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Dois dias épicos de vencer, vencer, vencer

Torcida rubro-negra recebe os jogadores em berço esplêndido e festeja duas vezes: o título da Libertadores e o antecipado do nacional, com a vitória do Grêmio. Mas o que seria só festa terminou em tumulto

postado em 25/11/2019 04:06
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Diz o clichê que o Rio de Janeiro é futebol e carnaval, e o que se viu ontem, no Centro da cidade, foi exatamente a união disso. Centenas de milhares de rubro-negros se aglomeraram na Avenida Presidente Vargas para receber o elenco do Flamengo, campeão da Copa Libertadores e, também, campeão brasileiro antecipado por causa da vitória do Grêmio sobre o Palmeiras, por 2 x 1, em São Paulo. A equipe agora entra em campo quarta-feira para o jogo das faixas contra o Ceará, pela 35; rodada, às 21h30, no Maracanã.

Mas nem tudo foi festa. Vinte e três pessoas ficaram feridas num tumulto entre policiais militares e torcedores no fim da recepção. PMs jogavam bombas de gás e de efeito moral na multidão, e eram atacados com pedras, garrafas e outros objetos. Um guarda municipal foi atropelado por uma caminhonete da corporação que dava ré, mas se levantou rapidamente e não teve ferimentos graves ; foi atendido numa UPA da Tijuca. Os demais foram levados para o hospital Souza Aguiar, perto de onde aconteceu o tumulto.

Em entrevista à TV Globo, o porta-voz da PM, coronel Mauro Fliess, disse que os policiais que atuavam na região identificaram algumas pessoas como agressores e torcedores banidos de uma torcida organizada. Segundo a corporação, 1,3 mil homens estavam disponíveis para fazer a segurança no local. Alguns policiais, porém, sacaram armas letais como forma de intimidar os torcedores que os atacavam.

A confusão ocorreu perto da estátua de Zumbi dos Palmares, pelas 16h30. O trio elétrico com os campeões tinha feito uma curva antes do monumento, para tomar a direção da Zona Sul e, assim, encerrar o desfile iniciado cerca de quatro horas antes.

O anunciado era que o time iria até o memorial de Zumbi, na Cidade Nova, para acabar oficialmente com a celebração, o que não aconteceu. Pouco depois que o veículo foi embora, a PM jogou a primeira bomba na multidão, aparentemente para dispersá-la, mas isso não foi esclarecido. Houve correria e alguns torcedores atiraram objetos nos PMs.

O tumulto, então, piorou, mas após cerca de meia hora tinha se reduzido e logo acabou. Pelo menos um homem foi detido. Até a confusão, não havia registros de conflitos entre policiais e corredores, só registros de furtos de celulares.

Recepção de gala

O time chegou ao Rio de Janeiro no fim da manhã, menos de 24 horas após derrotar o argentino River Plate de forma épica em Lima, no Peru, e foi direto ao encontro do seu extasiado torcedor. O atacante Gabriel, autor de dois gols na decisão e artilheiro da Libertadores, foi de certa forma também o mestre de cerimônias extraoficial da festa rubro-negra. Mesmo com todo o elenco em cima de um trio elétrico, foi o atacante quem mais se dispôs a empunhar o microfone e inflamar a torcida, principalmente repetindo os cânticos comuns nas arquibancadas do Maracanã.

Sobrou também provocação para os rivais, mesmo de outros estados, como quando Gabigol falou que ;o Palmeiras não tem Mundial;. A fala fez o torcedor rubro-negro vibrar ; o time paulista é o principal rival do Flamengo no Brasileirão nestes últimos anos. Serviu ainda para antecipar o apoio da torcida ao Grêmio, horas depois. Pelo jeito, deu certo.

A festa pela conquista da Libertadores iniciou pouco antes das 13h, com três horas de atraso ao que estava previsto. O avião fretado que trouxe a delegação do Flamengo teve escolta de caças da Força Aérea Brasileira (FAB) ao chegar ao Rio, e pousou às 11h no aeroporto do Galeão. O elenco só deixou o local uma hora depois.

O trajeto entre o aeroporto e o centro da cidade foi rápido, graças a um forte esquema de segurança, algo que não se viu na partida para Lima. Motociclistas com camisas e bandeiras do Flamengo que seguiam logo atrás do comboio, porém, trataram de garantir que o percurso de 15 quilômetros fosse também de festa. À beira da via ou em cima de viadutos, centenas de pessoas gritavam pelo time.

No centro da cidade, milhares de torcedores aguardavam desde as primeiras horas da manhã. A comemoração atraiu flamenguistas de todas as idades, que entoaram gritos de guerra e canções que exaltavam a equipe.

A vontade de comemorar o título da América, 38 anos depois da primeira conquista, fez com que nem mesmo a dificuldade de caminhar detivesse o entusiasmo do aposentado Ciro Corrêa, de 71 anos. Ele acompanhou o desfile do time de coração com a ajuda de uma muleta. ;Vi o jogo ontem (sábado) à noite, não podia perder a festa. Vou andar o que eu puder, o que eu conseguir. Dá para festejar;, afirmou.

Após os festejos que entraram pela noite de sábado, o casal de estudantes Letícia Souza, de 18 anos, e Allan dos Santos, de 23 anos, fez questão de levantar cedo para continuar as comemorações pelo título. ;Vamos ficar até o fim (da festa), com certeza;, garantiu Allan. ;Pena que choveu ontem, mas fomos comemorar na chuva mesmo. Fiquei toda molhada. Hoje nem passei maquiagem para não borrar na chuva;, lembrou Letícia.

As irmãs Eliane Martins, de 59 anos, e Eni Nascimento, de 55 anos, também foram à Presidente Vargas. ;Foi uma festa maravilhosa, de muita alegria, tudo muito pacífico, muitas famílias por aqui;, comemorou a professora aposentada Eliane. ;A emoção foi enorme quando a taça passou no caminhão;, completou a torcedora.

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