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E Cabral descobriu a lama olímpica

Em depoimento à Justiça Federal, ex-governador do Rio de Janeiro confessa o pagamento milionário de propina por nove votos do Comitê Internacional que garantiram a realização dos Jogos na capital fluminense

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 05/07/2019 04:22
Sérgio Cabral, Lula e Eduardo Paes durante inauguração de teleférico no Complexo do Alemão: antigos parceiros refutam acusações do ex-governador


Condenado a 198 anos de reclusão e preso desde 2016, o ex-governador Sérgio Cabral disse ontem, em depoimento ao juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da operação Lava-Jato na primeira instância do Rio, que pagou US$ 2 milhões (cerca de R$ 7,67 milhões, pelo câmbio atualizado) pelos votos de nove membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para assegurar a escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. A negociação, segundo Cabral, foi feita com o senegalês Lamine Diack, que presidiu a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) de 1999 a 2015. Um dos votos comprados seria do ex-nadador russo Alexander Popov, vencedor de quatro medalhas de ouro nos Jogos de 1992 e 1996.

Cabral figura entre os réus em um processo na 7; Vara Federal Criminal do Rio que foi aberto com base em indícios de compra de votos para eleger o Rio como sede dos Jogos Olímpicos. As investigações começaram a partir da Operação Unfair Play, que levou à prisão, em outubro de 2017, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, e o ex-diretor de marketing do COB e de comunicação e marketing do Comitê Rio-2016, Leonardo Gryner.

O evento para a escolha da sede da Olimpíada de 2016 foi realizado em Copenhague, na Dinamarca, em 2 de outubro de 2009, com votação em três turnos. No primeiro, a cidade de Madri recebeu 28 votos, o Rio, 26, e Tóquio, 22. Chicago teve 18, ficou na última colocação e foi eliminado. Hipoteticamente, sem os nove votos comprados, o Rio ficaria apenas com 17, em último lugar e fora do pleito.

No segundo turno, o Rio teve 46 votos, Madri, 29, e Tóquio, 20 ; a capital japonesa foi eliminada. Na última etapa, o Rio teve 66 votos, enquanto Madri, 32. Os nove votos só fizeram diferença, portanto, no primeiro turno, evitando a eliminação da capital fluminense.

Além de Nuzman e de Gryner, outro réu no mesmo processo é o empresário Arthur Soares Filho, conhecido como ;Rei Arthur;, hoje foragido e que foi beneficiário de contratos milionários com o governo do Rio nas administrações de Cabral. Segundo o depoimento do ex-governador, o empresário foi o responsável por fazer o depósito de US$ 2 milhões no exterior, a favor de Lamine Diack.

Em depoimentos anteriores, Cabral havia rejeitado os indícios de compra de votos. No entanto, em dezembro passado, mudou de advogado e, a partir de fevereiro, passou a admitir outras acusações de que foi alvo. A defesa pediu ao juiz Marcelo Bretas o depoimento de ontem, especificamente para tratar da compra de votos.




;Nuzman vira pra mim e fala: Sérgio, quero te abrir que o presidente da IAAF, Lamine Diack, é uma pessoa que se abre para vantagens indevidas. Ele pode garantir cinco ou seis votos. Ele quer, em troca, US$ 1,5 milhão;
Sérgio Cabral, ex-governador do Rio


US$ 2 milhões

Valor que teria sido pago pelos votos de nove membros do Comitê Olímpico Internacional



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