postado em 08/09/2013 17:41
Lisboa ; A precarização das relações de trabalho entre jogadores de futebol e clubes portugueses guarda relação com a crise econômica, pela qual passa Portugal e outros países da Europa. A austeridade forçada para conter o histórico déficit orçamentário do Estado e a dívida pública, que equivale a mais de 130% do Produto Interno Bruto (PIB), respingou no mundo da bola.Os clubes perderam apoio das prefeituras, de patrocinadores (afetados com a queda de consumo) e até de torcedores que vão menos ao estádio. A média de público da primeira rodada da primeira liga do campeonato nacional é a menor em cinco temporadas (8.032 espectadores).
De acordo com especialistas, os problemas dos jogadores são anteriores ao programa de ajuda financeira e ajustamento econômico acertado em 2011 com o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE) - a Troika. ;Não é uma situação de agora;, disse o repórter Nuno Santos, do tradicional jornal esportivo português A Bola. Segundo ele, a crise expôs mais a ;grande incapacidade dos clubes de gerenciarem suas receitas;.
Para Nuno Santos, a crise torna as condições dos jogadores das divisões de base ;pior ainda; porque ;afeta a força negocial dos clubes, a capacidade para contratar e as condições de segurança dos atletas;. Em resumo, ;os clubes não conseguem cumprir as obrigações assumidas com os jogadores;. Isso explica, em parte, salários em atraso, não pagamento de transferências e contratação de jogadores profissionais como amadores ; problemas mencionados pelos entrevistados.
Manuel Resendes, diretor do site 365, especializado em futebol internacional, salienta que nesse período de crise e austeridade os clubes viram minguar drasticamente (por força de lei) o patrocínio dos governos locais aos times distritais e da terceira divisão. ;Havia câmara que dava fortunas e pagava 90% do orçamento do clube;, recorda-se.
O agente de jogadores de futebol Ramiro Sobral, cadastrado na Federação de Futebol de Portugal (FPF), confirma que ;havia clubes que eram suportados pelas autarquias. Os clubes distritais viviam do que a câmara podia dar;, disse, ao lembrar que ;o apoio ao futebol era uma forma de ascender politicamente;. De acordo com ele, ;depois da crise, o orçamento dos clubes baixou várias vezes. Há alguns anos um clube, equivalente à Série C no Brasil, recebia 400 mil euros e hoje recebe 4 mil euros. Estamos falando de uma realidade totalmente diferente;.
Antes mesmo da Troika chegar a Portugal, a Assembleia da República (Congresso Nacional) estabeleceu em lei limites para os gastos municipais com clubes e reduziu a margem de manobra das prefeituras para usar a verba de ;cultura e desporto; para financiar clubes que a partir de então tiveram que passar a viver das cotas dos sócios e de patrocínios privados.
Nos clubes maiores, das primeiras divisões e com mais torcedores, a situação é melhor porque também são remunerados pelas emissoras de televisão. ;Quando as câmaras não têm dinheiro, as empresas patrocinadoras não têm dinheiro, como os clubes vão sobreviver? Com direitos de transmissão? Mas a TV só transmite primeira e a segunda ligas;, pondera o agente Joaquim Ribeiro, também licenciado pela FPF.