Superesportes

Anti-herói crê no tricampeonato

postado em 03/07/2019 04:07
Ex-goleiro Roberto Rojas e a esposa, Viviane, na torcida pelo Chile em São Paulo


São Paulo ; Ele nasceu no Chile, mas escolheu morar no Brasil. É natural de Santiago, porém, não arreda os pés da capital paulista. Aos 61 anos, Roberto Antônio Rojas Saavedra celebra a saúde ; e a Copa América ; em família com a esposa, Viviane, depois de um período difícil na vida. Em entrevista exclusiva ao Correio, o dono das traves da seleção chilena de 1983 a 1989 passa a limpo os sete anos de espera por um transplante de fígado depois do diagnóstico de hepatite C; exalta a vitoriosa geração de Alexis Sánchez e Arturo Vidal, atual bicampeã da Copa América (2015 e 2016) e semifinalista na partida de hoje contra o Peru, às 21h30, na Arena Grêmio, em Porto Alegre; vê futuro no jovem arqueiro Fariñez, da Venezuela; e conta como obteve perdão após cometer o maior erro da vida. Em 3 de setembro de 1989, escondeu uma lâmina na luva no segundo tempo do duelo contra o Brasil, no Maracanã, pelas Eliminatórias para a Copa de 1990, à espera de uma oportunidade para se cortar, prejudicar a Seleção e forçar outro jogo em campo neutro. Quando Rosinery Mello do Nascimento atirou um foguete no gramado, Rojas colocou a farsa em ação e pagou caro. Banido do futebol, voltou ao esporte graças à generosidade de quem considera um pai: o saudoso Telê Santana.

O que explica essa era dourada do Chile?

Alexis Sánchez, Arturo Vidal, Gary Medel, Mauricio Isla... jogam juntos na seleção desde as divisões de base. Além disso, saíram cedo para trabalhar na Europa. O nível técnico e tático deles evoluiu muito. E tem o fator Marcelo Bielsa. Ele pegou esse grupo quando estavam jogando fora do país e deu a cara dele. É todo um processo. Os sucessores de Bielsa, como Jorge Sampaoli, Juan Antonio Pizzi e, agora, Reinaldo Rueda mexeram pouco nesse legado. Hoje, não é o mesmo Chile das Eliminatórias ou de 2015, mas é um time ajustado, dispõe de boas peças. Sabe tirar proveito coletivamente do individual.

Como essa seleção será lembrada?
Como um grupo bom, que jamais precisou de estrelas, jogou coletivamente. Uma geração que conquistou resultados ótimos. Do ponto de vista de títulos, nunca houve uma seleção como essa. Nunca se trabalhou tanto quanto nos últimos 10 anos. Antes, não havia apoio, marketing. A estrutura da federação é outra, muito profissional.

Vislumbra o Chile na final pela terceira edição consecutiva?
Não me parece que a semifinal vai acabar com jogadores para cada lado. Às vezes, descamba para questões políticas. E uma rivalidade acentuada por causa da nossa história (Guerra do Pacífico por parte do deserto do Atacama) e do que aconteceu nas Eliminatórias a Rússia (os chilenos acusam Peru e Colômbia de combinarem o empate por 1 x 1, que classificou os rivais para a Copa da Rússia e chamam o resultado de Pacto de Lima).

O futebol chileno tem um baita treinador, como o Manuel Pellegrini. Por que a escolha recorrente por estrangeiros?

Sempre foi complicado técnico chileno trabalhando no Chile. Chegou o Marcelo Bielsa e descobriu as melhores condições para desenvolver o Chile. Isso deu certo. Hoje, temos novos técnicos no Chile, mas os treinadores estrangeiros sempre foram melhores.

Há 30 anos, você foi protagonista da farsa do Maracanã. Como obteve perdão e reconstruiu a sua vida?

Eu assumi o erro. Quem tem consciência assume a curto ou longo prazo. Sou pai, chefe de família. Como eu poderia cobrar um filho meu sem tentar corrigir o meu passado? Reconstrui a minha vida depois de ficar muito tempo escondido dentro de casa e recuperei o respeito.

A reconquista da saúde é o seu maior troféu?
Fiquei sete anos na fila de transplante de fígado. Sou muito grato à minha mulher (Viviane Rojas). Além de esposa, é minha enfermeira, secretária, meu tudo. Não sei nem o nome dos remédios que eu tomo, mas ela sabe. Um amor incondicional me tirou dos momentos difíceis. Você pode ter título, medalha pessoal, mas se não tiver uma família, uma sustentação sólida, a vida não valerá a pena.




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