Superesportes

Contraste incentiva a mudança

Instalações esportivas de primeiro mundo construídas nos bairros mais pobres da capital peruana levam esperança aos moradores locais, que sonham usufruir dos espaços ao fim das competições continentais

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 27/08/2019 04:06
Partida de futebol de 5 entre Brasil e Argentina: ao fundo, a favela da Villa María del Triunfo



Lima ;
Duas vezes melhor do mundo no futebol de 5 (modalidade praticada por cegos e pessoas com baixa visão), o brasileiro Ricardinho busca o quarto título com a Seleção Brasileira nos Jogos Parapan-Americanos de Lima-2019. Não há do que reclamar sobre as instalações onde disputa a competição. Tudo novíssimo e com acessibilidade para ele e pessoas com outras deficiências físicas. O oposto da realidade que cerca o complexo esportivo da Villa María del Triunfo, localizada em uma das regiões mais pobres e violentas de Lima. Com a autoestima acalentada, moradores do local vêm enchendo as arquibancadas e alimentam expectativa de desenvolvimento do paradesporto na região.

;Essas crianças, e comigo foi assim também, estão muito longe dos referenciais de um atleta. Receber um Parapan próximo é fundamental não só para as crianças como para os adultos;, diz Ricardinho. O brasileiro já jogava bola quando ficou cego aos 8 anos, devido a um descolamento de retina. Nascido na Restinga, um dos bairros mais pobres e violentos de Porto Alegre, o gaúcho conheceu a modalidade praticada por cegos e pessoas com baixa visão em um instituto distante duas horas de casa.

;Lá, conheci a bola de guizo (que tem uma espécie de chocalho para fazer barulho);, conta. Como era difícil o artigo esportivo no comércio local, ele improvisava em casa. ;Colocava a bola em uma sacola plástica e, conforme ela se mexia, fazia barulho;, lembra. Aos 15 anos, foi para o primeiro clube. Um ano depois, chegou à Seleção Brasileira. ;O esporte é uma ferramenta muito preciosa para mudar uma história de vida;, crava o ala ofensivo.

Favela

A favela de Villa María del Triunfo fica a 25km ao sul do centro de Lima e tem quase 400 mil habitantes. O colorido e a limpeza do complexo esportivo do Parapan se contrastam aos tijolos aparentes das casas instaladas empilhadas umas sobre as outras. Muitas delas, sem telhados, pois a capital peruana é conhecida como a cidade que nunca chove. Nada que diminua o orgulho dos moradores locais.

A arena de Villa María del Triunfo recebeu competições de sete modalidades durante os Jogos Pan-Americanos, entre hóquei e basebol, e sedia o futebol de 5 e o futebol de 7 durante o Parapan. ;Tudo está mudado por aqui com esses Jogos. Tudo isso que foi construído será usado pela comunidade que vive aqui. É o que esperamos;, almeja Edgar Sollis, que foi com o filho apaixonado por futebol, Érick Sollis, 12 anos, e a esposa, Consuelo Durand, assistir ao clássico entre Brasil e Argentina no futebol de 7.

Depois de ver os Jogos Paralímpicos do Rio-2016, o brasileiro Lucas da Silva correu para a internet para pesquisar mais sobre a modalidade. Pelo Facebook, o garoto de Franco da Rocha, em São Paulo, encontrou alguns jogadores de futebol de 7 e pediu indicação de clubes. Deu tão certo que, hoje, aos 21 anos, defende a camisa verde-amarela no Parapan de Lima. ;É importante um lugar como esse ser construído em uma favela, porque as pessoas podem conhecer e praticar uma atividade física;, afirma o ala da classe FT2. Ele tem o movimento dos membros do lado direito comprometidos por causa da paralisia cerebral, sofrida por falta de oxigenação na hora do parto.



;Essas crianças estão muito longe dos referenciais de um atleta. Receber um Parapan é fundamental. O esporte é uma ferramenta muito preciosa para mudar uma história de vida;

Ricardinho, ala ofensivo da Seleção Brasileira de futebol de 5

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