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É pau, é pedra, é o fim do caminho

No Mineirão, Cruzeiro perde para o Palmeiras e cai para a Série B pela primeira vez. Torcida celeste transforma o estádio em praça de guerra. Polícia intervém com bombas e força para conter o tumulto

postado em 09/12/2019 04:35
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O dia 8 de dezembro vai ficar marcado como a data da maior decepção dos 98 anos de história do Cruzeiro. Ontem, o time mineiro foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro com a derrota por 2 x 0 para o Palmeiras, no Mineirão. Foi a primeira queda do clube. É o pior capítulo da história quase centenária ; vai completar 99 anos no dia 2 de janeiro.

Os torcedores se dividiram entre a tristeza e a revolta. Assentos das cadeiras do Mineirão foram quebrados e atirados em direção ao gramado. A polícia se dirigiu às arquibancadas para conter os atos de vandalismo. Sons de bombas eram ouvidos dentro do Estádio do Mineirão. Por conta do tumulto, o jogo foi encerrado antes dos 40 minutos do segundo tempo. Mesmo assim, torcedores corriam assustados com crianças no colo para fugir do tumulto.

O time mineiro chegou à última rodada com a obrigação de vencer o Palmeiras. Além disso, tinha de torcer por derrota do Ceará diante do Botafogo no Rio. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. No Estádio do Engenhão, o resultado foi o empate por 1 x 1.

Obviamente, a queda não foi definida ontem. O Cruzeiro caiu ao longo da temporada, a cada troca de treinador ; a sequência teve Mano Menezes, Rogério Ceni, Abel Braga e Adilson Batista ;, e também por conta da grave crise financeira e das irregularidades na venda de jogadores que ainda podem gerar sanções na Fifa. A queda se definiu por um processo lento ao longo de 2019.

Havia esperança da torcida no início do jogo. Na hora do Hino Nacional, os torcedores rezaram e foram acompanhados pelo técnico Adilson Batista. Os cruzeirenses tinham uma esperança miúda, que foi se diluindo no decorrer da partida em que o time mais uma vez criou e não mostrou força para evitar o rebaixamento.

Não foi um jogo de rigorosa obediência tática. Nem poderia ser. A bola queimava no pé dos cruzeirenses nas jogadas mais agudas. O time da casa também teve dificuldades para superar os desfalques. Dedé, Robinho e Rodriguinho estavam contundidos; Ariel Cabral, Edilson e Egídio, suspensos. Thiago Neves foi afastado do grupo.

Além do nervosismo e da ausência de peças importantes, o Cruzeiro teve de resolver uma questão tática delicada. A equipe não quis acelerar o jogo e atacar com muitos jogadores para não correr riscos de sofrer o contra-ataque ; sofrer um gol seria um golpe quase mortal. Foi esse drama que o time viveu aos 44 minutos, quando cruzou e o zagueiro Cacá afastou.

Melhor tecnicamente, o Palmeiras tomou a iniciativa em vários momentos. Teve mais tranquilidade para atacar. As chances, no entanto, foram raras. Nesse contexto, o jogo se arrastou morno. A grande alegria da torcida cruzeirense veio do Rio de Janeiro. Por volta dos 39 minutos, o Botafogo abriu o placar diante do Ceará, resultado fundamental para o time de Belo Horizonte. Cruzeirenses vibravam como se o gol tivesse saído no próprio Mineirão. Metade do caminho estava percorrido. Mas o time não conseguiu fazer a parte que lhe cabia.

No início do jogo, Adilson Batista optou por um ataque mais rápido com Ezequiel e Pedro Rocha, mas a bola não chegava. Ele trocou Ezequiel por Sassá para conseguir maior efetividade e passou a atacar mais. O castigo veio ligeiro, em um contra-ataque. Aos 12 minutos do segundo tempo, Dudu deu belo toque de calcanhar, Diogo Barbosa cruzou e Zé Rafael calou o Mineirão: 1 x 0.

O rebaixamento do Cruzeiro começava a se confirmar. Dez minutos depois, o silêncio se tornou absoluto: no jogo do Rio, o Ceará empatou. Com isso, a combinação de resultados necessária para se salvar estava duplamente comprometida. O segundo gol do Palmeiras, com cabeçada no ângulo de Dudu, acabou com qualquer chance de reação.

O clima ficou tenso com tumulto nas arquibancadas e a partida foi interrompida. Sons de bombas eram ouvidos dentro do estádio. Diante da tensão nas arquibancadas, o árbitro carioca Marcelo de Lima Henrique decidiu encerrar a partida antes dos 40 minutos.


;Foram temerárias as coisas que foram feitas. Em busca de ganhar um título, ser bicampeão brasileiro, não pensaram nas consequências. Isso tem um preço. Uma hora essa conta chega. E a conta chegou. Infelizmente, o time caiu e agora temos que pensar em recomeçar. Mas agora me coloco à disposição para ajudar. Quem vai decidir isso é a torcida;
Zezé Perrella, gestor de futebol do Cruzeiro

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