Superesportes

Desafio ecológico do Rali Dakar

Sob a pressão do público diante das exigências climáticas, a famosa competição no deserto investe em motores movidos a eletricidade e dá os primeiros passos rumo a um futuro verde da categoria

Correio Braziliense
postado em 14/01/2020 04:17

Arábia Saudita serve de cenário para a tradicional prova na temporada 2020
No momento em que carros e motos começam a ser adaptados às novas demandas da vida cotidiana, o Rali Dakar, muitas vezes criticado pela poluição que gera, tenta dar os primeiros passos para se tornar uma corrida mais ecológica.

Para Anne Lassman-Trappier, chefe de mobilidade da associação France Nature Environments (FNE), o Dakar é uma corrida estagnada. “Ainda interessa a algumas pessoas, mas não se move mais no sentido da história”, acrescentou.

Mas como um aceno para os novos tempos, a famosa corrida tenta mostrar vontade de se tornar “verde”, à imagem de outros esportes automobilísticos. “Quando um esporte mecânico é praticado, sabemos muito bem que não acompanhamos os tempos. Temos 350 veículos que rodam todos os dias e isso representa alguma coisa, mas estamos trabalhando”, garantiu.

Há vários anos, a corrida lançou um programa de compensação de carbono na Amazônia e também serve como laboratório para novos veículos. Em 2017, um carro 100% elétrico conseguiu terminar a corrida pela primeira vez após duas falhas nos anos anteriores. O veículo, patrocinado pela Acciona, gigante espanhola de energia renovável, terminou em 52º, a 82 horas, 31 minutos e 48 segundos do vencedor, Stéphane Peterhansel.

Este ano, para a 42ª edição realizada na Arábia Saudita, um caminhão híbrido estreia na competição. Após cinco etapas, a equipe Riwald estava na penúltima posição. “O sistema elétrico é carregado durante a condução. Por isso, não há necessidade de um gerador ou de um carregador”, explica o piloto holandês Gert Huzink. “Ele é simplesmente carregado pelo processo interno do caminhão”, acrescenta.

Paralelamente à corrida, um SUV elétrico (veículo utilitário esportivo) completa as etapas, com Guerlain Chicherit, que tem nove Dakars no currículo, ao volante. “Hoje enfrentamos realidades, o automobilismo deve avaliar”, diz o francês. “É preciso aceitar que as coisas mudam, viver de acordo com o tempo atual”, acrescenta.

Prova 100% elétrica?

Com uma bateria de 60kWh e dois motores elétricos, o Odyssey 21 atinge velocidade máxima de 200km/h e vai de 0 a 100km/h em 4,5 segundos, fazendo pouco barulho. “É muito surpreendente”, diz Chicherit. “Nos esportes automobilísticos, há um tipo de fantasma sobre o barulho, mas depois de ter corrido uma semana no deserto com um carro que não faz barulho, posso dizer que é muito melhor”, explica.

O experimento poderá se tornar um veículo de competição no próximo ano. O problema, no momento, é que uma bateria tem apenas 50km de autonomia. “Somos realistas. A ambição é poder atuar em 2023 ou 2024. Mas é preciso começar em 2021”, acrescentou. Um dia haverá um Dakar 100% elétrico? “Vai acontecer, tenho certeza”, diz Theophile Cousin, um engenheiro que dirige o projeto.

Para Lassman-Trappier, essas iniciativas, se forem generalizadas, podem dar sentido ao Dakar. “Se mudarmos completamente o tipo de corrida e favorecermos os veículos sem energia fóssil, competindo no deserto, vai fazer muito mais sentido”, disse.

A pergunta agora é se os organizadores ouviram a mensagem. Eles dizem que, “em um período de 10 anos”, haverá uma categoria de caminhões 100% híbridos e dão a entender que o carro elétrico “poderá criar uma nova categoria.” 

 

Prova 100% elétrica?

Com uma bateria de 60kWh e dois motores elétricos, o Odyssey 21 atinge velocidade máxima de 200km/h e vai de 0 a 100km/h em 4,5 segundos, fazendo pouco barulho. “É muito surpreendente”, diz Chicherit. “Nos esportes automobilísticos, há um tipo de fantasma sobre o barulho, mas depois de ter corrido uma semana no deserto com um carro que não faz barulho, posso dizer que é muito melhor”, explica.

O experimento poderá se tornar um veículo de competição no próximo ano. O problema, no momento, é que uma bateria tem apenas 50km de autonomia. “Somos realistas. A ambição é poder atuar em 2023 ou 2024. Mas é preciso começar em 2021”, acrescentou. Um dia haverá um Dakar 100% elétrico? “Vai acontecer, tenho certeza”, diz Theophile Cousin, um engenheiro que dirige o projeto.

Para Lassman-Trappier, essas iniciativas, se forem generalizadas, podem dar sentido ao Dakar. “Se mudarmos completamente o tipo de corrida e favorecermos os veículos sem energia fóssil, competindo no deserto, vai fazer muito mais sentido”, disse.

A pergunta agora é se os organizadores ouviram a mensagem. Eles dizem que, “em um período de 10 anos”, haverá uma categoria de caminhões 100% híbridos e dão a entender que o carro elétrico “poderá criar uma nova categoria.”

Etapa marcada por morte e comoção

Ainda em luto pela morte do português Paulo Gonçalves, ocorrida no domingo, o Rally Dakar retomou parcialmente as atividades ontem, pois motos e quadriciclos não participaram da oitava etapa, realizada em laço na cidade de Wadi Al-Dawasir, na Arábia Saudita, com um trecho especial de 474km. Entre os carros, o destaque do dia foi o espanhol Fernando Alonso, que obteve o melhor resultado na estreia na competição.

Ao lado do compatriota Marc Coma, multicampeão do Rally Dakar na categoria motos, o bicampeão mundial de Fórmula 1 obteve ontem a segunda colocação da etapa, atrás de Mathieu Serradori. O francês completou o trecho cronometrado em 3h48min23s, 4min04s melhor que Alonso. O argentino Orlando Terranova foi o terceiro colocado.

Postulantes ao título, o príncipe catariano Nasser Al-Attiyah acabou em 11º lugar, com o espanhol Carlos Sainz fechando a especial apenas em 15º, 19min15s atrás do vencedor. Apesar do tempo perdido neste oitavo dia de disputa, Sainz segue na liderança, agora com 6min40s de vantagem para Al-Attiyah. Terceiro, o francês Stéphane Peterhansel tem 13min09s de diferença para o ponteiro. Alonso ocupa a 13ª colocação na classificação geral.

Na categoria dos UTVs (carro parecido com uma “gaiola”), os brasileiros Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin venceram a oitava etapa do Rally Dakar. A dupla não foi a que completou os 474km com o melhor tempo, mas levou a vitória, pois Mitchell Gunthrie agora faz parte da Dakar Experience, uma fórmula que permite que um piloto que abandonou a disputa retorne à corrida apenas pela experiência da competição, não mais brigando pelo título.

Assim, Varela e Gugelmin ficaram com a vitória por uma diferença de 22 segundos para o espanhol Francisco López Contardo. Com o resultado, Casey Currie segue na liderança, agora com 15min40s à frente de Contardo. Varela e Gugelmin têm o 10º posto, 3h48min38s atrás do líder.

Nos caminhões, a equipe russa liderada por Andrey Karginov venceu a etapa e aumentou a liderança na disputa. Com o resultado, Karginov agora acumula 34h31min43s dentro do caminhão da Kamaz, 27min06s a menos que Anton Shibalov, o segundo na classificação geral.

Cancelamento

A ASO, empresa que promove e organiza o Rally Dakar, decidiu pelo cancelamento da oitava etapa para motos e quadriciclos por conta da trágica morte de Paulo Gonçalves. A organização da prova atendeu às solicitações das principais marcas da competição, como Honda, Husqvarna e KTM, em respeito à dor dos pilotos e equipes, consternados pela perda precoce do piloto português. “A morte de Paulo Gonçalves durante a sétima etapa, entre Riad e Wadi Al-Dawasir, provocou uma intensa onda de emoções no conjunto da caravana do Dakar, especialmente entre os pilotos que competem na categoria moto”, disse o comunicado emitido pela organização do Dakar. A indiana Hero, equipe do português, anunciou ontem que abandonou a competição.

82h31min48s
Tempo de diferença entre o vencedor da prova em 2017 e o estreante veículo elétrico da espanhola Acciona, dono da 52ª posição

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