputa das Olimpíadas de 2012, em Londres. Para isso, ela encara dois treinos diários que duram de cinco a seis horas, fora a parte física, além de ter precisado vencer o medo de encontrar algumas feras marinhas nos percursos. Confira como foi o bate-papo com a campeã mundial de 2009.

Quem é ela

Nome: Poliana Okimoto Cintra
Nascimento: 8/3/1983
Local: São Paulo (SP)
Idade: 27 anos
Altura: 1,65m
Peso: 48kg
Clube: Corinthians
Técnico: Ricardo Cintra
Principais conquistas:
; Campeã da Copa do Mundo de maratonas aquáticas - 2009
; Medalha de bronze no Campeonato Mundial de Roma - 2009
; Medalha de prata no Jogos
Pan-Americanos do
Rio de Janeiro - 2007
; Vice-campeã Mundial de 5km e
10km - 2006
; Tricampeã da Travessia dos
Fortes - 2005, 2009 e 2010

Você começou a carreira nas piscinas, como foi a transição para as maratonas?
Meu começo foi em 2005, na Travessia dos Fortes. Meu marido (Ricardo Cintra), que também é meu técnico, viu essa prova um ano antes pela TV e falou para eu assistir também que eu estaria nela no ano seguinte. Eu morria de medo de nadar no mar e disse que não ia. Ele insistiu e acabei indo para a disputa. Um dia antes da prova, fui nadar no mar para aquecer. Dei três braçadas e já saí chorando. No dia seguinte não sabia se ia conseguir largar ou não, mas vi que tinham 4.500 inscritos e, vendo todas aquelas pessoas, pensei que não era possível que eu não conseguiria também. Aí eu tentei, nadei superbem e bati o recorde da prova. Um mês antes da travessia, foi anunciado pelo COB e pelo COI que a maratona aquática estaria nas Olimpíadas e no Pan do Rio, em 2007, foi a partir dali que comecei a pensar melhor na modalidade.

Então a vitória logo na estreia foi uma surpresa. Você não esperava ganhar...
Jamais. Eu estava indo para ficar entre as cinco, 10 primeiras, porque a prova tem uma premiação legal, então estava pensando em ficar entre as cinco, principalmente por causa do medo do mar, que me travava muito. Mas ali na hora, com a adrenalina, já não senti mais nada, não tive medo nenhum e fui embora.

Qual é a parte mais difícil de uma maratona?
Para mim é a largada, porque tenho um certo trauma. Na minha primeira competição internacional, no Campeonato Mundial, em Nápoli, levei uma cotovelada no ouvido na largada e tive o tímpano perfurado. Eu continuei nadando, fui segunda colocada, foi espetacular, só que fiquei com esse trauma. Toda vez que vou largar fico com esse medo de me machucar, para mim a pior hora da prova é essa.

As diferenças entre as competições na piscina e a maratona são muito grandes?
A diferença da maratona aquática para a piscina é o contato físico. A piscina tem as raias para dividir os atletas, ninguém se bate ou se toca. Na maratona, são 60, 80 pessoas nadando juntas, então tem muito contato. Outra diferença é visual, a gente não consegue enxergar direito as boias, estamos sempre procurando um ponto de referência para nos localizarmos. E ainda tem o ritmo. Na piscina, é muito automático, o ritmo que você faz no treino, faz na prova. Na maratona é diferente. Tem toda uma tática de prova, tem que olhar as adversárias, às vezes o ritmo é um pouco mais lento, às vezes mais forte, então difere.

Você acha que está no auge?
Acho que ainda não estou no meu auge, tenho muito o que melhorar ainda. Ano passado foi o ano que mais tive provas internacionais, então acho que ainda estou muito crua, muito nova na modalidade, comecei a disputar o Mundial em 2006. Tenho três, quatro anos de experiência, e acho que quanto mais experiência eu tiver, melhor vou me dar nas provas. Espero estar no auge nas Olimpíadas.

O foco então já é em Londres-2012?
Meu foco principal é esse desde o ano passado, quando já começamos a fazer uma programação para as Olimpíadas.

E o acerto com o Corinthians, como foi?
Bom, foi o Corinthians que me procurou. Eles vieram com um projeto muito interessante e eu estava com um problema muito sério de piscina em Santos (onde ela treinava). Eu morava lá e tava sem estrutura nenhuma, treinando em uma piscina de 25 metros. Tive que comprar raia, aquecer a piscina, estava bem difícil a situação, não estava legal para mim. Eu sabia que dessa forma eu não ia conseguir um objetivo mais pra frente, uma medalha num mundial ou numa olimpíada. O Corinthians abriu toda a estrutura para mim. Eles têm uma piscina de 50m e duas de 25m, eu posso usar a sala de musculação do futebol, o fisiologista do futebol, a fisioterapeuta, então todo o projeto foi o ideal para mim.

O César Cielo não fechou com o clube porque teria muitos compromissos e isso afetaria o treinamento dele. Como é essa questão com você?
O meu contrato e o do César eram um pouco diferentes. Como ele é top do Brasil e do mundo, ele tem muito mais procura, mas eu não tenho tanto quanto ele, sou mais tranquila, tá dando para conciliar tudo superbem (risos). Por enquanto não tive nenhum evento com o Corinthians, só a apresentação no Pacaembu, em um domingo. Acho que ele teria mais compromissos mesmos, ainda mais que ele mora nos Estados Unidos e teria que vir para o Brasil toda hora. Eu, morando em São Paulo e estando lá perto, não vai ter problema nenhum.

Você ficou em 7; lugar em Pequim. Foi uma frustração ou um bom resultado?
Olha, às vezes a gente acaba aprendendo com a derrota, e lá não foi diferente. Foi uma experiência única para mim. Foi minha primeira olimpíada, a gente acaba ficando até um pouco assustado com o que é o evento. Acho que eu estava com pouca experiência, era muito jovem. Acho que isso se conquista com o tempo, não é de uma hora para outra. Não fiquei frustrada, mas acho que eu podia ter nadado melhor. A gente treinou muito forte, a parte física tava muito boa, mas não treinei o aspecto tático, e isso influencia muito na maratona aquática. Foi o que faltou, e é na experiência que a gente consegue aprender isso.

No ano passado, você era favorita para levar o Prêmio Brasil Olímpico, mas acabou perdendo para a judoca Sarah Menezes...
Eu acho que eu era favorita, sim, mas aconteceram tantas coisas extraprêmio que acabaram dando para ela (Sarah). Eu critiquei um pouco a forma de votação, porque foi aberto para quem quisesse votar e quantas vezes quisesse. Não acho que foi a forma mais justa de escolher o melhor atleta do ano, mas a Sarah era uma ótima concorrente e que está cada vez melhor. Não foi sem mérito que ela ganhou, mas a forma de eleger achei injusta.

Como atleta, você levou o Brasil a ser destaque nas maratonas aquáticas e representa o país na modalidade. Como você encara isso?
Ficou superfeliz de poder ajudar e incentivar a maratona a crescer no Brasil. Acho que eu, Ana Marcela e Alan do Carmo estamos fazendo um trabalho muito bom. Estamos levando o país para fora, a gente é muito respeitado lá e aqui vemos crescer provas como essa e em vários locais do Brasil. A gente é muito convidado para participar delas e fico muito feliz de poder levar um pouco da maratona aquática para o mundo e ajudar a crescer aqui.

Passa pela sua cabeça voltar de vez para as piscinas um dia?
Eu ainda faço provas de piscina, vou nadar o troféu Maria Lenk na semana que vem, tenho nadado ainda, mas não como foco principal. Por enquanto, não mudo meu foco, vai continuar na maratona. É um esporte que veio depois, mas que hoje eu amo muito fazer. Eu gosto muito de nadar em piscina também, mas não se compara com a maratona.

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