Superesportes

O legado da inclusão

Criação do Comitê em 2015, investimento e colheita de medalhas em casa: entenda por que o sucesso do anfitrião Peru no Parapan lembra 2007, ano do início da arrancada do Brasil para virar potência

postado em 20/09/2019 04:14
Atleta há apenas 5 anos, Pila Jauregui foi campeã parapan-americana diante de arquibancadas lotadas: torcida contou com a presença do presidento do Peru, Martín Vizcarra


Lima ; Há menos de um mês, a capital peruana viveu dias históricos ao receber os Jogos Pan e Parapan-Americanos de 2019: o maior evento esportivo sediado pelo país. Mais do que o legado das sete instalações esportivas espalhadas pelo centro e pela região metropolitana de Lima, as competições despertaram a expectativa de plantar uma sementinha do esporte paralímpico no Peru. De forma semelhante, proporcionalmente ao que ocorreu no Brasil, que se tornou a maior potência das Américas desde que hospedou o Parapan do Rio, em 2007, edição que pela primeira vez foi realizada na mesma cidade do Pan.

As pretensões do Peru não são tão altas em termos de medalhas e resultados. Até porque o país conta com uma entidade responsável pelo paradesporto há apenas dois anos. ;Começamos no fim de 2015, mas o Comitê Paralímpico do Peru só teve dinheiro do estado em setembro de 2016 (quando foi reconhecida oficialmente pelo Instituto Peruano do Esporte e pelo Comitê Paralímpico Internacional - IPC). Então, começamos com os paratletas em 2017. Temos só dois anos trabalhando;, explica Lucha Villar, presidente do Comitê Paralímpico do Peru.

Ainda assim, os anfitriões lotaram as arenas durante o evento e viram os peruanos ganharem 15 medalhas em casa. Se comparada à última edição, em Toronto-2015, em que voltaram sem nenhuma medalha, o salto foi absurdo. ;Ter chegado aqui é um sonho que não sabíamos que chegaríamos e como chegaríamos, não sabíamos se iríamos passar vergonha, não tínhamos nada, não estávamos nem dentro da lei, o movimento paralímpico não existia no Peru, era tido para recreação;, conta Lucha, sem esconder a expressão aliviada.

A festa foi grande no país. Todos os anfitriões que subiram ao pódio no Parapan de Lima ganharam um apartamento na Vila dos Atletas ; promessa feita antes da competição. Jogador de parabadminton, o peruano Pedro Pablo de Vinatea contou até com a presença do presidente da república peruana, Martín Vizcarra, na arena, para vê-lo ganhar o ouro na final contra o brasileiro Leonardo Arthur Zuffo. ;Com as arquibancadas assim, tão cheias, foi único. O parabadminton, até o evento, não era um esporte popular. Creio que, a partir de agora, será algo com que todos sonhamos;, almeja Pedro Pablo.

O cenário se repetiu no dia seguinte para a conquista do ouro da peruana Pila Jauregui. ;Há cinco anos, fizemos uma clínica para comerçarmos o parabadminton no Peru, não tínhamos muito tempo;, conta Pilar. Segundo ela, as mudanças colaboraram para que os jogadores e jogadoras do país começassem a disputar torneios internacionais, intensificaram os treinamentos, dobrando o turno e contrataram um treinador da Índia e outro do Japão, que apresentaram novas técnicas aos peruanos. ;Isso tudo ajudou bastante para elevar o nível dos atletas do país;, comemora Pilar.

Parceria
Não é da boca para fora que os peruanos admiram o desempenho do Brasil no paradesporto. Além de serem a principal referência das Américas, os brasileiros colaboraram de forma efetiva no desenvolvimento do paradesporto no Peru por meio de parceria entre os comitês paralímpicos dos dois países. Segundo Lucha, o convênio contou, principalmente, com cursos de capacitação que abordaram desde o movimento paralímpico até especificamente as modalidades, de acordo com as necessidades do país que se preparava para receber duas semanas de competição do Parapan 2019.

;Era o que nós dizíamos: os Jogos Parapan-Americanos eram a desculpa perfeita para mudar a cabeça das pessoas. Acho que conseguimos isso e queremos mais;, avalia a presidente. O movimento paralímpico começou no Peru ainda na década de 1970, mas pouco se desenvolveu desde então. Em compensação, no Parapan de Lima, a delegação peruana contou com 220 atletas, sendo 139 delas esportistas, atletas-guias e calheiros.


;Começamos no fim de 2015, mas o Comitê Paralímpico do Peru só teve dinheiro do estado em setembro de 2016. Então, começamos com os paratletas em 2017. Temos só dois anos trabalhando;
Lucha Villar, presidente do Comitê Paralímpico do Peru


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Número de medalhistas peruanos no Parapan de Lima: todos ganharam um apartamento na Vila dos Atletas


;Lembramos como era o movimento paralímpico no Brasil em 2007, e o quanto ele evoluiu. Espero que usem as estruturas e o Peru mostre o valor da pessoa com deficiência;

Daniel Dias, nadador brasileiro

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