Correio Braziliense
postado em 11/01/2020 04:06
Fortaleza — Há quem diga que 13 dá azar. Esse foi o número da sorte do zagueiro Aldair na campanha do tetra na Copa do Mundo de 1994. O camisa 13 e Márcio Santos eram reservas de Ricardo Gomes e Ricardo Rocha. Sofriam para marcar a dupla de ataque formada por Bebeto e Romário nos coletivos comandados por Carlos Alberto Parreira. As contusões dos titulares deram a ele a vaga no time principal depois de uma temporada difícil na Roma, marcada por uma lesão no ligamento cruzado. Aldair comandou uma defesa segura nos Estados Unidos. O Brasil sofreu três gols em sete jogos: um da Suécia, na fase de grupos, e dois da Holanda nas quartas de final.
Aos 54 anos, o baiano de Ilhéus esteve em Fortaleza para o jogo de quinta-feira contra a Itália no reencontro batizado pela CBF de “Seleções de Lendas”, um duelo entre as seleções finalistas da Copa do Mundo de 1994. A entidade considera o evento a retomada da Seleção Master e pretende realizar uma turnê formada por jogadores históricos que vestiram a amarelinha.
Aldair é um dos astros da companhia liderada por Carlos Alberto Parreira. Com forma física invejável, ele relembra a campanha do tetra nesta entrevista ao Correio e faz uma revelação sobre Rodrigo Caio, do Flamengo. “Tentei levá-lo para a Roma, mas o diretor preferiu apostar em outros defensores”, lamenta.
Como é reencontrar a família do tetra, 26 anos depois, em Fortaleza?
Na verdade, essa turma sempre se encontra. Nós festejamos os 25 anos do tetra no ano passado. Estavam quase todos. Se não me engano, só não estavam o Romário e o Ronaldo. Em Fortaleza é uma festa diferente, porque reencontraremos a Itália, que foi a nossa adversária naquela final. Às vezes, a gente encontra esse pessoal também.
Qual é a maior lembrança daquela campanha do tetra?
São várias. Fora do campo, a união do grupo foi muito importante. Houve uma aliança forte. Hoje, somos todos amigos, depois de tantos anos. Isso é uma lembrança. Dentro do campo, o gol importante do Bebeto contra os Estados Unidos, do Romário na semifinal contra a Suécia, a emoção dos pênaltis, a defesa do Taffarel nos pênaltis (pegou a cobrança de Massaro), o lançamento para o Bebeto contra a Holanda.
A gente tem mania de exaltar a dupla Bebeto e Romário, mas, na defesa, você e o Márcio Santos fizeram uma Copa do Mundo espetacular…
A gente estava preparado. Trabalhamos muito forte no time reserva (os titulares antes da Copa eram Ricardo Gomes e Ricardo Rocha). Não era fácil enfrentar Bebeto e Romário nos coletivos, isso ajudou bastante. No meu caso, eu havia trabalhado para isso. Eu havia saído de uma contusão grave no ligamento cruzado. Joguei poucas partidas pela Roma, mas treinei muito e estava preparado fisicamente. Aproveitamos a oportunidade, o nosso entrosamento foi perfeito e muito importante para aquela conquista.
Vários tetracampeões estavam na eliminação precoce nas oitavas de final da Copa de 1990 contra a Argentina e foram muito criticados. Até que ponto aquilo fortaleceu o grupo de 1994?
Eu estava naquele grupo de 1990. Eu, Taffarel, Dunga, Mazinho, Ricardo Rocha, Romário, Bebeto… Tinha bastante gente. Nós tivemos muitos problemas em 1990 e, depois daquilo, houve uma mudança radical. Foi muito importante a atitude dos jogadores de 1994 para a frente, a mudança no sistema de premiação, o comportamento da CBF, a união. Nosso futebol se profissionalizou mais. É claro que, hoje, estamos há muito tempo sem conquistar o Mundial, mas acho que as coisas mudaram e espero que voltemos a ganhar em 2022.
Há quem diga que preferia ter visto a Seleção de 1982 campeã do que a de 1994, nos pênaltis, contra a Itália. Isso incomoda vocês?
No meu caso, não. Eu era fã dos caras de 1982. Era fã de todos eles. Admirava muito. Mas é melhor sempre ganhar do que não ganhar. Eles tinham um jogo muito bonito, mas o nosso era mais completo e eficiente em 1994. Mas tenho muita admiração por aquele time de 1982.
O que seus amigos da Itália dizem sobre a final de 1994?
Eu pensei que fosse ter problemas na Itália quando voltei, mas encontrei vários torcedores da Roma muito felizes por eu ser um campeão mundial. Os meus amigos italianos preferem falar sobre o jogo de 1982 do que o de 1994 (risos).
Você falou na Roma. Qual é o significado do clube na sua carreira?
Imenso. Foram 13 anos na Roma. Não é um clube com tradição de ganhar muitos títulos, são poucos, mas tive um carinho imenso e tenho um carinho imenso pela torcida (ganhou a Copa Itália 1990/1991, o Campeonato Italiano 2000/2001 e a Supercopa Itália 2001). É assim também com Cafu, Antônio Carlos, Paulo Sérgio. Eles gostam muito dos jogadores brasileiros. É claro que nos últimos dois anos saíram muitos, mas a gente espera que os brasileiros voltem.
O que mudou nos zagueiros?
O porte físico não mudou nada. Quando se trata do Brasil, vemos que não temos jogadores muito altos na defesa, mas eficientes na bola aérea. O Thiago Silva tem uma visão de jogo muito boa pelo alto, o Marquinhos é muito rápido. Rodrigo Caio é baixo, mas muito eficiente no alto, tem ótima impulsão, muito inteligente para encontrar os atalhos. Fez uma bela Olimpíada (na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016). Tentei levar o Rodrigo Caio para a Roma, mas não convenci o pessoal. Mesmo assim, estou feliz pela temporada que ele fez pelo Flamengo no ano passado. É um dos candidatos para estar sempre na Seleção principal.
Fale mais sobre essa tentativa de levar o Rodrigo Caio para a Roma.
Ele estava passando por uma crise no São Paulo, a Roma precisava de um zagueiro, mas o diretor preferiu apostar em outros defensores. Acho que a Roma perdeu muito com isso. Rodrigo Caio é um bom zagueiro, com boa saída de bola. Eles preferiram um argentino (Federico Fazio), que continua lá, mas nem joga muito.
Qual é a opinião do rubro-negro Aldair sobre a temporada passada do Flamengo?
Foi um grande ano. Ganhou praticamente tudo o que podia. Torço para que as conquistas continuem. Tenho lido sobre problemas na diretoria, acho que o clube pode ter problemas para renovar o contrato do treinador (termina no meio do ano), mas, se o Jorge Jesus não continuar, é lógico que contratarão outro grande treinador. O Flamengo tem um ótimo elenco.
O seu sucessor no Flamengo foi o Juan?
Nós viemos da mesma escola, somos crias da base do clube, jogamos bem na Roma, somos amigos e espero que ele continue ajudando o Flamengo a conquistar títulos e, principalmente, a apostar nas pratas da casa. O Flamengo contrata muito.
Vai muito a Ilhéus, sua cidade natal?
Estou sempre lá nas festas do fim do ano, com os meus irmãos, meu pai, faço pelada beneficente, mas moro em Roma. Quando estou no Brasil, a minha base é o Espírito Santo.
“A união do grupo foi muito importante. Houve uma aliança forte. Hoje, somos todos amigos, depois de tantos anos”
“Não era fácil enfrentar Bebeto e Romário nos coletivos, isso ajudou bastante. Eu havia saído de uma contusão grave no ligamento cruzado. Joguei poucas partidas pela Roma, mas treinei muito e estava preparado fisicamente”
“Tivemos muitos problemas em 1990 e depois daquilo houve uma mudança radical. Foi muito importante a atitude dos jogadores de 1994 para a frente, a mudança no sistema de premiação, o comportamento da CBF, a união. Nosso futebol se profissionalizou mais”
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