postado em 31/08/2019 04:06
Os medalhistas olímpicos e mundiais Isaquias Queiroz e Erlon Silva são os nomes em evidência no cenário nacional da canoagem velocidade e, ao que tudo indica, continuarão em alta até os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Desde a última quinta-feira, o público brasiliense tem a oportunidade de ver de perto os melhores atletas do país, por ocasião do Campeonato Brasileiro, que segue até amanhã no Lago Paranoá, mas nem tudo é alegria entre os competidores. Enquanto, no masculino, o Brasil celebra os feitos da dupla baiana, as mulheres que tentam ganhar a vida no remo ainda exibem desempenho distante do idealizado pela torcida.
As distintas realidades de gênero quanto aos resultados em âmbito internacional se devem a inúmeros fatores, a começar pela estrutura de apoio aos treinos. Isaquias e Erlon, que têm vínculos com os clubes Flamengo e Paulistano, respectivamente, costumam passar fases de aprimoramento técnico juntos em Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte. O time feminino, no entanto, não desfruta do mesmo benefício. A também baiana Valdenice Conceição, 28 anos, por exemplo, tenta obter a vaga para os Jogos de Tóquio-2020 no C1 200m, prova que estreia no programa olímpico, mas esbarrou em falhas na preparação na temporada passada, quando ficou sem técnico e perdeu patrocinador. Curiosamente, em 2017, a atleta havia exibido resultados promissores, com medalha de ouro em uma das etapas da Copa do Mundo e o sexto lugar no Campeonato Mundial.
;Estou há 13 anos na canoagem. Sinto que falta pouco para alcançar a classificação olímpica, alguns detalhes para aprimorar a chegada. Hoje, conto com a Bolsa Atleta Pódio, além de um subsídio da Prefeitura de Maraú, onde treino. Foi o que conseguimos. O foco agora é seguir a preparação para obter a vaga olímpica no Campeonato Pan-Americano, em maio de 2020, ou nas etapas da Copa do Mundo, também no próximo ano;, comenta a atleta.
A principal esperança para atingir o objetivo está na retomada do trabalho com o técnico Figueroa Conceição, 34 anos, com quem Valdenice havia alcançado os melhores resultados na temporada 2017. O treinador baiano é um dos discípulos do espanhol Jesús Morlán, que orientou o trabalho vitorioso da dupla Isaquias e Erlon durante cinco anos, até morrer em decorrência de um câncer em novembro de 2018. ;Morlán é um nome fundamental para a evolução da canoagem do Brasil, assim como Jefferson Lacerda, nosso primeiro atleta olímpico da modalidade, em Barcelona-1992, que iniciou os projetos que revelaram Isaquias e Erlon no interior baiano. O futuro do esporte olímpico do Brasil está na favela;, diz Figueroa, em tom saudoso e orgulhoso.
Ex-atleta de base do caiaque, Figueroa Conceição migrou para a orientação de treinos de canoa, graças ao antigo programa Segundo Tempo do governo federal. Os anos de experiência o levaram a coordenar as equipes de São Tomé e Príncipe, país que representou nos Jogos Olímpicos de 2016, e Moçambique. De volta ao Brasil, tem se destacado na preparação de atletas femininas. ;Desde que retomamos a parceria, Valdenice vem melhorando os tempos. No último Mundial, na Hungria, por exemplo, disputou a final B com tempo de 48s79, melhor do que a vencedora da final A (49s30). Temos boas chances de conseguir a vaga olímpica;, diz confiante, a despeito das condições climáticas que influenciaram os resultados das provas.
Medalha de bronze nos recentes Jogos Pan-Americanos de Lima, na prova do K1 500m, com tempo de 1min54s294, Ana Paula Vergutz espera baixar a marca em ao menos 2 segundos, até a classificatória do Chile, no início da próxima temporada, para também assegurar a vaga olímpica. Segundo a paranaense, uma das dificuldades na canoagem feminina do país está na desistência das atletas de base. ;Há um bom contingente nas categorias infantis e juvenis, mas, quando chega o momento de ingressar na fase sênior, a maioria das meninas tomam outro rumo. Talvez porque não haja estímulo suficiente para viver do esporte no Brasil;, comenta.
;O futuro do esporte olímpico do Brasil está na favela. Desde que retomamos a parceria, Valdenice vem melhorando os tempos. Temos boas chances de conseguir a vaga olímpica;
Figueroa Conceição, técnico da equipe feminina de canoagem do Brasil
PREPARE-SE
Campeonato Brasileiro de Canoagem Velocidade e Paracanoagem
Quando: até amanhã
Horário: das 8h às 18h
Local: Clube Nipo Brasileiro (SCES, trecho 1)
Transmissão: youtube.com/canoagembrasileira e facebook.com/canoagembrasileira
*Entrada franca