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Chama o VAR

Quatro meses depois de Avaí 0 x 3 Flamengo, o jogo não acabou: federações do DF e de SC acusam operador de dever R$ 28 mil e apelam à Justiça. Empresário nega e aponta divergência na prestação de contas dos camarotes

Correio Braziliense
postado em 17/01/2020 04:16
Jogo realizado no feriado da Independência em Brasília pode virar campo de batalha no tapetão
Avaí e Flamengo se enfrentaram em 7 de setembro no Mané Garrincha, mas, quatro meses depois, o jogo realizado em Brasília não acabou para as federações do Distrito Federal (FFDF) e de Santa Catarina (FCF). Uma queda de braço por R$ 28 mil está prestes a parar no tapetão.

O Correio apurou que as duas entidades ameaçam entrar na Justiça contra os promotores da partida para receber valores pendentes relativos à renda bruta de R$ 3.780.672,90. Na semana passada, um advogado da FFDF notificou a Caelli Sports, operadora do duelo válido pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2019. A agência de publicidade com sede na capital alega que não deve nada e alega que o impasse diz respeito ao percentual relativo aos camarotes. As federações sustentam que não receberam e precisam do dinheiro para contabilizar no balanço financeiro do exercício de 2019. A firma garante que está tudo quitado, mas optou por abrir diálogo na tentativa de chegar ao consenso.

A versão de 2019 do Regulamento Geral das Competições da CBF determina que cada federação envolvida na partida tem direito a receber 5% da renda bruta. Como Brasília abrigou o jogo do Avaí, Distrito Federal e Santa Catarina embolsariam R$ 189.033,64 cada um. O Correio apurou que a FFDF recebeu R$ 182 mil e aguarda, há quatro meses, pelo depósito de mais R$ 17 mil. A FSC espera a transferência bancária de R$ 11 mil.

“Esperamos o pagamento há quatro meses. Dialogamos, ouvimos várias promessas de que receberíamos, mas até agora, nada. Decidi notificar judicialmente a operadora do jogo por um motivo simples: as federações têm que prestar contas no balanço. Como vou explicar essa diferença?”, reclama o presidente da FFDF, Daniel Vasconcelos.

Consultado pelo Correio, o mandatário da FCF, Rubens Angelotti, admitiu a pendência. “Nós e o Distrito Federal estamos aguardando há quatro meses por um depósito que tem de ser quitado depois da partida. É o que determina o protocolo da CBF”, ressalta.

O Correio apurou que a operadora de Avaí 0 x 3 Flamengo é a Trust Representantes e Associados Eireli — cujo nome fantasia é Caeli Sports. O capital social informado pela agência de publicidade é de R$ 100 mil. O contrato com as federações é assinado pelo empresário Romero Pimentel, ex-percussionista da banda candanga de pagode Clima de Montanha.

Em entrevista ao Correio, Romero negou a dívida. “Para mim, está tudo certo. Na verdade, há uma discordância quanto aos valores dos camarotes. As federações acham que têm direito ao percentual de venda desse espaço, mas não houve venda nesses casos. Como vou lançar no borderô algo que não foi comercializado? As federações pediram as cortesias e nós demos os ingressos”, defende-se o empresário. Romero alega que o Avaí, mandante da partida, deveria ter feito uma errata e deixado isso esclarecido no boletim financeiro.

O borderô informa que foram comercializados 24 ingressos de camarote 1  (inteira) no valor de R$ 240; 294 bilhetes camarote 2 (meia) a R$ 120; e 858 tíquetes de camarote (inteira) a R$ 300. O valor total arrecadado informado no documento é R$ 257.400. Romero Pimentel diz que não recebeu notificação judicial e abriu diálogo com a federação. Uma das propostas apresentadas pela FFDF para evitar o tapetão é o parcelamento da dívida.

Contatado pelo Correio, o presidente do Avaí considera que as federações não têm direito ao percentual dos camarotes e decidiu romper relações com operadores do DF. “Para o Avaí, está tudo certo. Recebemos a nossa parte e as federações, a delas. Agora, vou dizer uma coisa: no que depender de mim, jamais farei jogos novamente no Mané Garrincha. Se eu tiver de escolher entre Brasília e qualquer outra praça, ficarei com a outra praça. Eu nunca tive tanto transtorno quanto nesse jogo que mandamos aí”, esbravejou Francisco José Battistotti. O dirigente teria ficado irritado com a pressão das federações pelo repasse da diferença.

Conselho Técnico

Diretor do departamento de competições da CBF, Manoel Flores disse à reportagem que não tinha conhecimento da “guerra fiscal” entre as federações e os operadores da partida e apuraria o caso com os presidentes das federações envolvidas. A entidade realizará em fevereiro o Conselho Técnico da Série A 2020. A contestada venda do mando de jogo entrará novamente em pauta. Uma votação entre os 20 times definirá pela manutenção ou veto. O tema divide os cartolas. Em 2018, a maioria escolheu suspender. No ano passado, liberar.

Operação Episkiros acusou "maquiagem" em borderôs

O impasse financeiro relativo ao duelo de setembro entre Avaí e Flamengo acontece oito meses depois de a Operação Episkiros (jogo enganoso) da Polícia Civil do DF prender funcionários da operadora Roni7, do ex-jogador de Fluminense, Flamengo e Seleção, Ronielton Pereira dos Santos, o Roni, durante o jogo entre Botafogo e Palmeiras, no Mané Garrincha, pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro do ano passado.

A Polícia Civil investigou por dois anos ações de um grupo criminoso especializado em fraudar o erário na realização de jogos de futebol. Havia suspeitas de inclusão de dados falsos nos boletins financeiros das partidas. O grupo informava um valor de arrecadação menor para pagar menos impostos e um aluguel menor pelo Mané Garrincha. Na época, a prisão envolveu 150 agentes e foi feita em um dos camarotes do estádio.

Na época, foram cumpridos sete mandados de prisão temporária e 19 mandados de busca e apreensão. A investigação apontou indícios de crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, estelionato e sonegação fiscal.


R$ 3.780.672,90
Renda bruta de Avaí 0 x 3 Flamengo. Cada federação tem direito a 5% do montante, ou seja, R$ 189.033,64


"Há uma discordância quanto aos valores dos camarotes. As federações acham que têm direito ao percentual de venda desse espaço, mas não houve venda. Como vou lançar no borderô algo que não foi comercializado? As federações pediram as cortesias e nós demos"
Romero Pimentel, empresário


"No que depender de mim, jamais farei jogos novamente no Mané Garrincha. Se eu tiver de escolher entre Brasília e qualquer outra praça, ficarei com a outra praça. Eu nunca tive tanto transtorno quanto nesse jogo que mandamos aí"

Francisco José Battistotti, presidente do Avaí


"Esperamos pelo pagamento da diferença há quatro meses. Decidimos notificar judicialmente a operadora do jogo por um motivo simples: as federações têm de prestar contas no balanço financeiro. Como vou explicar essa diferença?"

Daniel Vasconcelos, presidente da FFDF


"Nós e o Distrito Federal estamos aguardando há quatro meses por um depósito que tem de ser quitado depois da partida. É o que determina o protocolo da CBF"

Rubens Angelotti,  presidente da FCF


Supercopa é da CBF

Marcada para 16 de fevereiro, às 11h, no Mané Garrincha, a decisão em jogo único entre os campeões do Brasileirão (Flamengo) e da Copa do Brasil (Athletico-PR) não foi vendida a empresários. O jogo será operado pela CBF e parceiros comerciais da entidade. Além de disputarem o primeiro título nacional de 2020, os dois clubes dividirão uma premiação total de R$ 7 milhões, sendo R$ 5 milhões para o campeão e R$ 2 milhões para o vice.

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