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Pé na estrada pelo Flamengo

Público feminino marca presença na final em Lima e se aventura em custosas viagens para incentivar o time de coração

Maria Eduarda Cardim
postado em 22/11/2019 04:16
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Trinta e oito anos após a conquista da primeira Copa Libertadores, o Flamengo volta à final da competição amanhã para buscar o segundo título, desta vez contra o River Plate. A demora para chegar ao topo do torneio novamente motivou a ida de muitos torcedores até Lima, no Peru, para ver de perto um possível bicampeonato. Nem mesmo a mudança de sede de última hora desanimou os fãs rubro-negros. As mulheres, que conquistam cada dia mais espaço nas arquibancadas, não são exceção.

O amor inexplicável da carioca Claudia Santana, 49 anos, pelo time da Gávea deu coragem para a recepcionista encarar uma viagem de ônibus do Rio de Janeiro até Lima, sozinha. ;São 10 dias na estrada para ver o Flamengo. Todo sacrifício vale a pena. Inclusive estourar os dois cartões de crédito. Depois a gente parcela para pagar;, brinca. A moradora de São Gonçalo perdeu o filho de 22 anos em um acidente de moto há oito meses. Os dois viajariam juntos caso o Flamengo chegasse à final. ;É por ele que também estou aqui;, afirma.

Claudia assistiu ao Flamengo ser campeão da Libertadores. Aos 11 anos, viu o jogo contra o Cobreloa com o pai em uma lanchonete em São Gonçalo. ;Comecei a sentir esse sentimento pelo Flamengo através do meu pai, que me levava algumas vezes ao Maracanã. Minha relação com o time é um amor inexplicável. É da alma mesmo;, conta. A flamenguista foi aos seis jogos da Libertadores no Rio e ainda acompanhou o empate entre a equipe rubro-negra e o Inter, no Beira-Rio, em Porto Alegre. Ela afirma que só não foi a mais jogos por causa do trabalho.

As amigas Joanne Medeiros, 39 anos, e Karine Lopes, 38, não quiseram perder a chance de ver o jogo desta vez. Joanne decidiu que a filha Maria Flor, de dois anos, e os irmãos mais velhos, Guilherme e João Pedro, de 18 e 15 anos, ficarão com a família para que ela possa acompanhar de perto o confronto contra os argentinos. Karine, filha de pai vascaíno e mãe flamenguista, também deixará a filha Mariana, de três anos, com os avós para torcer pelo Flamengo. Os companheiros de viagem são os maridos que assistiram a quase todos os jogos da Libertadores dentro dos estádios.

;Não pude deixar a bebê sozinha em casa para acompanhar os jogos, mas, desta vez, estaremos lá. Nesse, a gente combinou que iríamos. Meu irmão está vindo de Recife para ajudar com os meninos para que eu pudesse ir;, celebra Joanne. Com os maridos, as duas apostaram no time ainda em abril e compraram passagens para o Chile. ;Muitos ficavam rindo e falando que não iriam chegar. Falaram que nós éramos malucos. Depois o Flamengo foi chegando e a nossa passagem estava garantida;, relembra Karine.

Nova sede
A mudança de local da final, que antes iria acontecer em Santiago, no Chile, fez com que os quatro se separassem para chegar até Lima. ;Fomos realocados de voo e cada um ficou em uma aeronave. Eu mesma não gosto de viajar sozinha para longe, mas não pensamos em desistir;, conta Joanne. Para a servidora pública, o jogo vai além dos clubes. ;É quase um Brasil e Argentina. Acredito que, apesar de o time estar bem, o placar vai ser apertado: 2 x 1 para o Fla;, aposta.

A brasiliense Patrícia Formiga, 36 anos, que também embarcou para Lima, está mais otimista. Para ela, nada mais justo do que um placar dilatado para compensar os perrengues vividos pelos torcedores. ;Está sendo uma grande aventura. Todo mundo que a gente encontra conta que foi sofrido para estar presente. Meu palpite é 4 x 0 para o Flamengo;, diz.

Ao lado do irmão, da tia e de uma amiga, a servidora pública embarcou para Lima mais cedo do que esperava. ;Quando fomos trocar a passagem por conta da mudança de sede, tivemos de estender a estadia. Em vez de oito dias de viagem, serão 11;, conta. Quem sugeriu a ideia de ir à final foi o irmão de Patrícia, que é flamenguista por influência da irmã. ;Meu pai é corintiano e eu, aos nove anos, fiquei encantada com um jogo do Flamengo. Quando meu irmão nasceu, comprei uma blusa do time para ele;, relembra.



;São 10 dias na estrada para ver o Flamengo. Todo sacrifício vale a pena. Inclusive estourar os dois cartões de crédito. Depois a gente parcela para pagar;
Claudia Santana, recepcionista carioca


;Está sendo uma grande aventura. Todo mundo que a gente encontra conta que foi sofrido para estar presente. Meu palpite é 4 x 0 para o Flamengo;

Patrícia Formiga, servidora pública brasiliense

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