Um é fã de Johan Cruyff e veio ao Brasil no início dos anos 1990 estudar o São Paulo de Telê Santana; e o Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo. O outro é um ex-acadêmico da badalada Escola de Têcnicos de Vicente López ; cidade localizada a 15km da província de Buenos Aires, famosa por ter formado excelentes treinadores em série. Protagonistas no campo das ideias da decisão de hoje, às 17h, no Estádio Monumental, em Lima, no Peru, Jorge Jesus e Marcelo Gallardo vivem expectativas distintas. O português pode ser o segundo europeu a faturar a Libertadores. Só o croata Mirko Jozic conquistou o feito pelo Colo-Colo, em 1991. Atual campeão, o argentino tem a chance de ser tri. Além disso, o primeiro comandante bicampeão desde o compatriota Carlos Bianchi na dobradinha de 2000 e 2001 à frente do Boca Juniors.
A Escola de Técnicos de Vicente López é uma das mais tradicionais da Argentina. Funciona desde 1993. Segundo o diretor Luis Eduardo Lescurieux, a Argentina tem 42 unidades espalhadas pelo país. Todas habilitadas pela Associação de Futebol Argentina (AFA) a formar treinadores. É possível obter as licenças C, B, A e Conmebol Pró em três anos.
Ao longo dos anos, as salas de aula da Escola de Técnicos de Vicente López transformou aprendizes em técnicos badalados. ;Por aqui, passaram Diego Simeone (Atlético de Madri), Sergio Batista (técnico da Argentina na conquista do bi olímpico nos Jogos de Pequim-2008), Ramón Díaz (treinador do River Plate no título da Libertadores de 1996), Óscar Ruggeri, Pedro Troglio e outros;, orgulha-se Lescurieux em entrevista por telefone ao Correio.
Marcelo Gallardo é um dos xodós. ;Chegou aqui com o assistente dele (Matías Biscay). Ambos fizeram o curso. São treinadores extraordinários. Na verdade, eu nem preciso dizer isso. O Gallardo é técnico profissional desde 2011 e tem 11 títulos na carreira;, exalta o mentor.
Os dois títulos da Argentina na Copa do Mundo dividiram a escola de técnicos do país em duas correntes. Há os menottistas, amantes do futebol praticado na conquista de 1978, sob o comando de César Luis Menotti. Do outro lado, os bilardistas, apaixonados pelo estilo de jogo adotado por Carlos Salvador Bilardo no Mundial de 1986. Menotti é um romântico, apaixonado pelo jogo bonito. Bilardo, considerado pragmático. Defende que lugar de espetáculo é no teatro.
Lescurieux tratou logo de rotular as academias e os técnicos finalistas da Libertadores. ;Em Vicente López, defendemos a estética, o futebol-arte, mas tudo depende da visão do treinador. Marcelo Gallardo (River Plate), por exemplo, pensa como nós. Diego Simeone estudou conosco, porém, apresenta um estilo muito próprio, o ;cholismo;. A escola de La Plata, onde se formou, por exemplo, Guillhermo Schelotto, é predominantemente bilardista;, compara.
Carrossel da Gávea
Responsável pela guinada rubro-negra no segundo semestre, Jorge Jesus aprendeu com a escola holandesa. Com a ajuda de Hristo Stoichkov, foi até Barcelona trocar ideias com Johan Cruyff sobre a Laranja Mecânica de 1974. A movimentação constante, a posse da bola e a imposição do estilo de jogo são as chaves do Flamengo. Ele defende que não basta ganhar, é preciso dar espetáculo; considera que o treinador tem que ser tão criativo quanto os jogadores; intensidade o tempo todo no ataque e na defesa, futebol ofensivo e a utilização da mesma formação à exaustão.
Jesus peregrinou pela Holanda, mas também aprendeu no Brasil. O livro Jorge, amado e desamado, conta que ele cruzou o Oceano Atlântico para estudar o São Paulo de Telê Santana, bicampeão da Libertadores e do Mundial à época. Aproveitou a viagem para bisbilhotar o revolucionário Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo bi do Brasileirão em 1993 e 1994. Passou, ainda, pelo Corinthians a fim de trocar ideia com Mário Sérgio, treinador do Corinthians em 1993.
Professor de Marcelo Gallardo na Escola de Vicente López, Luis Eduardo Lescurieux considera que o Jorge Jesus tem um ponto franco a ser explorado pelo River. ;O Flamengo é uma grande equipe, muito potente do meio para a frente, mas vulnerável na defesa. O River pode explorar a marcação alta e explorar os erros;, aposta.
;O Gallardo é um treinador que está na terceira final e sabe perfeitamente que não é em uma final que o treinador vai mudar escalação e as ideias;
Jorge Jesus,
técnico do Flamengo
;Quem souber equilibrar o lado emocional terá mais chances. Somos os atuais campeões e tentaremos fazer valer isso contra um rival muito forte;
Marcelo Gallardo,
técnico do River Plate