Superesportes

Combate à pirataria

Lançamento da Seleção Brasileira de Masters tenta colocar ordem num mercado clandestino que atraiu tetracampeões a evento político no Amazonas e "dividiu o grupo" após exibição polêmica na Chechênia

Marcos Paulo Lima - Enviado especial
postado em 13/01/2020 04:35
Rogério Caboclo:
Fortaleza —
O evento batizado pela CBF de “Seleções de Lendas 1994” na última quinta-feira, no Estádio Presidente Vargas, vai muito além da homenagem aos 25 anos do tetra no histórico reencontro entre os astros de Brasil e Itália — seleções finalistas da Copa dos Estados Unidos. O lançamento da Seleção Brasileira de Masters é uma tentativa de implodir a clandestinidade e regulamentar um produto rentável que andava fora da lei sendo explorada por um ditador da Chechênia e até em showmício de campanha eleitoral. Os jogadores chegaram a vestir o uniforme oficial e deixaram a entidade comandada à época por Ricardo Teixeira em situação complicada.

Não por acaso, o presidente da CBF, Rogério Caboclo, usou a palavra “oficial” ao se referir à tomada da Seleção de Masters, inaugurada nos anos 1980 pelo então locutor Luciano do Valle na Copa Pelé, realizada de 1987 a 1995. “Estamos resgatando o reconhecimento aos grandes jogadores da história do Brasil. Trazendo de volta a Seleção de Masters em termos oficiais. Está resgatada para sempre. É a primeira degustação com um grande evento, investimento. É mais um jogo para valorizar os jogadores”, disse o mandatário. Agora, os convites para exibições da velha guarda terão de passar pela sede na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Antes disso...

Em pleno carnaval de 2011, um grupo chamado de “Brazil Stars”, formado por veteranos que defenderam a Seleção Brasileira foi contratada para se exibir em Grozny contra um combinado local reforçado pelo alemão Lothar Matthaus e pelo holandês Ruud Gullit. Por sinal, os organizadores cometeram uma gafe ao anunciar que o time do penta estaria na cidade. Ronaldinho Gaúcho era o protagonista do cartaz. No entanto, os tetracampeões Romário, Bebeto, Dunga, Zinho, Zetti, Cafu, Raí e Ronaldão puxavam a fila de astros acompanhados por Dida, Denílson, Júnior Baiano, Djalminha, Sávio, Zé Maria, entre outros.

Organizada pelo cambista argelino Mohamadou Fofana, preso no Rio em um escândalo dos ingressos na Copa do Mundo de 2014, a apresentação na Chechênia virou bate-boca entre tetracampeões. A exibição favoreceu a imagem do presidente polêmico da região Ramzan Kadyrov, acusado por diferentes ONGs de não respeitar os direitos humanos.

Na época, Raí classificou a excursão ao Leste Europeu como “imbecilidade”. “Fiz parte de uma das coisas que mais condeno na vida e com a qual mais tenho cuidado: participei de um evento escancaradamente político, populista, em um contexto desconhecido, sem saber as possíveis consequências e intenções”, disparou, na época.

O camisa 10 na Copa de 1994 achava que havia sido convidado para uma exibição na Rússia. Quando soube que na verdade assinara contrato para jogar na Chechênia, buscou informações sobre a política local e se arrependeu. “Me senti mal por ter sido inconsequente, e não criterioso como sempre costumo ser. Quando percebi o tamanho do risco, após o jogo, minha vontade foi de esconder-me de tudo e todos, inclusive de mim mesmo. Foi uma pelada de quintal. Acompanharei de perto o processo político na Rússia/Chechênia; e estarei muito mais alerta a esses possíveis deslizes de avaliação. A experiência serviu, ao menos, como um importante aprendizado”, chiou.

Presente na exibição na Chechênia, Cafu discordou de Raí à época. “O futebol é capaz de parar guerras. Fomos lá para dar um pouquinho de paz para aquelas pessoas, para que elas pudessem ver os ídolos. Não tenho nada a reclamar do governo da Chechênia. Se o cara é ditador, se é gente boa, não é problema nosso”, acrescentou.

Questionada sobre a exibição da Seleção de Masters no Leste Europeu, a CBF chamou o combinado verde-amarelo de pirata à época. “É comum que, em jogos com ex-campeões, em excursões, sejam utilizados esses uniformes. Podem ser comprados em lojas por qualquer pessoa. Não há como controlar isso. A entidade teria que agir se o evento associasse o símbolo da CBF a algum produto. Não foi o caso. Isso que vocês chamam de ‘amistoso” passou pela Fifa? Teve o aval da Conmebol? Foi anunciado pelo site da CBF? Então não tem legitimidade”, rebateu Rodrigo Paixa, assessor de imprensa da CBF em 2011.

Política

Em outro episódio, parte da Seleção de 1994 alugou o prestígio a um político de Amazonas. O então prefeito Amazonino Mendes contratou a velha guarda para uma exibição na cidade em 2011. O elenco formado por Romário, Bebeto, Zetti, Márcio Santos, Ricardo Rocha, Aldair, Ronaldão, Dunga, Zinho, Paulo Sérgio e Viola contou com o reforço de Júnior Baiano e acertou os cachês. Estima-se que o Baixinho ganhou sozinho R$ 100 mil. Os jogadores chegaram a subir à tribuna de honra para cumprimentar Amazonino Mendes antes da partida.

Blindada contra a pirataria, a Seleção Brasileira de Masters da CBF tem um técnico permanente e um elo com os veteranos. Ricardo Rocha é o responsável por arregimentar os jogadores. Bom articulador, o ex-zagueiro fez gol de placa ao convencer Romário a participar do evento. O senador do Podemos foi o presidente da CPI do Futebol e se tornou um dos vilões da entidade máxima do futebol. “Estar aqui não tem relação de senador e CBF. Aqui está o ex-jogador de futebol, campeão do mundo, que fez história na seleção”, explicou o Baixinho. “Romário muda sempre que está em campo. Ele é o cara de um momento histórico da seleção. Não existe nenhuma troca. Ele sabe disso. Nunca pediria favor para ele e nem para ninguém”, disse o presidente Rogério Caboclo.

Mesmo assim, houve desfalques no evento. Cinco tetracampeões abriram mão do convite: o capitão do tetra Dunga, Müller, Raí, Leonardo, Zetti e Ronaldo “Fenômeno” não se apresentaram em Fortaleza.

*O repórter viajou a convite da CBF



  • Pentacampeões

    A próxima exibição de “gala” da Seleção de Masters pode reunir os pentacampeões contra a Alemanha, numa reedição da final de 2002. A decisão da Copa completará 20 anos em 2022. Antes disso, os veteranos podem se exibir em outros eventos contando com diferentes gerações convocadas pelo técnico Carlos Alberto Parreira.



  • COPINHA

    Depois de fazer história ao classificar dois times para a fase de mata-mata da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o Distrito Federal não tem mais representantes no torneio. Ontem, o Real Brasília abusou de perder gols e foi punido pela Chapecoense. O time catarinense derrotou o atual campeão candango da categoria por 1 x 0. No sábado, o Gama havia sido eliminado nos pênaltis pelo Tupi-MG. Com as eliminações, a melhor campanha de um time da cidade continua sendo a do CFZ, que alcançou as quartas de final na edição de 2011 da competição.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags