Superesportes

"Fala pouco"

Um ano após o fracasso no Mundial, a comissão técnica é diplomática nos comentários sobre o árbitro de vídeo, faz suspense em relação à escalação e evita as análises profundas dos adversários

postado em 21/06/2019 04:18
Um ano após o fracasso no Mundial, a comissão técnica é diplomática nos comentários sobre o árbitro de vídeo, faz suspense em relação à escalação e evita as análises profundas dos adversários



São Paulo ;
A inexperiência no Mundial da Rússia deu maturidade à comissão técnica de Tite na Copa América. Uma das mudanças de hábito é o discurso diplomático no relacionamento com a arbitragem. Há um ano, o treinador entrou em dividida com a Fifa na fase de grupos ao criticar a ausência do uso do árbitro de vídeo (VAR, na sigla em inglês) no polêmico gol de empate da Suíça na estreia e o cancelamento de um pênalti em Neymar na vitória por 2 x 0 sobre a Costa Rica. Na última terça-feira, fez discurso de paz e amor ao ter dois gols anulados no empate por 0 x 0 com a Venezuela. O resultado obriga o Brasil a vencer o Peru amanhã, às 16h, na Arena Corinthians, para evitar o vexame de avançar às quartas de final, dentro de casa, em segundo ou até mesmo em terceiro lugar no Grupo A, o mais fraco do torneio continental.

Irritado com a arbitragem na Copa da Rússia, Tite mexeu com a vaidade dos árbitros. ;Não precisamos de arbitragem para vencer jogo, mas esperamos que seja justa. Que tal qual foi olhado hoje (vitória sobre a Costa Rica), seja olhado lá antes, que se interprete quando quiser, mas olhe. Não queremos auxílio. Queremos ganhar sendo mais competentes;, disse, em São Petersburgo, após o triunfo diante da Costa Rica pela segunda rodada da Copa. A estratégica de pressionar o apito não funcionou, principalmente, devido ao cai-cai de Neymar na competição. Na quarta rodada, contra a Bélgica, não houve revisão de um lance quando o jogo estava 2 x 1.

Na terça-feira, após o empate com a Venezuela, Tite falou pouco. Foi curto e grosso ao comentar as decisões tomadas na partida. ;Houve justiça. Estava impedido. Foi falta? Foi. Se eu estivesse do outro lado... Sobre o VAR, não tenho absolutamente nada a reclamar;, encerrou.

Em uma palestra antes do Mundial, o ex-árbitro Wilson Luiz Seneme ; que ainda não era presidente da Comissão de Arbitragem da Conmebol ; havia recomendado aos jogadores que não reclamassem das decisões tomadas pelos homens do apito nos gramados da Rússia. Um ano depois, Tite e companhia assimilaram a política da boa vizinhança. A revisão de lances pelo VAR pode ser decisiva amanhã, contra o Peru, e a partir da fase eliminatória.

Outra mudança de hábito em relação ao Mundial é o mistério. Na Rússia, Tite evitava jogo de esconde. Escalava o time nas entrevistas pré-jogo, sem mistério. Sob pressão no aniversário de três anos à frente da Seleção, comandou treino fechado, ontem, no CT do São Paulo, na Barra Funda. A atividade de hoje, na Arena Corinthians, seguirá o padrão da Fifa e da Conmebol: a imprensa terá acesso a 15 minutos.

A expectativa é por mudanças no time. O meia-atacante Everton ;Cebolinha; pede passagem. O clamor pela escalação dele virou praticamente unanimidade. Gabriel Jesus pode retornar ao comando de ataque, deslocando Roberto Firmino para cumprir outra função na linha de três meias e até mesmo provocar efeito colateral com a saída de Richarlison do time.

Sem ;dossiê;

Há uma terceira mudança de hábito na comissão técnica da Seleção. Na Copa da Rússia, os auxiliares Cléber Xavier e Sylvinho, que deixou o cargo para assumir o Lyon, da França, costumava dar aula em público sobre o adversário da Seleção. Era praticamente um dossiê. No entanto, a Bélgica surpreendeu nas quartas de final e eliminou o Brasil. Desde então, os comentários são comedidos. As respostas às perguntas informais tornaram-se protocolares, do tipo: ;Ainda vamos analisar;, ;estamos estudando;.

Famoso pela expressão ;Fala muito;, Tite e seus comandados escolheram o ;Fala pouco; na Copa América para manter a paz com a arbitragem e não dar munição ao rival. A correção de rumo nos bastidores parece afinada. Quanto aos acertos secretos nas quatro linhas em uma Seleção desafinada, desajustada, descompensada e muito menos atraente do que da Copa da Rússia, só saberemos se funcionaram amanhã, contra o Peru.



Outro argentino

A Conmebol divulgou ontem que o argentino Fernando Rapallini será o árbitro da partida. O jogo de abertura entre Brasil e Bolívia teve o compatriota dele Néstor Pitana no apito. Estreante na Copa América, Rapallini coleciona atuações polêmicas. Uma delas, no jogo de ida entre Bahia e Athletico-PR, pelas quartas de final da Copa Sul-Americana do ano passado. Acumula controvérsias também na Argentina. Ele será auxiliado pelo compatriota Hernan Maidana e pelo paraguaio Eduardo Cardozo. No VAR estarão os colombianos Andres Rojas, Nicolas Gallo e Wilmar Navarro.


;Não precisamos de arbitragem para vencer jogo, mas esperamos que seja justa. Não queremos auxílio. Queremos ganhar sendo mais competentes;

Tite, na fase de grupos da Copa da Rússia


4
Número de jogos consecutivos do Brasil sem sofrer gol


;Houve justiça. Estava impedido. Foi falta? Foi. Se eu estivesse do outro lado... Sobre o VAR, não tenho absolutamente nada a reclamar;

Tite, na fase de grupos da Copa América


Ausências

Tite pode ter problemas para definir o Brasil que enfrentará o Peru amanhã. Os volantes Arthur (titular) e Fernandinho (reserva) não participaram do treino de ontem. Eles foram submetidos a exames em uma clínica para avaliar a intensidade das pancadas que levaram no empate por 0 x 0 com a Venezuela. A participação deles no treinamento de hoje, na Arena Corinthians, depende do diagnóstico.






Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação