Superesportes

O último voo da lenda

A obsessão pela vitória de Kobe Bryant, o astro que decolou cedo na vida para se tornar um dos melhores jogadores de basquete da história e foi vítima do acidente de helicóptero que também matou a filha Gianna - herdeira de seu legado

Correio Braziliense
postado em 27/01/2020 04:35
''Querido basquete, te dei tudo, porque é o que fazemos quando algo te faz sentir tão vivo''

Kobe Bryant, 
em um poema ao se despedir das quadras

- 23/8/1978      
- 26/1/2020
Seus ídolos eram Magic Johnson e Michael Jordan, aos quais se juntou como uma lenda do basquete. Em 20 temporadas com a camisa do Los Angeles Lakers, Kobe Bryant, que morreu ontem, aos 41 anos, vítima de um acidente de helicóptero às 9h47 (14h47 de Brasília), em Calabasas, condado de Los Angeles, na Calilfórnia, em companhia de uma das quatro filhas — a também jogadora Gianna, de 13 anos —, e de outros seis passageiros a bordo e do piloto, tinha apenas uma obsessão: ganhar. Uma obsessão que seus companheiros, técnicos e até os fãs nem sempre conseguiram compreender. Kobe se tornou uma estrela mundial do basquete. Contudo, quando criança, ele se via como “a vergonha da família”.

Como muitos “filhos de”, Kobe sofreu na infância com comparações com seu pai, Joe Bryant. Segundo a lenda, o patriarca tirou inspiração para dar nome ao filho de um cardápio de um restaurante japonês. Joe jogou oito temporadas na NBA entre 1975 e 1983, antes de ganhar a vida como jogador na Itália.

Da infância no País da Bota, Kobe sempre cultivou uma paixão pelo futebol, um sólido domínio do italiano, assim como a técnica e fundamentos táticos poucos comuns na NBA.

Mas, em sua volta aos Estados Unidos, em 1992, o magro adolescente, que sempre vestia a camisa do ídolo Magic Johnson, encontrou muita dificuldade para ter a oportunidade de jogar alguns minutos durante o ensino médio, quando defendia a escola de Lower Merion, da Filadélfia.

Depois de quatro anos de trabalho árduo, Kobe se tornou uma das maiores promessas do basquete nos Estados Unidos. Em vez de optar por aprimorar seu jogo na universidade, seguiu diretamente para a NBA: no Draft de 1996, foi o 13º jogador escolhido para atuar pelo Charlotte Hornets, que o transferiu para o Lakers.

Workaholic

À época, a NBA e o mundo do basquete viviam em plena era de domínio de Michael Jordan, a estrela do Chicago Bulls que se tornou o maior jogador da história do esporte e outro grande ídolo de Kobe, que adotou suas expressões faciais e seu estilo de jogo. “Sua obsessão com Michael era óbvia”, declarou Phil Jackson, técnico que venceu seis títulos da NBA com Jordan em Chicago, antes de erguer outros cinco troféus com Kobe nos Lakers.

Enquanto Jordan vivia os últimos anos de seu reinado, Kobe Bryant começava a escrever seu nome no esporte por seu estilo espetacular, sua atitude, e até sua arrogância, se tornando o sucessor natural do “Rei”.

A era de Kobe Bryant estava a ponto de começar: ao lado do pivô Shaquille O’Neal, dominou a NBA durante três temporadas consecutivas, de 2000 a 2002. Kobe era um viciado em trabalho: longas sessões de arremessos depois dos treinos oficiais, análises das estratégias e filosofias de jogo de técnicos americanos e europeus, além de um enorme foco na preparação física.

Poema

Para muitos, Kobe era egocêntrico, algo que lhe valeu brigas com diversos companheiros de equipe, inclusive ‘Shaq’, que acabou deixando o Lakers no auge para jogar no Miami Heat em 2004.

Apelidado de “Mamba Negra”, Kobe viveu em 2003 o período mais delicado de sua carreira e que deixou uma mancha em sua imagem, após ser acusado de estupro pela funcionária de um hotel de luxo no Colorado, onde o jogador se recuperava de uma artroscopia no joelho.

No tribunal, admitiu ter tido relações sexuais com a jovem de 19 anos, mas afirmou que tudo foi consensual. No fim, Kobe entrou em acordo com a suposta vítima e o julgamento foi encerrado.

Convertido no jogador de basquete mais famoso e mais bem pago do planeta, Kobe Bryant deixou seu nome para sempre na história do esporte com seus 81 pontos marcados em um jogo contra o Toronto, em 2006, seus cinco títulos da NBA, suas duas medalhas olímpicas, suas 18 participações no Jogo das Estrelas, seus mais de 33.000 pontos marcados e outros diversos recordes.

O fim de seu reinado, porém, foi doloroso devido às repetidas lesões graves. Kobe não conseguia mais fazer a diferença em quadra para ajudar o Lakers a voltar ao caminho das vitórias. Até que, em 29 de novembro de 2015, num poema dedicado a seu “Querido basquete”, reconheceu que seu “corpo sabe que chegou o momento de dizer adeus”: “Te dei tudo, porque é o que fazemos quando algo te faz sentir tão vivo”.

Legado

Informações da imprensa norte-americana dão conta de que Kobe Bryant levava uma das quatro filhas, Gianna, para um treino no momento do acidente. A adolescente de 13 anos tinha personalidade. Perguntado uma vez  em um programa de tevê se a filha algum dia poderia jogar na WNBA, a liga norte-americana feminina de basquete, ele disse que sim, e revelou que as pessoas constantemente lhe diziam que deveria tentar ter um filho para que o rapaz continuasse o que ele começou no basquete. Ao ouvir a história, Gianna interrompeu e falou: “Ei, quem vai continuar sou eu. Não precisa de um menino. É comigo!”. Kobe e a filha morreram juntos.


5
Número de títulos da NBA conquistados pelo astro


“Ei, quem vai continuar (seu legado)
sou eu. Não precisa 
de um menino. É comigo”
Gianna,
filha de Kobe Bryant, ao saber que o pai era
pressionado a ter um menino depois de ter quatro meninas


Fatos, feitos e fotos


Nome: Kobe
Sobrenome: Bryant
Nascimento: 23/8/1978
Local: Filadélfia
Altura: 1,98m
Posição: ala-armador
Time: Los Angeles Lakers (desde 1996)

» Era filho de Joe “Jelly Bean” Bryant, que jogou oito temporadas na NBA.

» Passou oito anos de sua infância com a família na Itália.

» Bryant se casou com Vanessa Laine em 18 de abril de 2001. A filha Natalia nasceu em janeiro de 2003; em seguida, Gianna, em maio de 2006; Bianka, em dezembro de 2016; e Capri, em junho de 2019.

» Ganhou cinco títulos da NBA: 2000, 2001, 2002, 2009, 2010.

» Foi nomeado Jogador Mais Valioso das finais da NBA ao levar os Lakers a títulos em 2009 e 2010.

» Foi nomeado Jogador Mais Valioso da temporada regular da NBA na temporada 2007-08 e Jogador Mais Valioso quatro vezes — recorde do All-Star Game da NBA (Jogo das Estrelas), em 2002, 2007, 2009 e 2011.

» Recebeu medalhas de ouro olímpicas pelos EUA nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008 e Londres-2012.
» Em 22 de janeiro de 2006, marcou 81 pontos na vitória dos Lakers por 122 x 104 sobre o Toronto, a segunda maior quantidade em uma partida na história da NBA.

» Em 2018, seu filme Caro Basquete ganhou o Oscar de melhor curta-metragem de animação.

» Foi selecionado como a 13ª opção geral pelos Charlotte Hornets no draft da NBA de 1996, tornando-se o jogador número 27 a entrar na NBA diretamente do ensino médio.

» Foi adquirido pelos Lakers pouco depois do draft.

» Nomeado All-Star da NBA 18 vezes (em 1998 e entre 2000 e 2016).

» Duas vezes foi campeão de pontuação da NBA, em 2006 e 2007.

» Vencedor do concurso NBA Slam Dunk em 1997.
» Teve os dois números de sua camiseta, 8 e 24, aposentados pelos Lakers, movimento sem precedentes.

» Marcou 33.643 pontos, pegou 7.047 rebotes e deu 6.306 assistências em 1.346 jogos da NBA.

» Anotou 60 pontos na última partida da NBA, em 13 de abril de 2016, uma vitória de 101 x 96 dos Lakers sobre o Utah, tornando-se o jogador mais velho da história da NBA a marcar 60 pontos, com 37 anos e 234 dias.
 
 
 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags