postado em 15/06/2019 04:30
São Paulo ; A estreia do Brasil na Copa América lembrou aquele trecho da música Eduardo e Mônica da Legião Urbana. Se Renato Russo estivesse ontem no Morumbi, cantaria com ênfase ;(...) festa estranha com gente esquisita (...);. A cerimônia de abertura teve clima de ressaca em um país que recebeu recentemente a Copa-2014 e os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Um recado preguiçoso ao mundo da bola de que ;foi só para não dizer que não teve;. Dos países participantes do torneio, Jair Bolsonaro foi o único presidente a marcar presença no evento.
Por sinal, nada mais estranho do que ver a Seleção jogando de branco pela primeira vez desde a festa do centenário da Fifa em 2004, contra a França. O público fraco de 46.342 pagantes, muito aquém da capacidade do Morumbi (72 mil), vestido predominantemente de verde-amarelo, não ornava com o uniforme exorcizado após o vice na Copa de 1950. A roupa saiu do baú na vitória de ontem por 3 x 0 ; gols de Philippe Coutinho e de Everton ;, para homenagear o primeiro título do país na Copa América, há 100 anos, em 1919.
Quando o locutor anunciou a escalação da turma de Tite, a torcida deu pinta de que estava conhecendo quem entraria em campo naquele exato momento. Afinal, os 11 titulares atuam na Europa. A última vez que isso havia acontecido numa estreia de Copa América foi em 2007, na Venezuela, na derrota por 2 x 0 para o México. O time de Dunga também era ;importado;. Para completar, o Brasil entrou em campo sem camisa 10. O dono dela, Neymar, foi cortado por causa de lesão. Viu o jogo de casa ao lado do filho, Davi Lucca. Substituto dele, Willian começou sentado no banco de reservas.
Durante a partida, o ambiente no Morumbi lembrava mais um velório do que uma partida de futebol. Houve vários momentos de silêncio ;ensurdecedor;. O luto dos fracassos nos últimos dois Mundiais (2014 e 2018) e nas últimas três edições da Copa América aumentava a sensação de missa de sétimo dia na capital paulista. Em chute fraco da Bolívia, por exemplo, foi possível ouvir o som da bola batendo na placa de publicidade ao lado do gol de Alisson e até gritos de um fã clube gritando ;lindo; para o camisa 1 da Seleção. Do outro lado, Lampe escutava provocações homofóbicas de ;bicha; a cada cobrança de tiro de meta.
No fim do primeiro tempo, o segundo som uníssono ouvido no estádio, depois do Hino Nacional à capela, foi o das merecidas vaias. Afinal, os lances mais perigosos foram nas cabeçadas de Firmino, defendida no reflexo por Lampe; e outra de Thiago Silva, para fora.
A caminho do vestiário, a Seleção ouviu um tímido grito de ;Fora, Tite;, e voltou pilhada para a etapa final. Assim como na estreia na Copa da Rússia, Philippe Coutinho abriu o caminho para a vitória numa cobrança de pênalti acusada pelo Árbitro de Vídeo (VAR). Praticamente no lance seguinte, Firmino cruzou da direita e Coutinho usou a cabeça para fazer o segundo dele, 12; na era Tite, atrás apenas de Neymar (14) e de Gabriel Jesus (16). Coutinho assumiu a responsabilidade como havia feito na estreia do Brasil na Copa da Rússia contra a Suíça.
Everton completou o placar com um belíssimo chute, indefensável, de fora da área. O meia havia acabado de entrar no lugar de David Neres. Um golaço que valeu o ingresso aos 46.342 pagantes.
A Seleção inicia a campanha pelo nono título na liderança do Grupo A e voltará a campo na terça-feira contra a Venezuela, na Arena Fonte Nova, em Salvador. A próxima adversária da Seleção estreia hoje, às 18h, contra o Peru, na Arena Grêmio, em Porto Alegre.
16 gols
Marca de Philippe Coutinho em 50 jogos pela Seleção principal