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Agora que a festa acabou... a desorganização da Conmebol

O título pelo qual o Flamengo lutava há 38 anos veio e apagou os momentos de dificuldade que nós torcedores passamos para chegar até o palco da decisão

Fernando Jordão
postado em 25/11/2019 04:06
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Flamenguista que sou, vivi no estádio Monumental U, no sábado, o melhor dia da minha vida. Mas a verdade é que a Conmebol trabalhou duro para que não fosse assim. O título pelo qual o Flamengo lutava há 38 anos veio e apagou os momentos de dificuldade que nós torcedores passamos para chegar até o palco da decisão. E eles não foram poucos.

A começar, é claro, pela demora em mudar a cidade-sede. Desde a classificação de Flamengo e River Plate para a final, um mês antes, estava óbvio que Santiago não teria condições de abrigar a partida. Por que, então, não mudaram logo e ajudaram a torcida que, depois, teve que se virar de tudo quanto é jeito (e preço) para chegar a Lima? Ouvi o relato de um torcedor que disse ter enfrentado 36 horas de viagem, sendo 12 delas de barco!

No dia do jogo, o primeiro grande desafio foi chegar ao estádio. São ;apenas; 16 km do centro da cidade. Mas com o trânsito caótico de Lima (onde os trabalhadores não param no fim de semana), houve quem falasse até em 3 horas de deslocamento. Pessoalmente, saí às 8h15 e cheguei por volta das 9h45. Detalhe que não há transporte público direto. Era preciso pegar duas conduções, recorrer ao transporte individual ou usar os ônibus disponibilizados pela Conmebol, que, contudo, não saíam do centro.

Depois de desembarcar, outro obstáculo: encontrar a entrada. As ruas em volta do estádio são muradas. Por isso, é preciso andar muito para ir de um ponto a outro da arena. Até aí tudo bem, é normal andar muito em grandes eventos, ainda mais em caso de estradas fechadas e pontos de bloqueio. O que pegou aqui foi a desinformação completa. Absolutamente ninguém sabia informar para onde eu deveria ir para conseguir entrar no palco da final. Foram pelo menos uns 5 km de caminhada. Quando finalmente encontrei a entrada, fila e mais desorganização: a abertura do primeiro portão atrasou cerca de 20 minutos. Havia outros dois e encontrei todos fechados. Mais espera.

Fui um dos primeiros a entrar no estádio, já perto das 11h (horário de Lima, pelo qual a decisão começava às 15h). Assim que entrei, fui ao banheiro e encontrei um dos lugares mais pavorosos que já pisei. A arena acabara de ser aberta e não havia um mísero sinal de limpeza. Também não havia água nas torneiras.

Às 12h30, decidi procurar alguma coisa para comer. O que encontrei foi mais fila. Foram três, que me levaram cerca de 1h30: uma para comprar fichas, outra para pegar comida e uma última para pegar bebida. Quando cheguei no momento de comprar, pedi por um hambúrguer (as outras opções eram choripán e sanduíche de frango), mas a vendedora me informou que já estava esgotado (lembrando que ainda faltava pelo menos duas horas para o início do jogo). Fui perguntar, então, no local de entrega da comida e me disseram que, sim, ainda havia. Voltei para comprar a ficha (o hambúrguer e um copo de água me custaram o equivalente a R$ 38).

No momento de pegar a bebida, mais desorganização. Os torcedores só podiam escolher entre duas opções: água ou Pepsi, ambas no copo. Os vendedores tinham garrafas de dois litros e serviam a opção escolhida (nada de latinha ou copo de água fechados). Tudo em temperatura ambiente, ou seja, muito quente. Cabe ressaltar que Lima está no deserto peruano, considerado mais seco até do que o Saara, na África.

Para quem não queria pegar filas, havia vendedores nas arquibancadas. Porém, com eles, as opções de comida eram limitadas ao choripán e ao sanduíche de frango. Bebida, só Pepsi (imagino que até mais quente do que no bar).

Ao ver a quantidade de comida e bebida disponível nos bares, imaginei que não chegariam ao fim da partida (a Conmebol instalou ainda algumas lojinhas com produtos, que não chegaram sequer ao começo do jogo). Não deu outra. Antes mesmo do apito inicial, já ouvia relatos de falta de alimentos. Foi aí que surgiu a corrupção (não, ela não é exclusiva do Brasil). Na escassez, os vendedores começaram a oferecer as garrafas cheias. Um torcedor relatou ter pago o equivalente a R$ 148 (120 soles, a moeda peruana) em uma garrafa de dois litros de Pepsi. Ainda disse que houve briga para comprar.

Rola a bola, Flamengo campeão. Na hora da premiação, o letreiro exibiu, por alguns segundos, o rubro-negro como vice. Um erro até bobo (embora tenha provocado reações iradas na arquibancada), mas que foi a cereja do bolo de desorganização com a qual a Conmebol presenteou os torcedores.

Tenho absoluta certeza de que Flamengo e River cuidariam melhor da organização de um evento como esse. Se quer copiar a Europa no modelo de final única, a Conmebol precisa aprender com a Uefa a como fazer isso direito. Torço para que o resultado da organização seja diferente no Rio, em 2020. Em campo, espero ver o Flamengo campeão mais uma vez.

*O repórter do Correio assistiu ao jogo no estádio como torcedor

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